A vida do pintor pós-impressionista Paul Gauguin é marcada por uma ruptura na busca do que se poderia chamar do paraíso perdido.
Antes, algumas fotos da época mostram um jovem bem vestido e aprumado, era a época do trader Gauguin, funcionário da Bolsa de Paris, bem casado com uma dinamarquesa, da qual tivera cinco filhos.
Depois, é um aventureiro, vivendo dificilmente de seus quadros, na Bretanha, depois na Martinica e, finalmente em Taiti e nas ilhas Marquesas, no Pacífico, num retorno à vida simples e a uma espécie de mundo edênico.
Gauguin não tinha o mínimo interesse pela pintura até os trinta anos, achava mesmo os pintores um tanto afeminados. O encontro com a pintura ocorreu ao ver o quadro Olympia, de Manet. Um amigo começou a lhe ensinar como pintar e Gauguin se exercia, escondido da esposa.
Uma crise financeira , com repercussão na Bolsa, deixou Gauguin desempregado, foi quando começou a pintar e a tentar vender seus quadros. Nada fácil, chegou a ir trabalhar pesado na abertura do Canal do Panamá. De lá foi para a Martinica.
Do lado da mãe, tinha um pouco de sangue peruano, vivera mesmo parte da infância no Peru. Isso acabou por despertar-lhe a atração pela vida diferente, longe da civilização. Foi um encontro na Exposição Universal de Paris que o levou a viajar para Taiti, no Pacífico, deixando a família para trás, onde encontrou a vida livre para nela se integrar e retratá-la nos seus quadros. Antes, estivera em Arles, no sul da França, com seu amigo Van Gogh, de quem, se diz, teria arrancado com um sabre a orelha esquerda, embora a versão oficial fale em automutilação do próprio Van Gogh.
Hoje, Gauguin seria, sem dúvida, um ambientalista avesso à globalização, atraído pelas tentações do paraíso das ilhas do Pacífico e por suas mulheres naturais, sem sujeições ao moralismo cristão.
É verdade que sua opção causou restrições econômicas, doenças e alguns sofrimentos, porém possuía um valor inestimável em termos de vida libertária. Tanto que o cantor belga Jacques Brel quis também provar os frutos proibidos desse Eden, estando enterrado ao lado da tumba de Gauguin.
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, recente Nobel de literatura, escreveu um livro sobre Gauguin e sua avó militante feminista Flora Tristan, que viveram época diferentes – cujo título em português é O Paraíso na Outra Esquina.
O nosso Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, tem um quadro de Gauguin, Pobre Pescador, pintado à beira do Pacífico.
Cerca de 50 quadros de Paul Gauguin estão expostos no museu da Fundação Beyeler, na cidade suíça de Basiléia. Quem está na Europa não pode perder, mas o tempo é curto, essa exposição termina dia 28.
Rui Martins, jornalista, escritor, correspondente em Genebra.