Considerado um percurso difícil e muito técnico, os 40 quilômetros de ciclismo estão causando dores de cabeça aos triatletas brasileiros que disputarão os Jogos Olímpicos de Atenas.
As distâncias são as mesmas para todas as provas olímpicas — 1.500 metros de natação, 40 quilômetros de ciclismo e 10 quilômetros de corrida. Mas as cinco voltas de bicicleta que os atletas darão no circuito com partes íngremes deve ser um divisor de águas durante a prova.
Para isso, Carla Moreno, 12a. do ranking mundial, já começa a preparar sua estratégia.
“Tem que sair da água bem, ou então contar com a sorte. O técnico me disse que o percurso é bem acidentado, com duas subidas no ciclismo, uma íngreme e outra um pouco mais leve. Quanto mais estiver na frente melhor porque atrás o esforço é maior para acompanhar as pessoas”, afirmou Carla à Reuters.
Apesar da dificuldade, Paulo Miyasiro, que vai disputar as Olimpíadas pela primeira vez, está confiante depois de realizar treinos específicos.
“Ultimamente tenho estado sempre no pelotão da frente. Treinei principalmente o ciclismo de subida. Se eu terminar bem essa parte, vou estar com as pernas mais fortes para a corrida. O ciclismo é determinante para essa prova”, disse ele.
O triatlo estreou em Olimpíadas em Sydney, em 2000, e neste ano o Brasil levará carga máxima para a competição. O país é um dos seis que terão uma equipe completa de seis triatletas na Olimpíada de Atenas — os outros são Alemanha, Austrália, Espanha, Inglaterra e Estados Unidos.
O número de vagas a que um país tem direito é definido de acordo com a classificação de seus atletas no ranking da União Internacional de Triatlo. Carla, Mariana Ohata (14a. no ranking) e Sandra Soldan (15a.) vão reeditar o time que competiu em Sydney. Miyasiro (47o.) terá a companhia de Leandro Macedo (22o.) e Juraci Moreira (26o.), que também competiram há quatro anos.
EQUIPES NIVELADAS
Para Lauter Nogueira, diretor técnico da Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), as duas equipes estão bastante niveladas, mas as mulheres levam uma pequena vantagem.
“As mulheres têm mais chance, estão melhores no ranking que os homens e não saem tão defasadas da água quanto eles”, explicou ele.
Devido a esse equilíbrio, a CBTri descarta o trabalho de equipe em Atenas, em que dois atletas dariam suporte para o terceiro, com melhores condições, conquistar a medalha.
Como no ciclismo comum, os competidores podem ganhar enorme vantagem se pedalarem no vácuo dos seus adversários, e por isso a prática foi originalmente considerada ilegal. Mas a dificuldade em fiscalizar o trajeto em ruas lotadas acabou fazendo com que esse tipo de “carona” fosse aceito em eventos de elite.
“Os 3 homens e as 3 mulheres estão nivelados, e ninguém vai abrir mão. Se tivesse um entre os 10 melhores e outro abaixo, aí poderíamos ter pensado há dois anos em fazer isso. A estratégia tem que ser gerada a longo prazo”, disse Nogueira, lembrando que na equipe da Espanha, em que Ivan Rana é favorecido, esse trabalho é feito já há alguns anos.
Segundo Carla e Miyasiro, houve conversas com um patrocinador para que isso fosse feito em Atenas, mas nada foi definido.
“Isso foi conversado e surgiu a idéia do trabalho em equipe, e eu a Sandra e Mariana chegamos num bom senso. Ninguém quer tirar o tapete de ninguém, e todo mundo quer ganhar. Se eu estou em último no pelotão e a Sandra muito forte, ela vai me esperar?”, diz Carla.
Entretanto, eles não descartam a ajuda dependendo das condições de cada um durante a prova.
“Esse é um esporte individual e cada um vai fazer o seu melhor. Mas dependendo das circunstâncias do momento vou ajudar a que estiver melhor. Se eu não estiver bem naquele dia vou ajudar outra brasileira”, diz ela.