Mais de 160 mil já assinaram pedido online contra a proposta de criar uma posição oficial de primeira-dama para Brigitte Macron. Petição ocorre em momento de forte queda de popularidade do presidente francês
Por Redação, com DW – de Paris:
Mais de 160 mil pessoas haviam assinado uma petição online contra a proposta do presidente francês, Emmanuel Macron, de criar um cargo formal para sua esposa Brigitte, como primeira-dama do país.
A petição iniciada há duas semanas, que pode ser acessada no site change.org, é no sentido de que não se coloque dinheiro público à disposição da primeira-dama. A exigência se dirige ao presidente e ao primeiro-ministro Édouard Philippe.
Na campanha eleitoral que levou a sua vitória nas presidenciais francesas de maio, Macron anunciou a intenção de criar um “cargo público” para a esposa, a fim de deixar claro seu status, acabando com o limbo oficial das predecessoras de Brigitte Macron, e “abandonar uma hipocrisia francesa”, embora “sem ser remunerada pelo contribuinte”.
O cumprimento dos planos de Macron também incomodou parte da classe política, num momento em que o governo tenta cortar gastos no orçamento. No início de agosto, Paris lançou um projeto de lei que proíbe ministros e parlamentares de contratarem parentes seus como assistentes.
– Façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço – ironizou recentemente sobre o assunto o deputado do partido liberal-conservador Os Republicanos, Thierry Mariani.
Moralização de gastos públicos
Opositores da esquerda radical também já protestaram no Parlamento francês contra o plano de Emmanuel Macron. Antes, eles haviam defendido em vão uma emenda vetando que meios financeiros sejam destinados a familiares do presidente, de membros do governo ou de parlamentares.
Segundo o texto da petição, “Brigitte Macron já tem uma equipe com dois ou três assistentes; assim como dois secretários e dois agentes de segurança. É suficiente”. Thierry Paul Valette, que iniciou a convocação online e se descreve como pintor, autor e “cidadão engajado”. Diz não haver “nenhuma razão” para um orçamento próprio, proveniente de fundos públicos, para a esposa do chefe de Estado.
Ao mesmo tempo, Valette afirma criticar “ferozmente todos os ataques sexistas contra Brigitte Macron”; numa alusão a comentários recorrentes sobre o fato de elea ser 25 anos mais velha que o marido, e não questionar, “absolutamente, suas competências”. No entanto, “num período de moralização da vida política francesa, não podemos apoiar a iniciativa de um estatuto específico” para a ex-professora de teatro.
As funções da primeira-dama não serão definidas antes de setembro. Quando se inicia o novo ano político na França. Mas entre suas prioridades figuram a escolarização de crianças hospitalizadas e as dificuldades enfrentadas por portadores de deficiência.
Queda de popularidade
A petição no change.org chega num momento em que Emmanuel Macron registra uma queda de popularidade quase inédita na França. Segundo sondagem do instituto internacional YouGov, publicada em 3 de agosto. Numa enquete realizada entre 26 e 27 de julho com 1.003 cidadãos maiores de 18 anos. Apenas 36% aprovaram sua atuação à frente do governo. Enquanto 49% a consideraram negativa. Isso representa um incremento de 13 pontos percentuais em relação a uma pesquisa do instituto Ifop de meados de julho. Portanto antes de anúncios polêmicos como o corte de cinco euros por mês no auxílio-moradia.
Para o politólogo Jérôme Fourquet, do Ifop, a queda é sinal de um profundo hiato entre a comunicação do presidente e a “política de austeridade” conduzida pelo Executivo francês.
Ao descontentamento de várias camadas da população, como os funcionários públicos e aposentados, somam-se as críticas. “Especialmente no eleitorado de esquerda”; sobre a recepção com grandes pompas dos chefes de Estado Donald Trump e Vladimir Putin em Paris.
– Numa parte da opinião pública, começa a se instalar o sentimento de estar lidando com um grande sedutor e um comunicador sem igual. Mas cuja comunicação, hiper-hollywoodiana e meticulosa, é um instrumento a serviço de uma política de austeridade – analisou Fourquet.