Petrobras alinhava negócio com chineses lastreado em produtos

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Publicado Quinta, 19 de Abril de 2018 às 13:00, por: CdB

 

O investimento chinês em um obra da Petrobras envolvida anteriormente no maior escândalo de corrupção do Brasil também poderá ser pago com participações da petroleira brasileira em blocos da Bacia de Campos

Por Redação, com Reuters - do Rio de Janeiro

 

A Petrobras negocia com a chinesa CNPC uma parceria que prevê a troca de petróleo da Bacia de Campos por aportes da empresa da China para a conclusão de obra em refinaria no Rio de Janeiro, que demandaria ao menos cerca de US$ 3 bilhões para ser finalizada, disseram duas fontes com conhecimento do assunto.

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A obra da Petrobras, no Comperj, deveria ficar pronta em 2011 com cerca de 45 quilômetros quadrados

O investimento chinês em um obra da Petrobras envolvida anteriormente no maior escândalo de corrupção do Brasil também poderá ser pago com participações da petroleira brasileira em blocos da Bacia de Campos, historicamente a mais importante região produtora de petróleo do país, mas que vem necessitando de investimentos que elevem o fator de recuperação dos campos maduros.

Um eventual investimento da CNPC poderia ajudar a estatal brasileira a finalizar a refinaria do polêmico projeto do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), alvo do escândalo de corrupção investigado pela Lava Jato, que levou ao cancelamento da unidade petroquímica idealizada inicialmente com a Braskem, controlada pela Petrobras e Odebrecht.

Comperj

Se mantido o projeto original do trem 1 da refinaria, para cerca de 165 mil barris/dia, a nova unidade poderia ajudar o país a reduzir a necessidade de importações de combustíveis, que atingiram recordes no ano passado. Ao mesmo tempo, a negociação salienta o forte interesse dos chineses no setor no Brasil, que envolve investimentos em produção e acordos com a própria Petrobras de financiamentos garantidos com suprimento de petróleo.

— Vai sair o negócio, mas como o nome já diz é bem complexo. Mas será uma solução integrada — disse uma fonte próxima das tratativas.

Não há definições nas negociações sobre qual seria a fatia da companhia da China no Comperj, onde a Petrobras investiu 13,5 bilhões de dólares, segundo declarações anteriores da empresa, que disse também que não terminaria a refinaria no local sem um parceiro.

— O que está em pauta é o seguinte: ou a Petrobras vende fatias de blocos da Bacia de Campos para os chineses ou negocia com eles o compromisso de fazer os investimentos necessários na Bacia de Campos, associando isso ao Comperj. O chinês vai pegar o petróleo dele e refinar no Comperj — disse a fonte, na condição de anonimato.

Estatal

A Petrobras já realizou, até agora, baixas em valores do Comperj de mais de R$ 6,5 bilhões, desde que se aprofundaram as investigações. Estas apontaram superfaturamento de contratos; cujos valores eram utilizados para pagamentos ilegais a políticos e ex-executivos da estatal.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse no ano passado que a Petrobras negociava investimentos na refinaria com a CNPC, sócia da Petrobras e outras companhias como Shell e Total na reserva de Libra, no pré-sal da Bacia de Santos.

Depois, em fevereiro, Parente evitou confirmar o nome da empresa chinesa ao comentar o assunto.

Contrato

As conversas com um grupo chinês se intensificaram, por conseguinte, e um desfecho pode sair nas próximas semanas. A informação é de uma segunda fonte.

— Está muito bem encaminhado e deve sair em breve — disse à agência uma fonte do governo do Estado, que tem acompanhado ativamente as negociações.

Procurada, a Petrobras não comentou o assunto.

Empresa brasileira

Paralelamente às negociações com a CNPC; a Petrobras anunciou ao final de março um contrato de aproximadamente R$ 1,95 bilhão para a construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN). Esta, por sua vez, terá lugar na área do Comperj, em Itaboraí (RJ). O contrato, todavia, foi assinado com a Sociedade de Propósito Específico (SPE); formada pela empresa chinesa Shandong Kerui Petroleum e pela brasileira Método Potencial.

As obras começam ainda no primeiro semestre deste ano. E a UPGN, portanto, tem previsão de operar a partir do segundo semestre de 2020.

De acordo com a primeira fonte, o Comperj foi desenhado para um óleo mais pesado. A exemplo daquele produzido na Bacia de Campos. O produto, recentemente, despertou interesse da norte-americana Exxon Mobil; pela possibilidade de pré-sal na região. Durante leilão, em março, consórcios integrados por Petrobras e a companhia dos EUA arremataram áreas em Campos. Na ocasião, por R$ 6,78 bilhões.

Refino

A idéia é “abrir” a Bacia de Campos para investimentos chineses, "desde que se comprometam a finalizar a obra do complexo"; destacou a fonte.

Segundo a segunda fonte, os cálculos estão sendo feitos entre brasileiros e chineses para fechar a conta em torno dessa associação entre a produção do óleo em Campos. O investimento necessário para concluir a obra e o tempo de uso da unidade de refino.

A estimativa da fonte próxima às negociações é que mais de 60% da obra do Comperj já foi realizada. Seriam necessários mais US$ 3 bilhões "para a conclusão do empreendimento", acrescentou.

— Não está definido se o sócio põe tudo (para concluir a obra). Ou se a Petrobras entra com uma parte pequena. No passado e até agora, a estatal já investiu muito dinheiro — disse uma das fontes.

Investimento

Um ex-executivo da Petrobras, que também falou na condição de anonimato; disse aos jornalistas que o acordo entre brasileiros e chineses faz sentido; visto que a Petrobras tem interesse em concluir a obra e gastar o mínimo possível.

Apesar do sobrepreço dos contratos, o Comperj tem estrutura para ser uma planta eficiente, acrescentou ele. “A questão é saber como vão fechar a conta, que não é fácil de fazer. O Comperj já sofreu um enorme investimento, mas em termos de investimento continua uma planta cara”, disse.

Segundo esse especialista, o custo da refinaria gira em torno de US$ 70 mil o barril processado; ao passo que, nos EUA, a construção de um projeto do gênero custa a metade.

— Para os chineses, US$ 2 a US$ 3 bilhões não é muita coisa. Ainda assim, eles sabem fazer conta e não rasgam dinheiro — finalizou.

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