PM bolsonarista confirma pedido de propina mas confunde a CPI

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Publicado Quinta, 01 de Julho de 2021 às 12:31, por: CdB

Na CPI da Covid, o depoente acrescentou que a primeira proposta de vacina era de US$ 3,50, a menor do mercado. A Davati estava ofertando 400 milhões de doses. Dentro desse valor, US$ 1 por vacina seria repassado de propina ao governo federal.

Por Redação - de Brasília

Representante comercial da Davati Medical Suply, o policial militar bolsonarista Luiz Paulo Dominguetti Pereira, após a tentativa de vende vacinas da Astra Zeneca ao Ministério da Saúde, confirmou aos senadores, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta quinta-feira, que um funcionário da autarquia pediu o pagamento de US$ 1 em propina por cada dose do imunizante. Dominguetti citou, nominalmente, o diretor de Logística do Ministério, Roberto Ferreira Dias, como responsável por negociar a corrupção no contrato.

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Dominguetti denunciou funcionário do Ministério da Saúde por supostamente cobrar US$ 1 por dose de vacina

Na CPI da Covid, o depoente acrescentou que a primeira proposta de vacina era de US$ 3,50, a menor do mercado. A Davati estava ofertando 400 milhões de doses. Dentro desse valor, US$ 1 por vacina seria repassado de propina ao governo federal.

— A gente sempre tentou colocar uma oferta comercial justa ao Ministério, mas nunca buscamos facilidade por parte do Roberto Dias. Ele sempre colocou como condição amargurar a vacina, se não nem seria comprada. Eu não tinha interesse em seguir com as negociações daquele tipo e encerrei as conversas — alegou Dominguetti.

Convocação

Policial militar ainda na ativa, o ativista em grupos de apoio ao mandatário neofascista atua ainda como representante da empresa norte-americana “para complementar renda”, explica. Segundo afirmou, o tenente-coronel do Exército Marcelo Blanco, ex-assessor e no departamento de logística do Ministério da Saúde, foi o intermediador da empresa com Roberto Dias.

A audiência para ouvir Dominguetti fora marcada, inicialmente, para esta sexta-feira. Na noite passada, no entanto, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), anunciou pelas redes sociais que o depoimento havia sido antecipado. Assim, o empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio-administrador da Precisa Medicamentos, que estava previsto para falar à CPI na reunião desta quinta, teve a convocação adiada, sem nova data.

 A Precisa é responsável por um contrato com o Ministério da Saúde para aquisição da vacina indiana Covaxin, que também está sendo investigado pela CPI depois das denúncias feitas no depoimento dos irmãos Luis Miranda e Luis Ricardo Miranda.

Áudio

À Agencia Senado, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pediu urgência nessa linha de investigação.

— Tem uma urgência para o Brasil neste momento, com a informação de R$ 2 bilhões distribuídos em propina. Não existe nada mais forte para a investigação do que um fato, que salta aos olhos, e que pressiona todos nós, desde ontem — acredita.

Durante seu depoimento, Dominguetti apresentou um áudio sobre negociação do deputado federal (DEM-DF) Luis Miranda, que em tese tentaria intermediar a compra de vacinas. Segundo Dominguetti, o áudio foi enviado pelo CEO da Davati no Brasil, Cristiano Alberto Carvalho, na sexta-feira passada, quando Miranda era ouvido pela Comissão.

— Quando o Luis Miranda esteve depondo contra o presidente (Bolsonaro), eu recebi naquele mesmo dia o áudio dizendo: ‘Olha ele lá, porém fazendo o inverso aqui’. O Cristiano mandou o áudio. Mandou até o print: ‘Aqui não tem acordo’. Não posso fazer juízo de valores, mas na pratica era fazendo a intermediação de vacinas — disse Dominguetti.

Contexto

No áudio, Miranda diz que “seu comprador” já estaria de “saco cheio disso”. E que ele teria um “comprador com potencial de ‘pagamento instantâneo”.

— Se o seu produto tiver no chão, o cara fizer um vídeo e falar em meu nome, ‘Luis Miranda tem aqui o produto e tal’, o meu comprador entende que é fato, ok, e encaminha toda documentação necessária amarra, faz as travas, faz os contratos todos e bola para frente — teria dito o parlamentar ao CEO da Davati no Brasil.

No arquivo, porém, não há menção explicita à vacina e, segundo Miranda, trata-se de uma conversa ocorrida ainda em 2020, portanto, num contexto diferente do alegado por Dominguetti. Também não ficou explícito se “meu irmão” citado por Miranda na conversa seria o servidor Luís Ricardo Miranda, parecendo mais uma interjeição ou vício de linguagem utilizado pelo parlamentar.

Reação

Imediatamente, os senadores reagiram, sob suspeita de estarem diante de uma armação. 

— Chapéu de otário é marreta. E jabuti não sobe em árvore. Do nada surge um áudio do Luís Miranda — reagiu o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI. Ele informou que o parlamentar citado irá comparecer à Comissão para explicar o episódio.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), por sua vez, pediu a imediata apreensão do celular de Dominguetti. A intenção é periciar o áudio apresentado, para identificar quando foi enviado pela primeira vez ao CEO da Dalvatti.

Renan também denunciou uma “burla” supostamente orquestrada pelo governo, para tentar inviabilizar o depoimento do empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos.

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