Polícia de Myanmar aumenta repressão em novo protesto 

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Publicado Segunda, 08 de Fevereiro de 2021 às 08:18, por: CdB

 

No terceiro dia consecutivo de greve nacional de trabalhadores e de protestos contra o golpe de Estado aplicado pelas Forças Armadas em Myanmar, a polícia começou a aumentar a repressão contra os manifestantes nesta segunda-feira.

Por Redação, com ANSA e Reuters - de Naypyidaw No terceiro dia consecutivo de greve nacional de trabalhadores e de protestos contra o golpe de Estado aplicado pelas Forças Armadas em Myanmar, a polícia começou a aumentar a repressão contra os manifestantes nesta segunda-feira.
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Myanmar vive sob golpe militar
Canhões de água foram lançados contra os cidadãos e a TV de Estado "MRTV" publicou um alerta do governo com ameaças contra os manifestantes por desrespeito à lei de "segurança pública".

"Precisaremos agir segundo a lei com medidas eficazes contra os crimes que causam distúrbios, impedem e destroem a estabilidade do Estado, a segurança pública e o estado de direito", informam os representantes do regime militar na nota lida pela emissora.

Após prenderem a líder "de facto" do país, Aung San Suu Kyi, e o presidente, Win Myint, no dia 1º de fevereiro, os militares anunciaram um ano de estado de emergência nacional e assumiram todas as funções civis no governo. Além disso, vetaram todas as redes sociais e o acesso à internet é quase nulo.

Porém, os protestos que estavam mais restritos a categorias profissionais e estudantes foram para as ruas para exigir que a democracia seja restaurante no país.

As Forças Armadas deram um golpe de Estado alegando que houve "fraude" no pleito de 8 de dezembro, quando o partido de Suu Kyi, o Liga Nacional para a Democracia (NLD), teve uma vitória com mais de 70% dos votos.

Os novos eleitos

Na semana passada, os novos eleitos deveriam assumir suas funções no Parlamento, mas os militares deram um golpe antes da sessão inaugural. Além de prender Suu Kyi e Myint, outros dirigentes do NLD e de partidos que apoiavam a Nobel da Paz de 1991 também foram detidos.

Mas, se a razão do golpe foram "fraudes", os dois líderes nacionais vão responder por "crimes" que nada tem a ver com o pleito.

Suu Kyi, que não pode ser a mandatária porque tem filhos com um homem estrangeiro, foi acusada de violar uma lei comercial por ter comprado rádios de comunicação para os agentes que faziam a sua proteção. Já Myint foi acusado de "violar uma lei sobre a gestão de catástrofes naturais".

Com exceção da China, a comunidade internacional condenou o golpe e exige a libertação imediata dos presos políticos.

Myanmar passou 25 anos sem eleições livres e, em 2015, a vitória do partido de Suu Kyi marcou a retomada democrática. Segundo especialistas, o golpe foi dado pelas Forças Armadas por conta do constante aumento de poder da líder nacional.

Papa Francisco

O papa Francisco expressou solidariedade ao povo do país e pediu aos líderes de Myanmar que busquem a harmonia democrática. Multidões de todos os cantos de Yangon encheram as ruas enquanto se dirigiam ao Pagode Sule, no coração da cidade, também um ponto de encontro durante os protestos de 2007 e 1988. Uma linha de policiais armados com escudos antimotim montou barricadas, mas não tentou impedir o protesto. Alguns manifestantes distribuíram flores à polícia. As pessoas nas ruas se saudavam com um sinal com três dedos, que se tornou símbolo de protesto contra o golpe. Um policial foi fotografado fazendo um sinal desses para os manifestantes. Motoristas tocavam suas buzinas e pessoas que passavam exibiam fotos de Suu Kyi. – Não queremos uma ditadura para a próxima geração – disse Thaw Zin, de 21 anos. "Não terminaremos esta revolução até fazermos história. Vamos lutar até o fim." Não houve comentários da junta na capital Naypyidaw, mais de 350 quilômetros ao norte de Yangon, e os noticiários da televisão estatal não mencionaram os protestos. Uma nota interna para funcionários da Organização das Nações Unidas estimou que mil pessoas se juntaram a um protesto em Naypyidaw, enquanto havia 60 mil somente em Yangon. Houve registro de manifestações na segunda maior cidade, Mandalay, e em muitas outras, inclusive aldeias, em todo o país. Os manifestantes de Yangon se dispersaram após o anoitecer. As manifestações foram em grande parte pacíficas, e não houve registro de repressões sangrentas como as de 1988 e 2007. Tiros foram ouvidos na cidade de Myawaddy, no sudeste do país, enquanto a polícia atacava um grupo de centenas de manifestantes, mostrou um vídeo ao vivo. Fotos de manifestantes mostraram o que pareciam ser ferimentos por balas de borracha.

"Qualquer coisa é possível"

– Os protestos antigolpe mostram sinais de que ganham força. Por um lado, dada a história, podemos muito bem esperar que uma reação virá – escreveu o autor e historiador Thant Myint-U no Twitter. – Por outro lado, a sociedade de Myanmar hoje é totalmente diferente de 1988 e até de 2007. Tudo é possível. Sem Internet e sem informações oficiais, havia diversos rumores sobre o destino de Suu Kyi e seu gabinete. Um boato de que ela havia sido libertada atraiu multidões para comemorar no sábado, o que foi rapidamente desmentido por seu advogado. Suu Kyi, 75 anos, enfrenta acusações de importação ilegal de seis walkie-talkies e está detida para investigação até 15 de fevereiro. Seu advogado disse que não foi permitido vê-la. Ela ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1991, por fazer campanha pela democracia, e passou quase 15 anos em prisão domiciliar durante décadas de luta para acabar com quase meio século de governo do Exército, antes do início de uma transição conturbada para a democracia em 2011. O comandante do Exército Min Aung Hlaing deu o golpe alegando fraude nas eleições de 8 de novembro, nas quais o partido de Suu Kyi conquistou vitória esmagadora. A comissão eleitoral rejeitou acusações de irregularidades. Mais de 160 pessoas foram presas desde que os militares tomaram o poder, disse Thomas Andrews, relator especial das Nações Unidas para Myanmar. – Os generais agora estão tentando paralisar o movimento de resistência dos cidadãos, e manter o mundo exterior no escuro, cortando praticamente todo o acesso à internet – disse Andrews em comunicado nesse domingo. – Devemos todos estar com o povo de Myanmar em sua hora de perigo e necessidade. Eles não merecem nada menos.
 
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