Policiais que mataram Jean Charles não são indiciados

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Publicado Segunda, 17 de Julho de 2006 às 08:01, por: CdB

Os policiais britânicos que mataram um brasileiro em Londres, no ano passado, depois de confundi-lo erroneamente com um homem-bomba, não serão indiciados por crime algum, afirmaram promotores na segunda-feira.

Ao invés disso, em uma medida descrita pela família da vítima como "ridícula", a Polícia Metropolitana de Londres será processada com base nas leis de segurança e saúde pelo episódio, ocorrido no dia 22 de julho em um vagão do metrô. Geralmente, essa lei é usada para resolver incidentes menores no local de trabalho.

A decisão da justiça britânica, divulgada nesta segunda-feira, refere-se ao assassinato do eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, de 27 anos, que morava em Londres na época.
Os policiais britânicos o confundiram com um homem-bomba e atiraram sete vezes em sua cabeça depois que ele entrou em um vagão do metrô londrino.

Ele foi morto em meio a temores das autoridades sobre ameaças de ataques suicidas. Apenas 15 dias antes, quatro britânicos muçulmanos se explodiram em trens do metrô e em um ônibus de Londres, matando 52 pessoas.

Na decisão de segunda-feira, a justiça britânica decretou que os oficiais que mataram Menezes pensavam que ele estava prestes a explodir o trem.

- Os dois policiais que dispararam os tiros fatais agiram porque acreditavam que o senhor Menezes era um homem-bomba e porque acreditavam que, se não o matassem, ele explodiria o vagão, vitimando várias pessoas - afirmou Stephen O'Doherty, advogado do Serviço de Promotoria da Coroa.

- Para acusar esses policiais formalmente, teríamos de provar, para além de qualquer dúvida razoável, que eles não agiram genuína e honestamente com base em suas convicções. Na verdade, as provas mostram que eles acreditavam verdadeiramente que o senhor Menezes era um homem-bomba -  afirmou.

Decisão vergonhosa

A família do eletricista mineiro rejeitou a decisão.

- Estou muito desapontada - disse Patricia da Silva Armani, prima da vítima.

- Acho que é uma vergonha - disse.

O prefeito de Londres, Ken Livingstone, disse que a decisão "não fazia sentido algum".

- Duvido que a Al Qaeda irá considerar as implicações para a legislação de saúde e a segurança quando estiver planejando suas atividades terroristas - disse.

O brasileiro transformou-se em uma espécie de mártir para os grupos dos direitos civis que criticam a polícia britânica, afirmando que as forças de segurança violam direitos com suas operações.

Essas acusações tornaram-se ainda mais vigorosas depois de uma outra ação fracassada da polícia, em junho passado. Na investida, as forças de segurança atiraram contra um muçulmano inocente depois de invadir uma casa.

Segundo jornais britânicos, testemunhas contaram que o brasileiro tinha pulado uma catraca do metrô e que tinha corrido em uma escada. Também houve relatos de que Menezes usava um grande casaco, capaz de esconder uma bomba.

Membros da Comissão Independente de Queixas contra a Polícia (IPCC), um órgão da Grã-Bretanha, descartaram tais relatos e disseram que o brasileiro havia caminhado na estação, sem nunca correr.

O chefe de polícia de Londres, Ian Blair, pediu desculpas à família de Menezes, mas foi criticado à época por afirmar que o brasileiro estava "diretamente ligado" a terroristas. Blair, maior autoridade policial do país, continua sob pressão.

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