Prefeito de Anapu nega envolvimento na morte de missionária

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Publicado terça-feira, 1 de março de 2005 as 19:45, por: CdB

Em depoimento à Polícia Civil de Altamira (PA) nesta terça-feira, o prefeito de Anapu, Luiz dos Reis Carvalho, negou qualquer envolvimento na morte da missionária Dorothy Stang, que foi assassinada no dia 12 de fevereiro. Segundo o delegado responsável pelo inquérito, Waldir Freire, o prefeito se colocou à disposição da polícia para ajudar nas investigações. “Hoje nós ouvimos o prefeito e a primeira coisa que ele fez questão de ressaltar é que põe à disposição seus sigilos fiscal, financeiro, telefônico, bancário e eleitoral para que a polícia investigue.”

O suposto envolvimento do político foi relatado pelos pistoleiros Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista na segunda-feira à Comissão Externa do Senado que acompanha as investigações no estado. “Se vocês forem ficar com esse advogado de R$ 10 mil, não vai dar para resolver. Então, nós vamos ter que fazer uma coleta, eu tenho muitos amigos, inclusive o prefeito”, afirmou Rayfran apresentando nova versão aos parlamentares.

“Eles confirmaram tudo. A diferença do depoimento dos dois [Rayfran e Clodoaldo] é o nome do prefeito. Rayfran disse não lembrar do nome ter sido citado por Bida, já Clodoaldo disse que era o prefeito de Anapu um dos que ajudaria com a quantia para pagar o advogado”, afirma o delegado.

No novo depoimento à polícia, Rayfran informou que no domingo – dia seguinte ao assassinato de Dorothy Stang – ele e o Clodoaldo teriam se reunido com Vitalmiro Moura (Bida) e Amair Feijó da Cunha (Tato) para conversar sobre a contratação de um advogado. Segundo Rayfran, durante a conversa, Bida teria oferecido R$ 10 mil para os acusados fugirem. Depois da primeira oferta, teria mencionado a contratação de um advogado, que custaria entre R$ 50 mil e R$ 100 mil. Para pagar a quantia, Bida iria entrar em contato com uns “amigos” para arrecadar o valor.

Segundo Waldir, a polícia não descarta nenhuma hipótese durante as investigações, “por mais estranha que ela pareça”. “É realmente muito estranho que eles [os pistoleiros] venham agora com essa história, mas não há ainda a preocupação de descartá-la. Também tem o depoimento do prefeito, mas até agora a polícia não descarta nenhuma hipótese, continuamos investigando e analisando os casos que tem chegado”, explica.

Sobre a idéia de haver outros envolvidos no assassinato da religiosa, Waldir lembra que a própria reunião dos quatro acusados – Rayfran, Clodoaldo, Vitalmiro e Amair – pode representar um consórcio, mas afirma que “se houver mais alguém vinculado a essa questão, terá o mesmo fim que os outros: a cadeia”.

O delegado disse ainda que a polícia vai encaminhar as informações obtidas nos novos depoimentos para o juiz responsável pelo caso para que ele verifique se existe necessidade de “ouvir o prefeito na fase judicial”.