Prêmio Camões e Prêmio em Cannes, são duas chapoletadas em Bolsonaro

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Publicado Sábado, 25 de Maio de 2019 às 14:17, por: CdB
Na terça-feira foi o Prêmio Camões, o mais importante da literatura portuguesa, e agora o Prêmio do Júri em Cannes, para o filme Bacurau. A campanha de Bolsonaro contra nossa Cultura não deu certo. Por Rui Martins, de Genebra:
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Cultura brasileira resiste à mediocrização
Todos sabem que presidente Bolsonaro tem cortado o apoio à Cultura no Brasil. Ele provavelmente deve achar que cultura não é importante, pois nunca lhe fez falta. Assim, o Brasil estará condenado, caso esse presidente exerça seu cargo durante quatro anos, a perder sua projeção internacional nas diversas manifestações artísticas onde tem se sobressaído. Vai ser uma enorme marcha-à-ré que nos condenará à mediocridade. Mas por enquanto não é. E talvez toda a pressão contra nossa cultura acabe provocando resultado inverso.Na terça-feira, foi Chico Buarque quem ganhou o mais importante prêmio da literatura de língua portuguesa, o Prêmio Camões concedido por Portugal e o conjunto dos países de língua portuguesa, por ser, além de compositor, escritor e dramaturgo. Uma enorme honra para todos nós brasileiros. E não é só, hoje, a conquista pelo cinema brasileiro do Prêmio do Júri, com o filme Bacurau de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, no Festival Internacional de Cinema de Cannes, o mais importante festival de cinema do mundo, é uma outra bela resposta para não dizer chapuletada no presidente Bolsonaro, empenhado em cortar verbas e subvenções culturais a fim de provocar uma paralisação da nossa criação artística no teatro, cinema, dança e na literatura. Hoje governado pelo que existe de mais atrasado, desatualizado, reacionário, chegando a ser motivo de chacota aqui na Europa, o Brasil culto, inteligente, atualizado, livre, laico, não racista, resiste a essa onda reacionária e retrógrada. Me permito, transcrever aqui as palavras de Kleber Mendonça ao jornal parisiense Le Monde, quando perguntado pelo repórter sobre a situação cultural no Brasil: "Ah, se você soubesse! Nunca eu teria pensado viver essa situação aos 50 anos. Estamos andando num terreno totalmente desconhecido. Rio de Janeiro, cidade que adoro, se tornou totalmente deprimente.  A maioria das pessoas fala no seu desejo de sair do Brasil. Existe uma grande tristeza. As pessoas andam de cabeça baixa, como nos anos 80", acrescenta Juliano Dornelles. E Kleber continua, falando da pressão do governo sobre a cultura: "tudo o que se relaciona com o mundo das ideias é ridicularizado, diminuído, destruído: as universidades, os festivais, os programas de ajuda sociais. Todo o dinheiro destinado à cultura foi cortado e os artistas são criminalizados. O Presidente se refere aos artistas como drogados". Talvez poucos saibam, mas quando Cannes selecionou o filme Bacurau, de Kleber e Juliano, as autoridades brasileiras demoraram a oficializar a escolha, pois essa escolha os incomodava. Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. É criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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