Presidente do Iraque alerta para risco de uma guerra civil

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Publicado segunda-feira, 13 de março de 2006 as 12:20, por: CdB

Presidente do Iraque, Jalal Talabani conclamou na segunda-feira os partidos políticos do país a acelerarem as negociações sobre a formação de um novo governo. O apelo foi feito depois da explosão de vários carros-bomba em ataques que, segundo Talabani, pretendiam alimentar as tensões sectárias e detonar uma guerra civil. Um governo de unidade nacional envolvendo curdos, xiitas e sunitas é considerado a melhor chance de promover a estabilização do país. Mas, passados três meses das eleições, líderes dos vários grupos ainda continuam discutindo sobre quem deve ser o novo primeiro-ministro do Iraque.

No domingo, explosões atingiram uma área do leste de Bagdá dominada por uma milícia xiita, matando ou ferindo 250 pessoas e alimentando temores de uma nova onda de violência sectarista. As Forças Armadas dos EUA afirmaram na segunda-feira que número de mortos tinha chegado a 52. Talabani, um curdo, disse que os atentados tinham sido realizados para “inflamar o conflito sectário e alimentar os temores de uma guerra civil”.

– É obrigação dos blocos políticos intensificarem seus esforços para formar um governo e estabelecer uma frente ampla a fim de garantirmos a segurança e a estabilidade – afirmou o dirigente em um comunicado.

O clérigo xiita radical Moqtada Al Sadr disse que não daria ordens de retaliação contra os militantes sunitas da Al Qaeda após os atentados na Cidade Sadr, bastião do grupo dele.

– Eu poderia dar ordens para que o Exército Mehdi anulasse os terroristas fundamentalistas, mas isso provocaria uma guerra civil e não desejamos isso – disse.

A polícia descobriu na Cidade Sadr os corpos de quatro xiitas torturados e mortos a tiros. Próximo dos corpos estava a palavra: “Traidores.”

O Exército Mehdi foi acusado de liderar a represália contra mesquitas e clérigos sunitas surgida depois do atentado de 22 de fevereiro em uma importante mesquita xiita de Samarra. Esse atentado detonou uma onda de violência sectária na qual, em poucos dias, centenas de pessoas foram mortas. Sadr negou essa acusação.

Postos de controle

A polícia afirmou que, além dos mortos, 204 pessoas tinham ficado feridas nos atentados a bomba que atingiram dois mercados da Cidade Sadr, no domingo. Alguns policiais disseram que o ataque havia envolvido seis bombas. A milícia Exército Mehdi montou postos de controle em ruas da grande favela localizada a leste de Bagdá e lar de 2 milhões de pessoas, revistando carros à procura de armas e explosivos.

As explosões de domingo aconteceram no momento em que líderes políticos, ao lado do embaixador norte-americano Zalmay Khalilzad, reuniam-se novamente para discutir a formação de um governo de coalizão. Sunitas, curdos e líderes seculares estão bloqueando um acordo em meio à exigência de que Ibrahim Al Jaafari, primeiro-ministro interino do país nos últimos dois anos, não assuma o cargo à frente do novo governo, cujo mandato é de quatro anos.

Políticos disseram não ter esperança de chegar a um acordo nesta semana. Na quinta-feira, o Parlamento eleito em dezembro reúne-se pela primeira vez.

– Gostaríamos de chegar a um acordo antes de quinta. Mas acho que isso será muito difícil – disse Zafir Al Ani, porta-voz da Frente de Concórdia Sunita, o maior grupo político dos sunitas.

Em outro episódio de violência, quatro policiais e um civil foram mortos em um atentado a bomba contra uma delegacia da cidade de Tikrit, cidade natal do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Dois policiais foram mortos e quatro ficaram feridos quando dois carros-bombas explodiram na cidade de Kirkuk (norte). O julgamento de Saddam continuou na segunda-feira, quando testemunhou o juiz encarregado de supervisionar, na década de 80, o processo contra 148 xiitas acusados de planejar a tentativa de assassinato do então ditador.

Awad Hamed Al Bandar, ex-chefe da Corte Revolucionária do Iraque, insistiu ser legal a pena de morte a