O Tribunal de Justiça de São Paulo arquivou, na semana passada, a ação penal contra o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), acusado levianamente por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e corrupção passiva.
Por Altamiro Borges - de São Paulo Em setembro do ano passado, em plena campanha eleitoral, o Ministério Público, que há muito tempo virou um instrumento descarado de ação política da direita nativa, denunciou o então candidato à presidência por "suspeita" de pedir R$ 2,6 milhões à construtora UTC. A denúncia teve enorme repercussão na mídia, o que ajudou a pavimentar a eleição do fascista Jair Bolsonaro. Agora, porém, o arquivamento da ação não mereceu manchete dos jornalões, capa das revistonas ou destaque nas emissoras de rádio e tevê, o que evidencia o grau de manipulação da mídia nativa.A imprestável delação de Palocci
Por falar em patifaria do sistema judicial, é bom lembrar o escarcéu fabricado pelo Ministério Público Federal com a tal "delação premiada" de Antonio Palocci também na véspera das eleições de outubro. Faltando apenas seis dias para o primeiro turno, o "juiz" Sergio Moro quebrou o sigilo de parte do "acordo de colaboração" com a Polícia Federal. O material foi amplamente utilizado para atacar o ex-presidente Lula e o candidato Fernando Haddad. Num dos trechos liberado à imprensa, o ex-ministro relatava um suposto esquema de indicações para cargos na Petrobras durante o governo petista, sem apresentar qualquer evidência ou prova. No despacho, o então juiz afirmou na maior caradura que "examinando o seu conteúdo, não vislumbro riscos às investigações em outorgar-lhe publicidade". No início de fevereiro, segundo notinha da coluna Radar, da Veja, a cúpula da Procuradoria Geral da República confirmou que o escândalo midiático não tinha qualquer consistência. Antes disso, já no final do ano, o próprio Ministério Público Federal chegou a mesma conclusão. "Demoramos meses negociando. Não tinha provas suficientes. Não tinha bons caminhos investigativos. Fora isso, qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada. Essas expectativas não vão se revelar verdadeiras", afirmou na ocasião Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da Operação Lava-Jato. O escândalo, porém, teve efeitos. O "juiz" Sergio Moro foi premiado com o cargo de superministro da Justiça do laranjal de Jair Bolsonaro. Altamiro Borges, é jornalista.As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil