Projeto mostra que população de rua é flutuante

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Publicado quarta-feira, 21 de setembro de 2005 as 12:35, por: CdB

A inusitada experiência em utilizar a vivência de ex-moradores de rua para realizar abordagens e acolhimentos de pessoas em risco social nas ruas completa um mês, apresentando os primeiros resultados. Neste início de atividade, os cidadãos acolhedores realizaram uma amostragem do perfil de quem está vivendo pelas ruas nas áreas do Centro e da Zona Sul do Rio.

Coordenada pelas secretarias de Ação Social e de Governo e de Coordenação, com a operacionalização da Fundação Leão XIII, a amostragem – a partir de 200 pessoas abordadas – detectou que a população de rua é flutuante, podendo mudar de lugar a qualquer momento mas, dentro de cada região, adquirem características comuns.

O coordenador do Projeto Cidadão Acolhedor e responsável pela amostragem, Carlos Augusto Araújo Jorge, classificou a coleta de dados a partir da região e da situação de cada morador. Segundo ele, dividem-se as condições de vida em mais ou menos degradantes.

Carlos Augusto explica que as áreas da Lapa e da Cruz Vermelha são conhecidas como o percurso da fome. Segundo ele, são pessoas que ficam pelas ruas em busca de alimento e que procuram o local por saber que sempre há uma organização não-governamental, uma instituição religiosa ou pessoas distribuindo comida.

–  No Centro, essa população é flutuante e heterogênea, vive circulando, vendendo algo em outros locais e depois retornam para ali em busca de comida  – diz Carlos Augusto.

Já na área da Glória, por exemplo, as pessoas que estão nas ruas são jovens, levam uma vida degradante, isolada de outros cidadãos e, geralmente, envolvidos com drogas e prostituição, além de praticarem pequenos delitos. Além de tudo, são reativos.

No início da Zona Sul, a partir do Catete, passando pelo Largo do Machado, Laranjeiras, Flamengo até Botafogo, a população é de adultos mendigando. Eles se relacionam com os moradores, que lhes dão algo para a subsistência.

No circuito da orla, no Leme e em Copacabana, a população de rua está envolvida com alguma atividade que gere renda. Há também os portadores de deficiência, prostituição e aqueles que adotam a prática dos pequenos delitos. Encontram-se muitas famílias e os bairros são usados para passar a noite.

Já em Ipanema e no Leblon há um número grande de jovens pedintes – ou dinheiro ou comida – e uma população de rua com um perfil menos degradante. São trabalhadores informais, artistas de areia que ganham a vida fazendo esculturas. À noite, esses artistas voltam para casa e deixam aqueles que dormem nas calçadas tomando conta de suas obras.

Cidadão Acolhedor – A capacitação dos 12 ex-moradores de rua foi ministrada pela Fundação Leão XIII. Eles participaram do curso de acolhimento com mais 60 profissionais que atuam na área social da Região Metropolitana. Com a capacitação, tornaram-se cidadãos acolhedores. Os demais são técnicos, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos e educadores enviados pelas prefeituras, por meio de um Termo de Compromisso firmado entre a Ação Social e os municípios, no início do ano.

Os cidadãos acolhedores moravam em um abrigo da fundação e após a capacitação, em agosto passado, foram contratados por uma organização não-governamental, conveniada com a Leão XIII. A partir do recebimento de um pró-labore, eles conseguiram alugar suas próprias residências e deixaram os abrigos.

Neste primeiro mês de atividade, as ações se restringiram entre o Centro e a Zona Sul. Foram realizadas 292 abordagens num total de 200 pessoas, já que um morador de rua pode ter sido contactado mais de uma vez. Destes, 62 foram convencidos a irem para um abrigo do estado. Outros 20 recusaram qualquer tipo de abordagem. O novo grupo de abordagem e acolhimento realizou 210 encaminhamentos para médicos e para a retirada de segunda via de documentos para as 180 pessoas que aceitaram a abordagem.

De acordo com Carlos Augusto, da convivência entre os técnicos sociais e os