"PT está integrado ao jogo político", diz cientista político

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Publicado Segunda, 12 de Abril de 2004 às 06:47, por: CdB

O escândalo envolvendo o ex-subchefe para Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz apenas colocou em evidência uma transformação que vem ocorrendo desde a eleição de 1989: o PT se rendeu à forma tradicional de se fazer política no país. Essa é a avaliação do cientista político Luis Felipe Miguel, coordenador do Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

Miguel considera que a crise ganhou maior dimensão do que deveria por causa da "incompetência dos operadores políticos" do governo Lula. A conseqüência teria sido a ampliação de sua dependência em relação "aos aliados da política tradicional".

Mas a análise dele é mais abrangente. Identifica um processo progressivo de adesão do PT ao jogo tradicional da barganha política brasileira - sem embutir nisso um juízo de valor. "O PT está se deslocando, paulatinamente, de uma posição de negação da política tradicional para uma posição de acomodação, de aceitação dessa política tradicional", sustenta Luis Miguel - que é doutor pela Universidade de Campinas e tem como objetos de pesquisa a teoria política, a teoria da democracia e as relações entre mídia e política. Com isso, pondera o professor, o partido acaba perdendo o diferencial que o projetou no cenário político brasileiro: a denúncia do modelo tradicional de fazer política, que fez do PT o porta-voz dos movimentos sociais.

Miguel observou que, ao perceber a chance concreta de chegar ao poder, a partir da emblemática derrota de Lula para Fernando Collor, em 1989, o partido foi ampliando o arco de alianças e teve de fazer concessões progressivas. Esse processo teria culminado na "despolitização completa da campanha eleitoral de 2002" e no pacto que o presidente teve de fazer com o mercado financeiro e os caciques da elite política do país para chegar ao cargo máximo da República e assegurar a "governabilidade" - "o que é algo mais ou menos recorrente no momento em que partidos de esquerda chegam ao poder por via eleitoral", sublinha o professor.

Ele considera muito difícil uma mudança de rumo, no sentido de voltar o governo para servir prioritariamente aos interesses dos menos favorecidos. Observa que Lula teve de desmobilizar os movimentos sociais para tranqüilizar "os interesses estabelecidos" - que são antagônicos aos de sua base anterior - e enfrenta, agora, a desconfiança de setores organizados da sociedade que acreditaram no candidato da mudança e estão frustrados com o continuísmo.

Essa desmobilização, segundo Miguel, minou as possibilidades de mudança, pois o governo perdeu a base social que poderia sustentar a conversão. "É difícil recuperar essa confiança de uma base que se sente cada vez mais manipulada e que, se for chamada novamente a apoiá-lo, provavelmente vai se sentir usada, chamada no momento que convém para ser descartada novamente no momento seguinte", avalia o professor de Ciência Política da UnB.

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