Publicado Sábado, 27 de Abril de 2019 às 18:18, por: CdB
As imagens da entrevista de Lula para os jornais Folha e El País, mostraram sua extraordinária força, seu carisma, sua enorme facilidade de comunicação e inteligência verbal. Ele é ainda o único líder da esquerda no Brasil.Por Rui Martins, de Genebra: STF vai ressuscitar Lula?Essa nova aposta proposta pelos bookmakers em Londres – quem sai primeiro Lula ou Bolsonaro ? - é suficiente para demonstrar o êxito da entrevista de Lula à Folha e ao El País espanhol. Bastou se abrir uma fresta na prisão de Lula para se projetar com destaque, na imprensa internacional, a figura do ex-presidente cumprindo pena em Curitiba. Essa entrevista sete meses proibida, repentinamente permitida e rapidamente realizada, foi, sem dúvida, uma resposta do Supremo Tribunal Federal aos bombardeios que lhe são feitos pela redes sociais bolsonaristas. E uma tentativa do STF para retificar a má impressão deixada com a censura à revista virtual Cruzoé e ao site Antagonista, embora rapidamente corrigida. Pode ser um pouco mais que isso: uma avaliação pelo STF do impacto e penetração de Lula, depois de um ano subtraído da cena pública. Uma oportunidade para muitos fazerem uma comparação entre o ex e o atual presidentes. Com vistas a uma eventual transformação de sua pena em prisão domiciliar, em Santo André, perto da capital paulista. Ou, embora inimaginável, uma anulação de sua pena a fim de provocar o choque, capaz de despertar e mobilizar a oposição, e assim evitar que o Brasil seja destruído e acabe tragado pelo buraco negro da incompetência. Ninguém precisa me lembrar já ter publicado neste mesmo espaço críticas, algumas severas, ao presidente Lula e lamentado seus erros e desvios. Tenho plena consciência, continuo na expectativa de uma autocrítica do PT e, por que não, do próprio Lula. Mas o momento é de trégua e de união, porque nosso país atravessa uma fase de grande risco e perigo. Os erros agora cometidos ou em fase de execução poderão levar o Brasil a um retrocesso, cuja correção exigirá anos ou mesmo dezenas de anos.A política entreguista da Petrobras com o pré-sal vai privar o Brasil de sua maior riqueza e isso nos condenará à condição de tantas outra nações pobres, exploradas e sem futuro. A imagem do Brasil vem sendo diariamente dilapidada por decisões e declarações absurdas ou estúpidas, tomadas ou pronunciadas pelos diversos membrs do governo. A política externa brasileira no contrassenso das tendências e realidades internacionais se tornou motivo de troça ou chacota nas chancelarias, comprometendo todo um passado de respeito e admiração pelo Brasil. O desmatamento programado em áreas até hoje protegidas e a destruição da Amazônia, suas florestas e reservas indígenas, para plantação de soja, criação de gado e exploração de recursos minerais preocupa os outros países, pois todos os esforços por eles feitos para evitar o aquecimento do planeta são anulados pelo Brasil. Numa demonstração de extrema ignorância de ciência ambiental, um dos filhos do capitão acaba de fazer uma declaração ridicularizando a mobilização pela salvação do nosso planeta, considerando tudo um complô ecológico de esquerda. Preocupados, 600 cientistas enviaram uma carta-apelo ao presidente Bolsonaro, tentando convencê-lo da necessidade de levar a sério o aquecimento do planeta, confirmado por provas científicas. Vassalo do norte-americano Trump, nosso presidente fatalmente descartará e ignorará esse apelo.O corte de subvenções às atividades culturais irá emburrecer o país e retirar o Brasil do circuito das atualizações artísticas internacionais em cinema, teatro, dança, música. Uma verdadeira catástrofe. A mudança das disciplinas escolares visa amordaçar o espírito e raciocínio críticos dos estudantes. Só valem as matérias escolares ou universitárias ou profissões que deem retorno econômico. A situação é de uma catástrofe anunciada, sem reação e mobilização popular. Enquanto a esquerda aparentemente anestesiada não reage. Por isso, a necessidade urgente de uma união em torno do único nome capaz de reunir a esquerda para evitar a catástrofe, Lula.Um ano depois de preso, as imagens não mostraram um homem diminuído, deprimido ou aniquilado. Dotado de um forte carisma, dominando a propriedade das palavras com sua inteligência verbal, não há ainda no momento outro líder disponível de esquerda, para defender o povo que, como ele disse,“não sabe se defender”. No caso da ameaça da nova lei da Previdência, que fará economias nas costas do povo.Um exemplo da força verbal de Lula é sua frase choque usada como título nos jornais estrangeiros - “Fico preso cem anos mas não troco minha dignidade pela liberdade”.
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.Editor do Direto da Redação-