Questão climática já influi na colheita de commodities brasileiras, avaliam analistas

Arquivado em:
Publicado Segunda, 09 de Agosto de 2021 às 11:04, por: CdB

A seca e a geada observadas, no Brasil, tendem ainda a quebrar em 27,3% a safrinha de milho deste ano, com um declínio de 110 milhões de toneladas, previstas inicialmente, para 80 milhões.

Por Redação - de São Paulo
As mudanças no clima têm causado uma das piores secas já registradas no país, em quase um século, e levado a duas semanas consecutivas de geadas em áreas centrais do país. A alternância de seca e geada, até agora, já reduziu as safras de milho, café e cana-de-açúcar, entre outras lavouras, segundo dados do Ministério da Agricultura.
trigo-geada.jpg
Uma forte geada, no Sul do país, levou à quebra da safra do trigo para esse ano
A seca e a geada observadas, no Brasil, tendem ainda a quebrar em 27,3% a safrinha de milho deste ano, com um declínio de 110 milhões de toneladas, previstas inicialmente, para 80 milhões. O aumento na demanda global pela commodity e as perdas consolidadas, no agronegócio brasileiro, terceiro maior produtor de milho do mundo, o preço da saca aumentou 100% em um ano.

Onda de frio

A geada que se precipitou há duas semanas também reduziu as safras de cana-de-açúcar e café. No café, a queda deve superar os 10%, de 48 milhões de sacas para 43 milhões. Essa redução fez o preço subir 20% em um mês, atingindo o recorde em sete anos no dia 28 de julho, quando a saca foi cotada a US$ 207,73. Na cana-de-açúcar, a perda decorrente apenas da geada deve ficar em 7%, de 570 milhões de toneladas esperadas para o centro-sul do País para 530 milhões. — O impacto não vai ser só nesta safra, vai se carregar para as próximas, porque parte da cana foi queimada e terá de ser cortada — avaliou o analista Rodrigo Almeida, do Santander, ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo (OESP), nesta segunda-feira.

Surpresa

“Almeida destaca que o impacto dos eventos climáticos se estenderá à pecuária, pois o pasto, que já estava com qualidade ruim por causa da seca, também queimou nas geadas. Os produtores terão, portanto, de aumentar a participação da ração na alimentação dos animais. O problema é que as rações costumam ser feitas com milho”, acrescenta o OESP. — Com a queda na safra, será desafiador alimentar o boi com ração. O custo vai aumentar. E porcos e frangos também são alimentados com milho — pontua o analista. A sucessão de eventos climáticos extremos tem surpreendido até mesmo especialistas experientes no estudo do clima. — A intensidade desses eventos também tem chamado atenção. Estamos assustados. A sensação do cientista do clima é que, mesmo quando se previa um cenário pessimista, ele ainda era suave comparado com a intensidade do que estamos tendo — disse ao OESP o professor Francisco Aquino, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Aquecimento

Aquino explica que incidência crescente de desastres climáticos tem origem no aquecimento global, uma vez que uma atmosfera mais quente provoca circulação mais rápida de massas na atmosfera. Isso, por sua vez, gera esses eventos. O professor lembra que a temperatura média hoje é 1,2º C maior do que a de 1990. Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, a seca no centro-sul do país e seus impactos econômicos são o principal indicador da gravidade da situação. Ele destaca as perdas não só nas produções de milho e cana, mas também os impactos que a falta de água terá na economia. — Estamos correndo sérios riscos na produção de energia elétrica no fim do ano. Os reservatórios estão se esvaziando rapidamente e isso tem impacto na inflação. Precisa ser muito distraído para não perceber que tem uma questão climática mais sistemática que está afetando o mundo inteiro e nós também — afirmou, aos jornalistas

Setores atingidos

Milho
Um dos produtos que mais tem sofrido com a seca, o milho chegou a ter a saca cotada a US$ 20, patamar inédito. O preço já vinha avançando com o crescimento da demanda global. Com a seca e as geadas no Brasil – o maior exportador da commodity –, a oferta global caiu.
Café
Desde o começo do ano, a saca do café passou de US$ 117 para US$ 190. Na moeda local, o aumento foi de cerca de R$ 600 para R$ 1.000. “R$ 200 foi por causa da seca e R$ 200, da geada”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio.
Madeira
Nos EUA, o preço da madeira vinha recuando após subir vertiginosamente por causa do aquecimento no setor imobiliário, impulsionado pelos incentivos econômicos do governo durante a  pandemia e pelas mudanças de hábito na quarentena. Um incêndio no Oeste do país e do Canadá, no entanto, prejudicou a oferta do produto.
Indústria
As chuvas na Alemanha paralisaram parte da navegação no Rio Reno, um importante canal de escoamento para a indústria química e siderúrgica da Europa. O preço do transporte de mercadorias acabou subindo na região.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo