Rachel Dodge estreia saia justa ao discursar entre suspeitos de crimes

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Publicado Segunda, 18 de Setembro de 2017 às 10:09, por: CdB

A primeira saia justa da nova procuradora-Geral da República, Rachel Dodge, ocorreu durante sua posse.

 

Por Redação - de Brasília

 

A posse da procuradora-Geral da República (PGR), Rachel Dodge, começou com uma saia justa. A primeira dela no cargo. Durante a posse, Dodge discursou entre dois suspeitos de cometer crimes contra a República: o presidente de facto, Michel Temer, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira. Todos são citados nas denúncias de seu antecessor como suspeitos de receber propinas da empreiteira Norberto Odebrecht.

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Nova procuradora-Geral da República, Rachel Dodge permaneceu entre dois citados por corrupção, em investigações no STF

Em seu discurso de posse, no entanto, Dodge disse que o Ministério Público tem “o dever de cobrar dos que gerenciam o gasto público que o façam de modo honesto, eficiente e probo; ao ponto de restabelecer a confiança das pessoas nas instituições de governança”.

Sobre o tema, ela citou uma fala do papa Francisco, na qual o pontífice ensina que “a corrupção não é um ato, mas uma condição, um estado pessoal e social, no qual a pessoa se habitua a viver”, disse.

— O corrupto está tão fechado e satisfeito em alimentar a sua autossuficiência que não se deixa questionar por nada nem por ninguém. Constituiu uma autoestima que se baseia em atitudes fraudulentas. Passa a vida buscando os atalhos do oportunismo, ao preço de sua própria dignidade e da dignidade dos outros. A corrupção faz perder o pudor que protege a verdade, a bondade e a beleza” — acrescentou.

Democracia

Segundo Dodge, não faltam meios orçamentários ou instrumentos jurídicos para que o MP cumpra seu papel constitucional.

— Estou certa de que o MP continuará a receber do Poder Executivo e do Congresso Nacional o apoio indispensável ao aprimoramento das leis e das instituições republicanas e para o exercício de nossas atribuições — prevê.

Dodge destacou, ainda, que o MP tem o dever desempenhar bem todas suas funções. Elas são necessárias para muitos brasileiros, pontua.

— A situação continua difícil pois (os brasileiros) estão expostos à violência e à insegurança pública, recebem serviços públicos precários, pagam impostos elevados, encontram obstáculos no acesso à Justiça, sofrem os efeitos da corrupção, têm dificuldade de se auto-organizar, mas ainda almejam um futuro de prosperidade e paz social — continuou.

A nova procuradora-geral também indicou que o Ministério Público deve trabalhar para todos igualmente.

— O Ministério Público deve promover justiça e promover democracia, zelar pelo bem comum e pelo meio ambiente, assegurar voz a quem não a tem e garantir que ninguém esteja acima e ninguém esteja abaixo da lei — afirmou.

Última mensagem

Membro do Ministério Público Federal desde 1987, Raquel Dodge é primeira mulher a exercer o cargo de procuradora-Geral da República. Para vice-procurador-Geral da República, ela escolheu o subprocurador-Geral da República Luciano Maris Maia. Ela foi indicada na lista tríplice enviada ao presidente da República após eleição da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Raquel Dodge foi a segunda mais votada, ficando atrás de Nicolao Dino. Em julho, ela foi aprovada pelo plenário do Senado por 74 votos a 1 e uma abstenção.

O ex-procurador-Geral da República Rodrigo Janot, que deixou o cargo, não compareceu à posse. De acordo com dados referentes ao segundo período de Janot na Procuradoria, que comandou de 2013 a 2017, na área criminal, que envolve a Operação Lava Jato, foram feitos 242 pedidos de abertura de inquérito; 98 pedidos de busca e apreensão, de interceptações telefônicas e quebras de sigilo bancário e 66 denúncias foram enviadas à Justiça (inclusive duas contra o Michel Temer).

Ao apagar das luzes de seu mandato, pouco antes da meia noite deste domingo, Rodrigo Janot encaminhou sua última mensagem aos procuradores. Nela, afirma que "escroques" ainda ocupam cargos no país.

Em primeiro

"Precisamos acreditar nessa ideia e trabalhar incessantemente para retomar os rumos deste país; colocando-o a serviço de todos os brasileiros, e não apenas da parcela de larápios egoístas e escroques ousados que, infelizmente, ainda ocupam vistosos cargos em nossa República”, afirmou em nota.

Rodrigo Janot apresentou duas denúncias contra Michel Temer, a quem acusou de corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa; além de ter pedido a prisão de Aécio Neves (PSDB), ao revelar fortes indícios de corrupção do senador mineiro.

Na mensagem, via sistema interno do Ministério Público, Janot desejou boa sorte à sucessora, Raquel Dodge. Mas deixou um espeto ao avisar que não lhe transmitiria o cargo. Ele enfatizou ter assumido a PGR em primeiro na lista tríplice da categoria. O mais votado, Nicolao Dino, era aliado de Janot.

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