Publicado Sexta, 29 de Março de 2019 às 06:35, por: CdB
Mesmo com a multiplicidade e a sofisticação das mídias, continuo ouvinte do rádio. E creio que parcela expressiva da população também, embora eu não tenha em mãos dados estatísticos sobre o assunto.
Por Luciano Siqueira - de São Paulo
Até emissoras que nos boletins do Ibope aparecem com "traço" de audiência têm seu nicho. Sempre que entrevistado por uma delas, alguém comenta que me ouviu.
Mesmo com a multiplicidade e a sofisticação das mídias, continuo ouvinte do rádio
Então, agora que com pouco mais de dois meses de governo o capitão Bolsonaro amarga corrosão progressiva dos seus índices pessoais de popularidade e de aprovação de sua gestão, o rádio cumpre o seu papel.
No rádio, ouço logo cedo o lamento de comentaristas econômicos quanto à incapacidade do presidente da República negociar apoio parlamentar para a reforma da Previdência.
O Mercado, dizem, anda exasperado. Há uma tendência de queda do índice Bovespa e de aumento progressivo do dólar; investidores estrangeiros, que se mostravam animados a voltar a investir no Brasil, se retraem.
Diante de tanta incerteza, os chamados capitais de risco se manterão equidistantes, comentam.
Ou seja, o Mercado elegeu um presidente compromissado com as altas esferas do rentismo que não está se mostrando capaz de entregar a encomenda.
De passagem, vale anotar que as tresloucadas postagens do capitão presidente e seus filhos diletos no Twitter não são sendo suficientes para convencer a maioria.
Tanto que há dias vem sendo anunciada nova mudança na equipe de comunicação do Planalto, justamente para tentar o desgaste, sobretudo nos grandes centros urbanos, a partir de São Paulo.
Quando o "inimigo" se embaraça, cá do campo das forças oposicionistas cabe atenção, bom senso e sagacidade. Para lhe impor derrotas parciais que, num processo cumulativo, possam contribuir para uma alteração futura da correlação de forças.
A aprovação pela Câmara dos Deputados, por ampla maioria, da emenda constitucional que restringe a quase zero o controle do Executivo sobre a execução do Orçamento Geral da União, em tese uma ideia discutível, se constitui em derrota expressiva do governo.
Agora, numa combinação entre a resistência no parlamento e a luta na base da sociedade, urge erguer com firmeza e argumentação compreensível pela maioria as bandeiras da defesa da Previdência Social pública e da Educação pública de qualidade, ambas ameaçadas pelo governo.
Em outras palavras, trata-se da luta de ideias em todos os níveis, tendo como vetor a resistência de democrática e a construção de uma vontade oposicionista a mais ampla possível, no parlamento, nos salões, nas redes, no rádio e nas ruas.
Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.
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