Renúncia de Wyllys abre espaço para atuação de David Miranda no Parlamento

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Publicado Sexta, 25 de Janeiro de 2019 às 13:59, por: CdB

Miranda, que em 2018 obteve 17.356 votos na disputa para deputado federal, é o primeiro vereador assumidamente gay do Rio de Janeiro. Nascido na favela do Jacarezinho, no Rio, ele já foi engraxate, faxineiro, office boy, panfleteiro e caixa de comércio.

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
  A renúncia do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) ao mandato que teria início na semana que vem torna-se uma nova frente de desgaste para o governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Jornalista e ativista social, Wyllys agora terá todo o tempo disponível para integrar a resistência o regime de extrema direita, instalado no Brasil após as últimas eleições presidenciais e, em sua cadeira, na Câmara, assume o vereador carioca David Miranda (PSOL-RJ), outro nome de peso na luta contra o fascismo que se alastra pela América Latina.
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David Miranda, que substituirá Jean Wyllys na Câmara dos Deputados, tem sido um parlamentar combativo
“Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília”. O tweet do vereador Miranda suplente de Jean Wyllys na Câmara dos Deputados, mostra o presidente Jair Bolsonaro (PSL) na Câmara dos Deputados não vai ter trégua das críticas ao governo com a saída de Jean (Wyllys). Miranda, que em 2018 obteve 17.356 votos na disputa para deputado federal, publicou a frase nas suas redes sociais em resposta a Bolsonaro, que escreveu “Grande dia!”, em sua página no Twitter. Aos 33 anos, o parlamentar é o primeiro vereador assumidamente gay do Rio de Janeiro. Nascido na favela do Jacarezinho, no Rio, ele já foi engraxate, faxineiro, office boy, panfleteiro e caixa de comércio.

Antiterrorismo

Colega da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em março, David conquistou em 2016 cadeira na Câmara Municipal do Rio, representando o mandato coletivo Juntos!, com 7.012 votos. Formado em Comunicação Social, ele é casado há 13 anos com o também jornalista norte-americano Glenn Greenwald, com quem adotou dois filhos, João e Jonathan. O casal ainda cria 24 cachorros, muitos deles encontrados nas ruas do Rio de Janeiro. David Miranda se descreve, em mensagem nas redes sociais, um “preto, favelado e primeiro vereador LGBT do RJ; midialivrista e pela causa animal”. David não conheceu seu pai e sua mãe morreu quando ele tinha 5 anos, segundo seu perfil no Facebook. Em agosto de 2013, Miranda foi detido pela Polícia Metropolitana de Londres quando fazia escala  em uma viagem de volta de Berlim, para o Brasil. Enquadrado em uma Lei Antiterrorismo pela suspeita de estar transportando documentos de inteligência, ele ficou detido por 9 horas e teve pertences pessoais retidos. A prisão foi considerada “justa e apropriada” pela Justiça britânica, mas condenada pela Anistia Internacional. Greenwald viria a ganhar o Pulitzer em 2014 por seu trabalho e fundou o site The Intercept, que tem uma edição em português.

Fake news

Wyllys anunciou sua renúncia na noite passada e, na manhã desta sexta-feira; além de pronunciamentos da família Bolsonaro, desafeto do parlamentar psolista, foi alvo de um vídeo, gravado pela jornalista Regina Vilela, com flagrante notícia falsa sobre o parlamentar. Segundo o articulista do Correio do Brasil Val Carvalho, “Jean Wyllys ganhou suas primeiras fake news no exílio”. “O exílio de Jean Wyllys e a comemoração do presidente têm tido repercussão mundial gigantesca. Para vacinar sua legião de fanáticos, como que se precisasse, os produtores de fake news, que continuam trabalhado sem parar, divulgaram mais uma: que, na realidade, Jean Wyllys não se exilou, mas, sabendo que não mais teria foro privilegiado fugiu da Polícia Federal que já sabe de seu envolvimento com Adélio no “atentado da facada” (outra fake new). “É absurda assim mesmo. O limite das fake news é a imaginação de quem a cria e a burrice quem acredita. As fake news se assemelha muito ao vício do crack. Enquanto o crack destrói neurônios, as fake news aniquila a capacidade de se pensar. E quanto mais a pessoa acredita na fake news, mas dependente dela fica, e consequentemente mais burra também.

Instituições

“Tenho um conhecido bolsominion que continua fissurado em fake news. E quanto mais absurda for a mentira melhor. Seria como aquela droga mais forte, como a atual moda do crack, o mesclado com maconha. Por exemplo, as cifras ‘roubadas’ por Lula, nessas fake news, são monumentais. Sempre na ordem dos bilhões de reais. Quanto mais absurda a cifra, mais convincentes são as fake news para esses viciados em mentira”, afirma Carvalho. No mesmo tom de Val Carvalho, a jornalista Flávia Oliveira, no diário conservador carioca O Globo, em artigo assinado, afirma que “um militar não tripudiaria do inimigo rendido. Um democrata lamentaria o parlamentar reeleito sucumbindo a ameaças e desistindo da vida pública”. Ainda em referência a Jair Bolsonaro, Oliveira pontua que “um estadista estenderia ao adversário político esforços para identificar os criminosos e, com isso, ratificar a grandeza e a impessoalidade das instituições democráticas”.

Desafeto

“O presidente do Brasil, eleito com mais de 57 milhões de votos, regozijou-se em post numa rede social, após tornar-se pública a decisão de Jean Wyllys (PSOL) de abrir mão do mandato e deixar o país por tempo indeterminado. A twittosfera entendeu que Jair Bolsonaro debochara do desafeto”, acrescentou. Mesmo o vice-presidente da República, o general Hamilton Mourão, posicionou-se contrário às mensagens de Bolsonaro. Ele afirmou, nesta sexta-feira, que quem ameaça parlamentares está cometendo um crime contra a democracia. — Quem ameaça parlamentar, está cometendo um crime contra a democracia. Uma das coisas mais importantes é ter sua opinião e ter a liberdade para expressar sua opinião. Os parlamentares estão ali, eleitos pelo voto, representam os cidadãos que votaram nele. Quer você goste, quer você não goste das ideias do cara, você ouve. Se gostou, bate palma. Se não gostou, paciência — conclui Mourão.
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