O documentarista norte-americano Robert Drew, 81 anos, convidado de honra do 10a edição do festival internacional de documentários É Tudo Verdade, está estudando fazer um filme sobre a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva.
Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, Drew revelou que “a história de Marina Silva é uma que eu adoraria contar”.
Chama a atenção do cineasta a trajetória pessoal da ministra, que trabalhou na extração de borracha, aprendeu a ler e escrever já adolescente, tornando-se depois professora, militante do meio ambiente, parlamentar e ministra.
Para o diretor, a relevância de Marina Silva cresce por sua ligação com a Amazônia, que ele também considera “um dos maiores assuntos do nosso tempo”.
O projeto deste filme, porém, ainda deverá amadurecer. Drew pretende aproveitar sua estadia em São Paulo e no Rio de Janeiro, durante o festival — que começa nesta terça e vai até 10 de abril — para conhecer o trabalho dos documentaristas brasileiros, o que ainda não teve oportunidade de fazer.
O diretor do festival, Amir Labaki, pretende mostrar-lhe, por exemplo, o filme “Entreatos”, de João Moreira Salles, que retrata a campanha de Luís Inácio Lula da Silva à Presidência e guarda semelhanças com o estilo despojado e direto do próprio Drew em filmes como “Primárias” (1960).
Neste trabalho, que faz parte da programação do festival ao lado de outros de seus sete filmes, Drew retratou as eleições primárias no Estado de Wisconsin, em que concorriam pela indicação ao Partido Democrata na corrida à Presidência os candidatos John F. Kennedy e Hubert H. Humphrey.
Esta é a segunda visita de Drew ao Brasil. Durante a 2a. Guerra Mundial, quando foi piloto de caça, ele passou brevemente pela base militar norte-americana de Natal.
Ele recordou que, durante a guerra, conheceu pilotos brasileiros na Itália, que participavam das mesmas missões que ele. “Os brasileiros fizeram um ótimo trabalho”, elogiou.
Indagado sobre sua opinião sobre o colega e compatriota Michael Moore, Drew foi mais crítico: “Moore é um gênio, um showman, mas não é um repórter, é um comentarista, um propagandista. Sou totalmente solidário com ele, mas é piada chamá-lo de documentarista”.
Para ele, o grande problema é que “Moore fica dizendo ao espectador o que pensar.”
Desta forma, Drew também não acha que a popularidade de Moore ajuda a maior circulação dos documentários junto ao público: “Ele não vai abrir mais campo para a reportagem. No máximo, vai abrir mais espaço para a diversão, para o sentido humorístico das coisas, ainda que seja uma tragédia”.
Tendo iniciado sua carreira como editor e correspondente da revista “Life”, em 1958, Drew demonstra ter grande ligação com a profissão jornalística. Por causa disso, ele tem reservas ao tipo de jornalismo televisivo praticado hoje em dia.
“Acho que o repórter verdadeiro faz reportagem. Uma pessoa com um microfone na mão é apenas uma vitrine”, critica. Ainda assim, ele acha “impressionante” a cobertura da guerra do Iraque.
Em relação às emissoras norte-americanas, ele acha “impressionante que cada uma seja capaz de cobrir a guerra segundo um ponto de vista. Se desejamos saber o que pensa o governo republicano, assistimos à Fox. Se queremos um jornalismo mais objetivo, a CNN, e assim por diante”.
Para Drew, um bom documentário “é uma boa reportagem. Ele deve passar para os outros a verdade e deixar o espectador ver e pensar por si mesmo”.
Para alguém que, como ele, inventou uma câmera portátil com som sincronizado nos anos 1960 para poder filmar da maneira direta que fez sua fama, a revolução das câmeras digitais é um dado animador.
“Estamos no meio de uma revolução técnica e espiritual. Espero obras-primas de crianças de 9 anos, meninas de 13 anos, estudantes, operários. Mesmo que para cada obra-prima haja um milhão de fracassos. Com tantas câmeras e tantas pessoas pensando em algum assunto, c