Ruralistas: os papa-rios

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Publicado Quinta, 07 de Dezembro de 2017 às 07:28, por: CdB

O senador Ronaldo, neto do coronel Totó Caiado, reclama, em artigo na Folha de S.Paulo, do que ele chama de vitimização dos ruralistas brasileiros. Os pobres coitados, segundo ele, são injustamente acusados de irresponsabilidade ambiental e da prática de trabalho semiescravo

Por Jaime Sautchuk – São Paulo:

Ele chama de “terrorismo” todas as ações de movimentos sociais, inclusive greves, e diz que uma organização terrorista chamada MST é protegida pelo Estado brasileiro, que não cumpre ações judiciais que a atingem.

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Os pobres coitados, segundo ele, são injustamente acusados de irresponsabilidade ambiental

“Ao mesmo tempo em que se impõe rigor implacável a quem produz; faz-se o oposto em relação aos predadores do MST; tratados com leniência, como ‘movimentos sociais’, imunes à lei e ao tratamento de terroristas; mesmo quando agem como tais”, escreve o raivoso porta-voz dos ruralistas.

Recursos hídricos

É bem verdade que o uso predatório de recursos hídricos e a prática de trabalho em regime semelhante ao da escravidão; atingem formas tão gritantes que mesmo a mídia reacionária é obrigada a mostrar. E nas redes sociais da Internet muito pouca gente ousa defender esses criminosos; embora muitos defendam, de forma genérica, o modelo agropecuário predominante no país.

Na realidade, porém, os impactos negativos da ação dos novos coronéis do campo vão muito além da mídia e das redes sociais. Já provocam fortes rações populares. Chamaram atenção; nas últimas semanas, as grandes manifestações de rua realizadas na cidade de Correntina, no Oeste da Bahia.

Protestos

Protestos desse tipo ocorrem naquela região há cerca de duas décadas, como que anunciando a iminência de uma situação desastrosa; que agora chega ao seu limite. O que se passa no vale do rio Corrente; afluente da margem esquerda do São Francisco, é caso de morte anunciada, pois dezenas de córregos e ribeirões secaram completamente, sina agora reservada aos rios.

Grandes áreas são tomadas por latifundiários com extensas lavouras de grãos, especialmente soja e milho; que não respeitam regras básicas de bom uso do solo. Invadem áreas de proteção, como veredas e matas ciliares, não fazem curvas de nível e assim por diante. E sugam de maneira desmedida os cursos d’água, merecendo o apelido de “papa-rios”.

No entanto, esse não é um destino reservado apenas a afluentes do rio São Francisco; pois o próprio riozão já deixou de ser o Velho Chico de tantas histórias. Mesmo no longo trecho entre Pirapora (MG) e Juazeiro (BA); outrora importante via de ligação do Nordeste com o Sudeste do país; agora a navegação de embarcações de maior porte já não é mais possível, por causa do assoreamento e da redução do volume de água.

Goiás

Em Goiás, Estado do senador Caiado, a situação de igualmente grave. Na capital e cidades do interior; quando alguém diz que vai “passar férias na praia”, ele não se refere à orla marítima brasileira. Fala do rio mais querido dos goianos, o Araguaia, que nos meses sem chuva, especialmente no recesso escolar de julho; atrai enorme quantidade de turistas. Mas essa diversão está com dias contados. A areia continua lá, mas a água sumiu.

De norte a sul do país a situação é a mesma. Mas os coitadinhos dos ruralistas papa-rios não têm nada a ver com isso; segundo o porta-voz deles.

Jaime Sautchuk, é jornalista.

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