O clérigo radical xiita Moqtada Al Sadr rejeitou na última segunda-feira o apelo dos poderosos aiatolás do país para que renuncie à violência, de acordo com um assessor de um importante líder religioso.
O assessor Mohammad Bahr Al Uloum, membro do Conselho de Governo nomeado pelos EUA, disse que o aiatolá Ali Al Sistani, considerado o principal líder religioso iraquiano e rival de Sadr, apoiou o pedido.
Sistani já fez declarações no passado pedindo aos iraquianos que respeitem as instituições e a ordem pública. Ele não comentou diretamente a violência protagonizada pelos seguidores de Sadr, mas deve se manifestar a respeito nos próximos dias.
- A Hawza (seminário islâmico) foi unânime. Pedimos a Moqtada que pare de recorrer à violência, de ocupar prédios públicos e de fazer outras ações que o tornam um fora-da-lei. Ele insiste em ficar na rota que pode destruir a nação - disse Al Uloum.
Segundo ele, Sadr se recusou a receber uma delegação de líderes tribais e islâmicos na principal mesquita de Kufa, perto da cidade sagrada de Najaf, onde ele está instalado com seguidores armados.
- A delegação se reuniu com assessores de Moqtada, que não expressaram interesse em recorrer à sabedoria e à paciência - afirmou o assessor.
Uma fonte religiosa xiita disse que Sadr se deslocou de Kufa para a mesquita do Imã Ali, em Najaf, lugar mais sagrado dos xiitas no Iraque. Essa fonte disse que seguidores armados dele patrulham as ruas próximas.
As autoridades norte-americanas anunciaram na segunda-feira a intenção de prender Sadr por sua vinculação com a morte de um religioso xiita, há um ano. Sadr nega participação no crime.
Hamid Al Bayati, porta-voz do Supremo Conselho Xiita para a Revolução Islâmica no Iraque, criticou a ordem de prisão contra Sadr.
- O incidente aconteceu há um ano, e não acho que qualquer iraquiano acredite que sua ordem de prisão aconteça no momento adequado - disse ele à CNN.
- É um momento muito ruim, mesmo que a base seja correta. Não sei por que decidiram agir agora. Isso acontece depois do fechamento de um jornal que não tem nada a ver com a ordem de prisão. Então deve haver outras coisas por trás de todos esses confrontos - disse.
Ontem, combates entre a milícia de Sadr e tropas dos EUA em Bagdá e perto de Najaf mataram 48 iraquianos, oito militares norte-americanos e um salvadorenho. Ao longo da última semana, Sadr vem comandando violentos protestos antiamericanos. Seus seguidores prometem resistir a sua eventual prisão.
Ao contrário do 'establishment' xiita, Sadr contesta a ocupação norte-americana e pede a retirada das tropas. Sua ideologia islâmica e nacionalista tem especial apelo junto a jovens xiitas pobres, que cresceram sob o embargo econômico internacional e a repressão sunita do regime de Saddam Hussein.
Rio de Janeiro, Quinta, 28 de Março de 2024
Sadr não aceita apelo para paz no Iraque
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Publicado Segunda, 05 de Abril de 2004 às 22:36, por: CdB
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