Aos 18 anos, a piauiense participou de sua primeira olimpíada, em Pequim. Já na edição seguinte, em Londres, em 2012, ela retornou ao Brasil com medalha ao derrotar a romena Alina Dumitru
Por Redação, com ABr – de Brasília:
A fala suave e o sorriso angelical de Sarah Menezes, 26 anos, ficam sempre de fora do tatame. Lá dentro, a atleta, primeira mulher brasileira a conquistar ouro no judô, luta com precisão em busca de mais vitórias.
Aos 18 anos, a piauiense participou de sua primeira olimpíada, em Pequim. Já na edição seguinte, em Londres, em 2012, ela retornou ao Brasil com medalha ao derrotar a romena Alina Dumitru.
– Eu sabia que poderia estar no pódio, só não sabia a cor da medalha. (…) Eu estava muito mais confiante que ia ganhar dela do que ela de mim – disse Sarah em entrevista à Agência Brasil.
Mas a atleta militar não chegou ao topo por acaso. Sua trajetória é repleta de bons resultados. Faturou medalhas de ouro na Copa do Mundo de Judô em Lisboa e Madri, ambas em 2009. No ano seguinte, mais duas medalhas em Copas do Mundo, uma prata em Budapeste e um ouro em São Paulo. A atleta também conquistou a medalha de bronze no Pan Americano de Guadalaraja, em 2011.
A piauiense conta que grande parte do resultado se deve a esforço pessoal e insistência. “No início minha mãe não apoiou o judô, quando eu tinha 9 anos. Porque sempre foi um esporte muito masculino, minha cidade não tinha tradição nenhuma de esporte, eu tinha que estudar. Mas eu consegui fazer a cabeça dos meus pais, consegui convencê-los a praticar o esporte na escola e eles cederam.”
O Caminho do Pódio é uma série de entrevistas com nove medalhistas olímpicos brasileiros que à Agência Brasil publica até o dia 10 de maio.
– Qual é a sensação de subir em um pódio olímpico?
– Foi uma sensação muito boa, bem agradável. É uma sensação de alívio, de missão cumprida, de chegar no topo da minha modalidade ao conquistar um título olímpico. Fiquei muito feliz mesmo.
– O que significa ser medalhista olímpica no Brasil, um país onde os atletas, principalmente no começo, ainda têm muita dificuldade para viver só treinando e competindo?
– Para mim, significou meu dia a dia. Desde meus 11 anos de idade, com toda dedicação que tive com o judô. Significou toda a minha vida, o tempo que eu dediquei.
– Quais as maiores dificuldades até as primeiras vitórias no judô?
– Muitas (dificuldades). Muito treinamento, muitas viagens, muito jovem e fora de casa. Desafios, participar de seletivas, competição, correr atrás de patrocínio para custear. Tive muitas dificuldades no início, tinha que ir atrás de patrocínio, não era nada pela confederação, uma vez que eu não era atleta da seleção. Para eu chegar a ser atleta da seleção tinha que participar de algumas competições, seletivas, e, para isso, eu precisava de pessoas para bancar. Então, no início, foi muito difícil para ir atrás de patrocínio. Meus pais iam, meu treinador também e era bem difícil de conseguir.
– E como você conseguiu o patrocínio?
– Consegui levando a convocação, mostrando que eu ia participar de uma seletiva e aí é por sorte né? Eu era muito jovem. A primeira vez [na seletiva] foi com 13 anos. Com 15 anos, eu integrei a seleção brasileira, aí facilitou porque é tudo pago pela confederação. Comecei a lutar com 9 anos e até os 15 foi difícil. Depois que eu entrei na seleção foi mais fácil.
– A sua família dava o apoio necessário para persistir no judô?
– No início, minha mãe não apoiou o judô, quando eu tinha 9 anos. Porque sempre foi um esporte muito masculino, minha cidade não tinha tradição nenhuma de esporte, eu tinha que estudar. Mas eu consegui fazer a cabeça dos meus pais, consegui convencê-los a praticar o esporte na escola e eles cederam. Começaram a acompanhar, mas de longe, porque não tinham tempo para acompanhar de perto. Mas nunca imaginei que fosse tão longe. Eu fui na cabeça do treinador, fui acreditando nas coisas que ele me falava, nos desafios que ia tendo na vida. Eu ia tentando, obtendo resultados e cheguei à seleção.
– Ganhar uma medalha de ouro foi uma surpresa para você ou quando você chegou em Londres pensou ‘essa medalha pode ser minha’?
– Não foi surpresa. Eu sabia que poderia estar no pódio, só não sabia a cor da medalha. Foi uma consequência da competição. As atletas foram caindo antes e eu via que a medalha ia se aproximando. O momento mais difícil foi a terceira luta, contra a chinesa (Wu Shugen). Já a semifinal (contra a belga Charline Van Snick) e a final (contra a romena Alina Dumitru) foram mais tranquilas. A chinesa é uma atleta contra a qual eu já ganhei e já perdi, tinha muito equilíbrio, é uma atleta dura. Já a semifinal foi contra uma atleta que eu nunca tinha perdido, entrei muito mais confiante. E na final também.
– A final não foi contra a campeã olímpica de 2008?
– Foi, mas em todas as competições anteriores eu tinha vencido. Então, eu estava muito mais confiante que ia ganhar dela do que ela de mim. Contra a chinesa, eu já tinha vencido, mas tinha muitas derrotas.
– Como foi chegar em Pequim para sua primeira Olimpíada? Que aprendizados você adquiriu nos Jogos de 2008 que a ajudaram a chegar ao ouro, quatro anos depois?
– Primeiramente, curiosidade de adolescente, né? Vila Olímpica, tudo isso. E quando eu cheguei a Londres já conhecia tudo. A ansiedade e a adrenalina de ir para uma Olimpíada ainda jovem, tudo isso aconteceu em Pequim. Quando eu cheguei a Londres já não era mais novidade. Isso me ajudou bastante, esse amadurecimento.
– Quais dicas você dá para aqueles jovens que pensam em ser atletas profissionais?
– É bem difícil essa situação, mas não pode desistir nunca. Quando tiver a oportunidade, é preciso abraçar, tentar até o final, ir atrás. É um trabalho bem duro, mas é necessário. Tem que ir atrás de patrocinador para custear viagem se você não tiver condição. Mas o importante é não desistir.
– O que te atraiu no judô? Quem foi sua inspiração no esporte?
– Desafio. Sempre fui uma criança que gostava de desafios e no judô você tem que derrubar o colega. Eu acabei gostando da ideia e entrei para conhecer melhor a modalidade. Quando eu comecei tinha muita recreação, mas na hora de lutar eu queria lutar com os meninos.
– A meta do COB para os jogos do Rio é de ficar entre os dez países com maior número de medalhas. Você acredita que é uma meta realista para o país?
– Acredito, temos potencial. Muitos atletas podem surpreender também. Olimpíada é um sonho para cada um, vai depender da cabeça de cada um no dia.
– Os jogos estão se aproximando. Já começa a bater uma ansiedade para entrar logo no tatame?
– Não estou nem um pouco ansiosa. Estou muito calma, sou uma pessoa muito calma. Minha expectativa é sempre boa, espero que a torcida esteja motivada, com energia positiva e que as coisas andem bem.