Entre as máximas políticas atribuídas a Vargas, há uma, de aplicação universal, e provavelmente muito mais antiga: vamos deixar como está, para ver como fica. Mas nem sempre o conselho traz bons resultados. Quando funcionam os meios de comunicação, e certos sentimentos humanos, como os do ressentimento e da inveja, afloram, se as coisas são deixadas como estão, ficam muito piores do que se pode esperar.
Tudo indica que o Sr. Waldomiro Diniz agia sponte sua, como se dizia antigamente, no tempo em que o latim freqüentava mais os jornais do que o inglês, ou seja, por sua própria inspiração, conta e risco. Mas começam a surgir versões adjetivas que levam os cidadãos a desconfiar de que haja mais do que se sabe. Certas pessoas, justa ou injustamente – e isso não vem ao caso – deslocadas de cargos governamentais, começam a lançar fumaças de suspeição sobre o PT. E o próprio Waldomiro, que não fechou totalmente a boca, anda soprando insinuações. No caso, o que ele disser estará sempre sob suspeição. Ninguém pode confiar nas acusações que partam de quem foi filmado e gravado dizendo o que disse e a quem disse. Como estamos em um tempo de ética relativa (ou complacente, como certas e discretas membranas), já há quem o considere um cidadão modesto, por se contentar com a comissão de um por cento.
O fato é que as coisas não podem ficar como estão. Enquanto tudo não for esclarecido plenamente, restarão suspeitas de que elas são muito mais graves, envolvendo outras e respeitáveis personalidades. E, se ficar na defensiva, o governo estará imobilizado. Em casos assim, não adiantam explicações. O que resolve é a exposição clara e transparente dos fatos. Em política – e essa é uma convicção tradicional em Minas – quando se emite uma nota para explicar alguma coisa é porque essa coisa é em si mesma inexplicável. O melhor é lancetar logo o tumor e exibi-lo à luz do dia. Por tudo isso é louvável a atitude de José Dirceu, ao propor, logo no primeiro momento, seu licenciamento do cargo, até a investigação completa dos fatos.
O fim do jogo
Não é preciso freqüentar os bingos, nem jogar nas máquinas caça-níqueis para saber que mafiosos corsos, sicilianos, russos, poloneses e coreanos controlam o jogo no país. É de se lamentar que muitas pessoas sejam condenadas ao desemprego, com a medida do governo. Mas não é com o jogo – que não produz riquezas, mas as dissolve – que iremos resolver o problema do desemprego. A Polícia Federal poderia aproveitar o embalo e verificar os documentos de estrangeiros suspeitos no Brasil. Não é muito difícil: basta dar algumas incertas nos hotéis das grandes cidades e nas pousadas, restaurantes e motéis do litoral, e devolver os indesejáveis aos seus países de origem.
O Brasil algemado
A informação de que o Brasil teve um crescimento negativo no ano passado – o pior desde 1992, nos últimos e lamentáveis meses de Collor – e que o consumo das famílias também se reduziu drasticamente faz concluir que é preciso praticar algumas heresias econômicas e tentar outros caminhos. Realmente não se pode entender como o país patinou no brejo, enquanto os bancos tiveram o maior lucro de toda a sua história. Se o país não cresceu, e os bancos enriqueceram, só podemos concluir que eles se alimentaram da pobreza dos outros, dos que foram condenados ao desemprego ou à redução real dos salários.
Mauro Santayana, jornalista, é colaborador do Jornal da Tarde e do Correio Braziliense. Foi secretário de redação do Última Hora (1959), correspondente do Jornal do Brasil na Tchecoslováquia (1968 a 1970) e na Alemanha (1970 a 1973) e diretor da sucursal da Folha de S. Paulo em Minas Gerais (1978 a 1982). Publicou, entre outros, “Mar Negro” (2002).