Sean Penn sente falta de política no cinema

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 17 de maio de 2004 as 15:56, por: CdB

O Festival de Cinema de Cannes está acontecendo à sombra de questões políticas, mas o ator Sean Penn acha que não há cineastas suficientes dispostos a tratar dos fatos da atualidade.

Protestos trabalhistas de empregados dos setores de entretenimento e hoteleiro vêm causando problemas a Cannes, cidade situada na Riviera francesa. Além disso, na segunda-feira, o diretor norte-americano Michael Moore exibiu pela primeira vez seu documentário anti-Bush “Fahrenheit 9/11”, um entre uma série de filmes com temática política.

Penn, que é abertamente contra a guerra no Iraque, disse que os EUA, sob a égide do presidente George W. Bush, formam um terreno fértil para inspiração.

“Acho que não existe arte que não reaja aos tempos em que é feita, e, francamente, acho que não existem filmes políticos suficientes, nem aqui nem em lugar algum”, disse o ator em entrevista à Reuters.

“A política, como nós a entendemos, está tão presente em nossas vidas, hoje em dia, que, para mim, qualquer quadro que não a reflita merece ser desprezado.”

O ator premiado com o Oscar está sendo visto em “The Assassination of Richard Nixon”, filme baseado na história verídica de um vendedor de móveis que, em 1974, planejou matar o presidente Nixon, chocando um avião comercial sequestrado contra a Casa Branca. O filme está sendo exibido em Cannes fora da competição oficial.

Deixando de lado o paralelo estranho com os ataques que aconteceram de fato em 11 de setembro de 2001, Penn disse que a história, ambientada na época do final da Guerra do Vietnã e do escândalo de Watergate, em 1974, oferece uma parábola interessante sobre os tempos modernos.

“É a história de alguém que sente uma mão apertando seu pescoço e que, pouco a pouco, vai removendo essa mão. Com frequência, quando o coração de uma pessoa está oprimido e silenciado, ela acaba por agir de maneira extrema, violenta e horrível”, declarou Penn.

O ator de 43 anos tem uma atuação delicada e sensível no papel de Sam Bicke, cuja recusa em aceitar valores sociais que considera corruptos o leva a perder família e emprego.

Mais uma vez, Penn atua ao lado de Naomi Watts, que foi sua colega de elenco em “21 Gramas” e agora está quase irreconhecível como sua ex-mulher.

Penn vive uma fase ótima de sua carreira, depois de ganhar o Oscar de melhor ator por seu trabalho em “Sobre Meninos e Lobos”.

No ano passado ele foi fortemente criticado por uma parte da imprensa norte-americana em função da viagem que fez ao Iraque no período que antecedeu a guerra, e falou-se que Hollywood poderia redigir uma lista negra de atores que criticassem o governo.

Sean Penn viu o Oscar que recebeu como sinal de esperança. “Acho que o prêmio quer dizer que, embora seja totalmente justificado temer a redução do espaço para contestação, a tolerância dessa contestação ainda está presente na vontade do povo americano, na vontade do setor em que trabalho e, evidentemente, na vontade do público”, explicou.