O número de prefeituras que decretaram situação de emergência por causa da seca no Rio Grande do Sul subiu de 54 para 68 nesta sexta-feira. A inclusão dos municípios como Engenho Velho, Liberato Salzano e Seberi, no oeste, Tupanciretã, no centro, e São Valentim do Sul, no nordeste, mostra que a estiagem está se espalhar para todo o Estado. Mas é no norte, perto da divisa com Santa Catarina, que a preocupação é maior. Outros dez municípios – Caseiros, Rodeio Bonito, David Canabarro, Almirante Tamandaré do Sul, Cacique Doble, Nova Boa Vista, Ipiranga do Sul, Esmeralda, Vila Lângaro e Engenho Velho – recorreram ao decreto nesta sexta-feira.
O agricultor Eder Cleudenir Gambin, de Caseiros, já admite cortar toda a plantação de milho para transformar as folhas e as espigas, que não se desenvolveram, em pastagem para o gado.
– Perdi 70% – lamenta ele, referindo-se aos oito hectares de onde esperava retirar 760 sacas de 60 quilos do grão e de onde sabe que não vai colher nem 250 sacas.
– Em alguns lugares do município não vemos chuva há 37 dias – informa.
Assim como Gambin, quase toda a população de 3 mil habitantes de Caseiros depende de agricultura e vê a esperança de uma boa safra minguando dia a dia.
– As perdas são consideráveis para um município que depende da economia primária – avalia o secretário de administração de Caseiros, Idenir Daggerone. A quebra já chega a 50% da safra de feijão, 70% do milho e 30% da soja. A coleta de leite também está 25% menor do que no mesmo período do ano passado como resultado da falta de pasto para o gado.
Assim como em Caseiros, nos outros 67 municípios gaúchos que já decretaram situação de emergência e em diversos outros que tomarão a mesma medida nos próximos dias, há inúmeros relatos de perdas agrícolas e de dificuldades impostas pela falta de chuva. Em São Pedro do Sul, na região central, a irrigação do arroz está comprometida. O nível do rio Ibicuí e dos açudes da região estão abaixo do normal.
Em Santa Maria, também no centro do Estado, a prefeitura abastece os distritos de Passo do Verde e Arroio Só com caminhões-pipa. Em Araguari, no interior de Canudos do Vale, o único poço artesiano que abastecia 34 famílias secou, deixando os moradores à espera da chegada dos carros-pipa ou na dependência de longas caminhadas, de até um quilômetro, para retirar a água do filete que ainda escorre num arroio próximo.
A seca do Rio Grande do Sul é resultado da presença de uma massa de ar quente e seco sobre o Estado, o norte da Argentina, o sul do Paraguai e parte de Santa Catarina, que impede a atividade das frentes frias na região, explica o meteorologista Luiz Fernando Nachtigal, da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo. A perspectiva para os próximos dias não é boa. Até o final da semana que vem só estão previstas pancadas isoladas de chuva, todas de curta duração, insuficientes para mudar o quadro de seca na região.
Seca leva 68 municípios gaúchos à situação de emergência
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Publicado sexta-feira, 7 de janeiro de 2005 as 18:29, por: CdB