Um ano depois de uma das maiores secas da história, a falta de chuva volta a ameaçar as lavouras do norte e do noroeste do Rio Grande do Sul. Desde o início da semana passada 22 prefeituras decretaram situação de emergência. Somente nesta terça-feira entraram para a lista os municípios de Viadutos, Jacutinga, Cruzaltense e Tupanci do Sul, todos no norte do Estado.
A Defesa Civil informou que não há risco imediato de desabastecimento de água potável em zonas urbanas. Mas algumas comunidades rurais, como Vila dos Ariju, São Ramão e Inhuporã, no interior de São Borja, e São Roque, em Erechim, já tiveram de ser socorridas por caminhões-pipa dos bombeiros.
Sem chuva desde o início de dezembro, algumas plantações começam a sofrer. O diretor técnico da Emater/RS, Ricardo Schwarz, admite que há redução de 15% no rendimento da lavoura do milho nas regiões mais prejudicadas. No centro do Estado, municípios como Arroio do Tigre já perderam 30% da safra de feijão. E na Serra, os produtores de uva, que esperavam uma supersafra, podem sofrer prejuízos se a chuva não chegar em uma semana.
Na região metropolitana de Porto Alegre, que capta água dos quatro rios que desaguam no lago Guaíba, o abastecimento ainda não é problema, mas os efeitos da seca são visíveis. O nível do Guaíba baixou para apenas 20 centímetros acima do marco zero e deixa expostos diversos locais que estariam submersos se a água estivesse na média anual de 84 centímetros.
A mudança favorece a proliferação de algas, que dão uma cor esverdeada ao lago e, ao mesmo tempo, deixam um cheiro forte na água que chega às torneiras de Porto Alegre. A navegação também está ameaçada. Se o nível continuar baixando, é possível que os navios sejam orientados a reduzir suas cargas para passar pela capital gaúcha. Na quinta-feira passada uma chata carregada com 4,1 mil toneladas de adubo encalhou num canal do rio Gravataí.
A ocorrência de chuva intensa não aparece nas previsões dos serviços de meteorologia para os próximos dias. Há a perspectiva apenas de pancadas esparsas em conseqüência do aumento de umidade e temperatura.
O quadro tende a mudar na segunda quinzena de janeiro, quando o fenômeno El Niño, o aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, mesmo de fraca intensidade, deve provocar a volta da chuva ao Rio Grande do Sul. No ano passado, sem El Niño a seca prolongou-se até maio e 387 dos 496 municípios gaúchos decretaram situação de emergência.
Seca volta a ameaçar o Rio Grande do Sul
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Publicado terça-feira, 4 de janeiro de 2005 as 18:59, por: CdB