Sem novas perspectivas, crises em série levam à quebra do sistema, avalia Dowbor

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Publicado Quinta, 12 de Março de 2020 às 13:51, por: CdB

Nesta semana, o índice Bovespa, que indica o desempenho das ações negociadas no país, despencou 12% na segunda-feira. Foi a maior queda desde 1998, e chegou a fazer as operações serem interrompidas por 30 minutos para tentar minimizar os danos. O fato se repetiu, mais duas vezes, na quarta e nesta quinta-feira.

Por Redação, com RBA - de São Paulo
As crises frequentes exigem que a economia do Brasil e do mundo busquem novas perspectivas para reduzir a desigualdade e impedir o crescimento desenfreado de fortunas privadas. A opinião é do economista Ladislau Dowbor, professor da Pontifícia Universidade Católica de São (PUC-SP).
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O professor Dowbor aponta o risco da concentração de riquezas em uma parcela cada vez menor da população
Nesta semana, o índice Bovespa, que indica o desempenho das ações negociadas no país, despencou 12% na segunda-feira. Foi a maior queda desde 1998, e chegou a fazer as operações serem interrompidas por 30 minutos para tentar minimizar os danos. O fato se repetiu, mais duas vezes, na quarta e nesta quinta-feira. A situação de crise global pega o Brasil em situação de economia estagnada, o dólar a R$ 4,72 nesta quarta-feira, fuga de investidores do país e um desemprego que atinge cerca de 12 milhões de pessoas.

Sistema

Enquanto isso, no outro lado da moeda dessa situação, os quatro maiores bancos do país lucraram R$ 81,5 bilhões em 2019. Segundo Ladislau Dowbor, será preciso mudar a ordem atual, em que o sistema se apropria da política, quando na verdade é a atividade política que deveria regular o funcionamento do sistema financeiro. Dowbor defendeu essa perspectiva em entrevista a jornalistas da rede brasileira de notícias RBA. — Nós temos tecnologias, temos recursos financeiros, mas temos interesses que se cristalizam em grandes fortunas financeiras e também em estruturas de poder muito sólidas e conhecidas, como Wall Street, a City de Londres, são os grandes grupos especulativos. A rentabilidade desses grupos (é alta), porque hoje o dinheiro não é mais uma coisa de papel impressa pelo governo, mas uma coisa imaterial, com sinal magnético, emitida pelos bancos. Então, se perdeu o controle sobre o sistema financeiro — afirmou Dowbor. Ainda segundo o professor, “é um embate político, o que a maioria dos cientistas discute hoje é até quando vai se aproveitar a crise até se gerar a reação suficiente das populações e até dos grande grupos (como as indústrias) para se dizer ‘chega, temos de trabalhar de outra maneira”.

Bancos

Segundo Dowbor, os sistemas tributários dos mais variados países estão extremamente frágeis, o que agrava a atuação dos setores públicos para atenuar a crise. — Você tenta agarrar o dinheiro, e ele escapa, ele se declara com sede jurídica em um paraíso fiscal. Isso está sendo objeto da primeira grande negociação internacional para um sistema tributário planetário — afirma. Trata-se da erosão das bases onde se tributa, mas é necessário tributar a empresa onde ela atua efetivamente, explica o professor. — Ela não pode dizer, eu sou uma empresa da Libéria, na África, e lá não me cobram impostos. Então, a transformação é planetária e na dimensão brasileira é particularmente complicada, porque temos um poder que está nas mãos essencialmente dos bancos. E isso torna muito difícil, temos o casamento do sistema financeiro com a política que ele hoje domina. Em vez do político regular o sistema financeiro, nós temos um sistema financeiro que se apropria da política e isso simplesmente não funciona — concluiu.
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