Serraglio na 'máfia dos frigoríficos' enquanto Dilma fala do ‘governo de ladrões’

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Publicado Sexta, 17 de Março de 2017 às 11:01, por: CdB

Em nota, o ocupante da pasta da Justiça afirmou que a operação é um exemplo "cabal" de que respeita a autonomia da PF. A presidenta cassada Dilma Rousseff discorda e afirma que há uma quadrilha ocupando o poder no Brasil

 
Por Redação - de Brasília e Porto Alegre

 

Ocupante do Ministério da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), empossado no cargo no início deste mês por Michel Temer, foi identificado em ligações investigadas pela Polícia Federal na Operação Carne Fraca. Trata-se da investigaçaão que apura fraudes em fiscalizações do Ministério da Agricultura. Um esquema de pagamento de propina chamado de 'máfia dos frigoríficos'. Mas não foi identificado ato ilícito de Serraglio, afirmou nesta sexta-feira o delegado da PF Mauricio Moscardi Grillo.

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A escolha de Serraglio foi mal recebida na base aliada de Temer na Câmara e, agora, aparece citado em uma investigação sobre a 'máfia dos frigoríficos'

No frigir dos ovos, porém, trata-se de mais um integrante da equipe do presidente de facto, Michel Temer, envolvido em um escândalo de propina. Segue em linha com a afirmação da presidenta deposta Dilma Rousseff, em entrevista concedida a um jornal especializado em economia, para assinantes, nesta sexta-feira, na capital gaúcha.

Propina

Na gravação, Serraglio conversa com Daniel Gonçalves Filho, fiscal agropecuário e superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná entre 2007 e 2016 – apontado pela PF como sendo "o líder da organização criminosa". Ele relaxava a fiscalização dos frigoríficos em troca de propinas.

A ligação teria acontecido em fevereiro do ano passado, quando Serraglio exercia o mandato de deputado federal. Ele teria ligado para o fiscal para conseguir informações sobre uma ação contra o frigorifico Larissa, localizado em Iporã (PR). A empresa pertence a Paulo Rogério Sposito, que se candidatou ao cargo de deputado federal pelo PPS, em 2010.

O ministro se refere ao fiscal como "grande chefe".

 

– O cara que está fiscalizando lá apavorou o Paulo, disse que hoje vai fechar aquele frigorífico...Botou a boca. Deixou o Paulo apavorado – diz Serraglio na gravação.

Gonçalves Filho então entra em contato com a fiscal responsável pela fiscalização e, na sequência volta a falar com Serraglio. Diz que não há nada de errado com a empresa. Sposito, dono do frigorífico, é um dos investigados, alvo de um mandado de prisão preventiva na operação deflagrada nesta sexta-feira.

Conversa degravada

"Se havia alguma dúvida de que o ministro Osmar Serraglio, ao assumir o cargo, interferiria de alguma forma na autonomia do trabalho da Polícia Federal, esse é um exemplo cabal que fala por si só", diz a nota de Grillo.

"A conclusão tanto pelo Ministério Público Federal quanto pelo juiz federal é a de que não há qualquer indício de ilegalidade nessa conversa degravada", acrescenta o delegado.

Moscardi Grillo afirmou, ainda, em entrevista coletiva sobre a operação, que há indicação de que parte da propina a fiscais seria direcionada a partidos políticos.

Ilícitos

Apesar da citação de Serraglio, o juiz Marcos Josegrei da Silva também entendeu que não existiam indícios suficientes contra o ministro. "Não se extraem elementos suficientes no sentido de que o parlamentar (deputado federal) que é interlocutor em um dos diálogos, que detém foro por prerrogativa de função, esteja envolvido nos ilícitos objeto de investigação no inquérito policial relacionado a este feito", diz o juiz em seu despacho.

Segundo ele, é "natural" que os funcionários e servidores do Ministério da Agricultura "busquem auxílio ou intervenção de deputados de seu Estado a fim de viabilizar o atendimento de interesses do órgão", desde que dentro da legalidade”.

Golpe parlamentar

Eleita com 54 milhões de votos e derrubada por um golpe parlamentar, liderado por políticos investigados em esquemas de corrupção, caixa 2 e propina, a presidente deposta Dilma Rousseff concedeu à jornalista Maria Cristina Fernandes sua mais contundente entrevista, divulgada nesta sexta-feira, desde que foi afastada do poder.

Dilma deixou claro que o Brasil é, hoje, um país "governado por ladrões". Não apenas Michel Temer, mas vários de seus aliados foram apontados como corruptos, segundo Dilma.

— O ‘gato angorá’ (em referência a Moreira Franco) tem uma bronca danada de mim porque não o deixei roubar. Chamei o Temer e disse: “ele não fica” — lembrou Dilma. Ela explicava o motivo por haver demitido Wellington Moreira Franco da Secretaria de Aviação Civil. Atualmente, ele ocupa a secretaria da Presidência da República, o que lhe garante foro privilegiado.

Cunha na CEF

Coincidência ou não, Moreira Franco aparece nas delações da Odebrecht. Ele é acusado de cobrar propinas nas concessões de aeroportos.

Sobre Temer, Dilma deixa claro que é o próprio Eduardo Cunha, preso há mais de quatro meses em Curitiba, quem o chama de “ladrão”. E cita as perguntas que tentou encaminhar a ele, mas que foram vetadas pelo juiz Sergio Moro.

— Lá está Eduardo Cunha dizendo que quem roubava na Caixa Econômica Federal, no FGTS, é o Temer. Leia minha filha. Alguém não sabe que o Cunha está dizendo que não foi o Yunes, mas o Temer? — questiona Dilma, mencionando ainda o ex-assessor especial José Yunes, que disse ter sido "mula" de Eliseu Padilha.

Assaltar o país

Dilma explica ainda por que não se aliou a Eduardo Cunha, para tentar evitar o golpe.

— Você está falando de um gângster inteligente. Devia ajoelhar e aceitar as condições?. Você vai me desculpar, mas eu não vou assaltar o país. Eduardo Cunha e eles (a equipe de Temer) assaltam o país — afirmou.

Afastada do cargo em meio ao golpe de Estado, em curso no país, Dilma disse ainda que um de seus erros foi permitir que Michel Temer assumisse a articulação política, ao lado de Eliseu Padilha. Com isso, os dois perceberam as fragilidades da base aliada e prepararam o bote do golpe parlamentar de 2016.

Padilha e outros aliados de Temer, como Geddel Vieira Lima, também são elencados por Dilma na categoria de "ladrões".

— Saber quem eles são, nós sabemos. Não tenho a menor dúvida de quem é Padilha e Geddel. Sabia direitinho. Inclusive uma parte do que sou e da minha intolerância é porque eu sabia demais quem eles eram — concluiu.

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