Sete notas para compreender o que se passa na Crimeia

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Publicado sábado, 1 de março de 2014 as 13:17, por: CdB

A Crimeia, oficialmente é uma península e uma república autônoma da Ucrânia situada na costa setentrional do Mar Negro. Durante a era soviética, a Crimeia foi governada como parte da República Socialista Federada Soviética da Rússia até que, em 1954, foi transferida por Khrushchov para a RSS da Ucrânia como presente de comemoração do 300° aniversário da unificação da Rússia e da Ucrânia.

Por Alberto Sicília, de Kiev, no blog Principia Marsupia:

1. Apesar de fazer parte da Ucrânia, a maioria dos cidadãos da Crimeia são de origem russa. Segundo o último censo nacional de 2001, a composição da população é a seguinte: russos 58%, ucranianos 32%, tártaros 10%.

2. Em Sebastopol, a cidade mais importante da Crimeia, a Rússia tem a base da sua frota do Mar Negro. Segundo o último acordo assinado com o governo ucraniano, a Rússia manteria esse porto até, pelo menos, 2042. “Rússia jamais, jamais, jamais abandonará Sebastopol” dizia há dois anos Igor Kasatonov, comandante da Frota Russa do Mar Negro. Por razões geoestratégicas, a Rússia não está disposta a perder a base de Sebastopol.

3. Dentro da Ucrânia, a Crimeia é uma região autónoma com a sua própria constituição. Nas últimas eleições presidenciais, a Crimeia votou maioritariamente por Yanoukovich, o presidente que teve de fugir há dias de Kiev.

4. Os tártaros constituíram, durante séculos, a maioria da população da Crimeia. Na Segunda Guerra Mundial, cerca de 20 mil tártaros colaboraram com o exército nazi (enquanto outros muitos milhares lutavam nas fileiras do exército soviético). Stalin acusou todo o povo tártaro de “colaboracionismo” e em maio de 1944 ordenou a sua deportação às estepes de Uzbequistão. Em 1947 já não existiam tártaros na Crimeia. Depois da queda da União Soviética, muitos tártaros têm regressado desde o Uzbequistão à Crimeia.

5. A Crimeia, com a sua maioria tártara, fez parte da Rússia desde 1774. Em 1954, Nikita Kruchev transferiu a Crimeia para a República Socialista Soviética da Ucrânia. A decisão resultou muito polêmica em Moscou: na sua carreira como político, Kruchev tinha ascendido através das fileiras do Partido Comunista Ucraniano.

6. Num inquérito realizado há dois anos na Rússia, 70% dos cidadãos russos consideraram a Crimeia como parte do seu país. Em comparação, só 30% considerou que a Chechénia é parte da Rússia. (Curiosamente, a Chechénia faz parte da Federação Russa, enquanto a Crimeia faz parte da Ucrânia).

7. Durante os últimos dias, a maioria russa da Crimeia tem saído à rua para protestar contra o governo recém instalado em Kiev, que consideram ilegítimo. Exigem um referendo onde possam decidir se a Crimeia:
a) continua a fazer parte da Ucrânia,
b) integra-se na Rússia ou c) declara a sua independência.

Contrariamente, as minorias ucraniana e tártara apoiam o novo governo de Kiev e exigem continuar integrados na Ucrânia.

(Tradução de Mariana Carneiro para o Esquerda.net)