O desembargador federal Petrúcio Ferreira decide nesta quinta-feira se concede habeas-corpus à advogada Terezinha Medeiros e ao médico José Sílvio Boudoux. Suspeitos de integrarem a quadrilha de tráfico internacional de órgãos de seres humanos, os dois prestaram depoimento na tarde desta quarta no Tribunal Regional Federal (TRF).
Antes das audiências, a pedido do advogado de Terezinha, Ronnie Preuss Duarte, o desembargador concedeu liminar permitindo que os advogados pudessem ter acesso ao inquérito, que está sob segredo de Justiça. Também nesta quinta expira o prazo da prisão temporária de dez suspeitos, inclusive de Terezinha, presos pela Polícia Federal no último dia 2.
Representando Boudoux, o criminalista José Siqueira Filho protocolou, antes do início dos depoimentos, uma carta, atribuída ao capitão da reserva da Polícia Militar (PM) Ivan Bonifácio da Silva na qual ele isenta o médico de qualquer envolvimento no esquema de tráfico. No texto, Bonifácio afirma que o médico “não tinha conhecimento, através de mim, que pudessem existir possíveis doações de órgãos”.
– O documento prova que o doutor Sílvio não sabia das doações – comentou Siqueira.
Segundo o bacharel, a carta foi iniciativa do próprio Bonifácio.
– O capitão ficou consternado quando viu nos noticiários que o doutor Sílvio estava sendo envolvido nas denúncias e quis esclarecer – disse.
Nesta quarta-feira, o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) divulgou nota informando que irá investigar o envolvimento do médico.
Acompanhada de seu advogado, Terezinha foi a primeira a prestar depoimento ao desembargador. Duarte não revelou o teor do depoimento, mas informou ter feito uma solicitação verbal à Ferreira para ter acesso ao inquérito.
– Aditei um pedido para que o desembargador franqueasse o acesso dos advogados aos autos, inclusive as escutas telefônicas, o que foi atendido – revelou, acrescentando a decisão ser extensiva aos advogados que também entraram com pedidos de habeas-corpus .
– A única condição para isso é que os advogados mantivessem o segredo de Justiça, sob pena de serem responsabilizados – comentou.
Após os depoimentos, Terezinha foi conduzida para a Colônia Penal Feminina do Recife e Boudoux para o Quartel do Derby.
Nesta quinta-feira, Duarte deve ingressar com um pedido de revogação da prisão do bioquímico israelense Eliezer Ramon, na 13ª Vara Federal.
– Não existe nada contra ele – ratificou, confiante na soltura dele.
O advogado lembrou ainda que expira hoje o prazo da prisão temporária de dez suspeitos detidos.
– A juíza (Amanda Torres de Lucena) pode ou soltar ou decretar a preventiva. Iremos aguardar a decisão dela e do desembargador para decidir o que iremos fazer depois – finalizou.
Dos nove mandados de prisão a serem cumpridos pela PF por determinação da juíza Amanda Torres, todos são relativos a pessoas que tinham a função de coordenação da quadrilha de tráfico internacional de órgãos. Segundo informações, eles atuavam no esquema de aliciamento e facilitação das viagens para a África do Sul.
Agentes federais já foram ao endereço dos nove suspeitos, mas nenhum deles estava em casa. Um dos possíveis detidos é um homem chamado Afonso, que atuaria aliciando pessoas no bairro de Areias.
Afonso foi citado como aliciador em depoimento prestado pelo pedreiro José Carlos Conceição da Silva, que realizou a operação para retirada de um dos rins em maio deste ano e recebeu U$$ 6 mil pela venda.
O pedreiro contou ainda que U$$ 4,8 mil foram levados em um assalto ocorrido em São Paulo. Afonso andaria com o capitão da reserva da PM Ivan Bonifácio da Silva, em Areias, principalmente no mercado público do bairro, tentando convencer as pessoas a “doarem” um dos rins.&nb