A maioria dos erros que hoje criticamos ao PT são os de uma coalizão entre partidos de esquerda e de centro-direita que, com Temer, governaram o país nesses últimos 13 anos
Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro
O congresso que emergiu das urnas em 2014 foi o mais reacionário dos últimos 50 anos, e o PT hoje, depois do golpe, tem apenas 1/7 dos parlamentares desse congresso; a esquerda toda não chega hoje aos 20%.
Só para comparar e ver que as proporções nunca foram melhor do que isso, lembremos: nos governos de Lula o PT tinha só 1/6 dos parlamentares. O conjunto da esquerda, no seu melhor momento, chegou a ter apenas 32% de parlamentares no congresso.
Portanto, a maioria dos erros que hoje criticamos ao PT são os de uma coalizão entre partidos de esquerda e de centro-direita que governaram o país nesses últimos 13 anos. O judiciário carrega a ideologia das classes dominantes;nem o Lula nem a Dilma conseguiram produzir nenhuma mudança nesse meio.
Carta aos brasileiros
Isto se explica ao vermos que o Lula chegou ao poder como um líder da esquerda que conseguiu negociar um bom acordo com a direita, o que foi muito claro na primeira eleição e se plasmou na Carta aos Brasileiros. E foi por isso – e só por isso – que conseguiu vencer depois de três tentativas fracassadas.
Lula continuou sindicalista esclarecido e altamente politizado — representante direto das classes trabalhadoras para negociar com dureza dos “patrões” em nível federal. Mesmo assim, a chegada da esquerda ao poder nunca significou uma verdadeira modificação, um giro substancial das antigas relações de força no Brasil. E isto não é bom nem ruim, criticável ou censurável:
É a realidade. Não poderia ter acontecido de outro modo.
Vai definhar
Nesse cenário, a única opção que surge para os próximos anos é o retorno de um Lula, um PT e uma esquerda reciclados, com propostas para a retomada do processo interrompido em 2016. A direita no poder sabe e tem pressa de transformar esse interinato numa rápida força tarefa de trabalho sujo. Sabem também que o povo vai reagir e já se esboçam algumas pesquisas eleitorais para 2018.
O governo Temer, muito provavelmente, vai viver os próximos meses mal-assombrado pelas ameaças de cassação, produzindo algumas reformas regressivas e mais duras. Acuado pelas facções mais liberais e “estruturais” do capitalismo – como a Fiesp, Fierj e FeBraBan. E suas expressões mais fieis, o PSDB e o DEM. Vai, então, definhar, cercado por uma crescente impopularidade.
Enquanto isso, o sistema político se organiza providenciando uma absolvição branca. “À italiana”, aos líderes dos partidos mais importantes envolvidos nas denúncias.
Como Lula ficaria de fora? Absolvendo Alckmin e outros tucanos também?
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil.