Na Cinelândia, palco das maiores manifestações de esquerda a que este país já viu, outra multidão era arrastada no enredo do Bloco Popular Fora Temer!. Não faltaram brados semelhantes nas concentrações que se repetiram, por todos os bairros da Cidade
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
Retirado da cena política por uma série de escândalos emergentes, o presidente de facto, Michel Temer, segue com a família na base da Marinha, em Aratu, litoral da Bahia. A apenas alguns quilômetros de lá, o cantor e compositor Caetano Veloso, de pé, em um trio elétrico na madrugada deste sábado, puxou um vigoroso: ‘Fora Temer!’, no que foi acompanhado por milhares de foliões pelas ruas de Salvador.
Na Cinelândia, palco das maiores manifestações de esquerda a que este país já viu, outra multidão era arrastada no enredo do Bloco Popular Fora Temer!. Não faltaram brados semelhantes nas concentrações que se repetiram, por todos os bairros do Rio de Janeiro. Na capital carioca, a política ganhou, em definitivo, as ruas da Cidade.
Nau de Temer
Diante da placidez do horizonte baiano e a calma que reina na paisagem marinha, Temer enfrenta seus piores pesadelos. Sem o braço direito, decepado na denúncia de José Yunes, um de seus melhores amigos, contra o chefe da Casa Civil afastado Eliseu Padilha, nem o sorriso dos lagartos de Aratu servem de consolo ao peemedebista.
Temer contabiliza; além de Padilha, a retirada estratégica do dublê de chanceler e articulador do golpe de Estado, em curso, o senador José Serra (PSDB-SP). Com dores na lombar, Serra deixa a cena política no momento em que a nau capitaneada por Temer começa a fazer água. E o número de defecções tende a aumentar após o reinado de Momo.
Os mineiros, sempre mais comedidos na folia pública, mas animadíssimos nas conspirações (quase) secretas, não foram vistos gritando para que o inquilino de Aratu voltasse, em definitivo, para a capital paulista. Mas deixaram exposta a fratura na base aliada do Planalto. O rompimento é o primeiro de uma série, tanto na Câmara quanto no Senado.
Rompimento
A escolha Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça foi o gatilho para o rompimento de parcela do PMDB. Vice-presidente da Câmara, o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) ratificou o seu rompimento pessoal com Michel Temer. Com ele, parte do ‘Centrão’ fica mais acessível para os encantos da oposição. Cresce o número daqueles parlamentares que preveem a naufrágio do atual governo, no tsunami da Operação Lava Jato.
O cargo, cobiçado pela bancada do PMDB mineiro, foi apenas o motivo imediato para o rompimento.
— Estou rompendo com o governo e vou colocar toda a bancada de Minas para romper também. Se Minas Gerais não tem ninguém capacitado para ser ministro, não devemos apoiar esse governo — concluiu o parlamentar.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.