Tendência de morte por câncer de mama aumenta entre mulheres negras

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Publicado Quinta, 28 de Outubro de 2021 às 09:39, por: CdB

Segundo dados apresentados no estudo, houve 60.940 mortes registradas por câncer de mama no estado no período, 46.365 em brancas e 10.588 em mulheres negras, conforme apontam os pesquisadores. As taxas de mortalidade para 100 mil mulheres em 2017 foram de 16,5 nas brancas e 9,6 nas negras.

Por Redação, com ABr - de Brasília

Pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou uma tendência de aumento na taxa de mortalidade por câncer de mama entre mulheres negras, enquanto entre as mulheres brancas a tendência foi de redução, considerando a população do estado de São Paulo, no período de 2000 a 2017.
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Estudo mostra que entre as mulheres brancas a tendência é de redução
O estudo Disparidades raciais na mortalidade por câncer de mama de 2000 a 2017 em São Paulo, Brasil, realizado por pesquisadores do Caism - Hospital da Mulher José Aristodemo Pinotti, foi publicado pela revista BMC Cancer. Segundo dados apresentados no estudo, houve 60.940 mortes registradas por câncer de mama no estado no período, 46.365 em brancas e 10.588 em mulheres negras, conforme apontam os pesquisadores. As taxas de mortalidade para 100 mil mulheres em 2017 foram de 16,5 nas brancas e 9,6 nas negras. Em 2000, as taxas foram de 17,1 e 7,4, respectivamente.

Novos fármacos e terapias

De acordo com os pesquisadores, a redução da mortalidade por câncer de mama é o resultado de melhor acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento oportuno, citando ainda a evolução terapêutica, o desenvolvimento de novos fármacos e terapias específicas como fatores de impacto nesses resultados. A conclusão do artigo relata que as divergências observadas entre mulheres brancas e negras podem indicar desigualdade no acesso a cuidados de saúde de alta complexidade nesta área.

Mais acesso a diagnóstico e tratamento

Com o objetivo de pedir apoio para as políticas públicas que facilitem o acesso ao diagnóstico e tratamento do câncer de mama, o Senado realizou no dia 26 deste mês sessão solene sobre o tema. A ação fez parte do encerramento da campanha Outubro Rosa, que visa compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença que, em 2020, vitimou 685 mil mulheres em todo o mundo. Durante a sessão, o senador Marcelo Castro (MDB-PI) citou dados de um levantamento feito no ano passado pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, em inglês), segundo o qual o câncer de mama tornou-se o tipo de câncer mais diagnosticado em todo o mundo. Conforme a pesquisa, os novos casos deste tipo de câncer ultrapassaram, pela primeira vez, os de pulmão, que são a causa mais comum de morte por câncer. Apenas em 2020, foram 2,3 milhões de novos casos da doença em todo o mundo. – No Brasil, a estimativa aponta para incidência de 66 mil casos novos de câncer de mama em 2020, número que corresponde a um risco estimado de, aproximadamente, 62 casos novos a cada 100 mil mulheres. Com cerca de 18 mil óbitos anuais, essa neoplasia também é, entre nós, a causa mais frequente de morte por câncer entre as mulheres, independentemente da condição socioeconômica, superando inclusive, o câncer de pulmão que mais mata os homens – disse Castro. O senador Wellington Fagundes (PL-MT) defendeu a necessidade ampliar os esforços para que as mulheres tenham acesso fácil ao diagnóstico precoce da doença. De acordo com Fagundes, é preciso liberar o acesso aos exames de mamografia para detecção precoce do câncer de mama para mulheres de 40 a 49 anos no Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, a política do Ministério da Saúde para o tema diz que o acesso no SUS deve ser feito para mulheres de 50 a 59 anos. O senador defende, porém, a votação, pela Câmara dos Deputados, de um projeto de decreto legislativo para derrubar a portaria com a limitação. – A proposta foi apresentada pelo senador Lasier Martins (Podemos-RS) e acolhida, posteriormente, em plenário, por todos nós, senadores e senadoras. Infelizmente, essa decisão ainda depende da Câmara dos Deputados. Até lá, somente mulheres de 50 a 59 anos de idade podem fazer o rastreamento mamográfico na rede pública – afirmou Fagundes. Para a mastologista do Hospital de Base de Brasília Carolina de Miranda Henriques Fuschino, quanto mais fácil o acesso à mamografia, à realização de biópsia e ao início do tratamento com quimioterapia e radioterapia,ao procedimento cirúrgico, mais chance a paciente tem de recuperação. “Há muita vida após o diagnóstico, e não precisamos ter medo do câncer de mama. Nós precisamos enfrentá-lo. Precisamos tratá-lo logo que descoberto. Educar, apoiar e cuidar”, disse a médica.

A medida

A medida também é apoiada pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), que defende, juntamente com o Colégio Brasileiro de Radiologia e a Federação Brasileira dos Especialistas, o acesso à mamografia para mulheres na faixa de 40 a 50 anos, porque, segundo o presidente do Departamento de Políticas Públicas da entidade, João Bosco Ramos Borges, porque o Brasil é um dos poucos países que têm grande incidência de câncer em mulheres jovens. Borges disse que a limitação vigente no SUS traz desigualdade no acesso ao tratamento, uma vez que a mamografia já é liberada na rede privada a partir dos 40 anos. – Todos nós que atendemos pacientes que têm convênio e fazem rastreamento a partir dos 40, temos resultados excelentes com essas mulheres. No entanto, [o atendimento] é privado, há falta de equidade com relação ao SUS, que rastreia a partir de 50 anos. Entendo as dificuldades econômicas, mas não deve ser isso – acrescentou Borges. O médico disse ainda que apenas cerca de 50% dos tumores no Brasil hoje são descobertos pelas mulheres em autodiagnósticos ou quando palpados por médicos e que é preciso educar as mulheres para que não tenham medo de realizar o procedimento da mamografia. “Isso é um desastre. Por quê? Porque o tumor que aparece na mamografia e não aparece clinicamente tem próximo de 90% de cura e o tumor que é palpado cai isso em aproximadamente 20% a 30%. Então, temos que fazer diagnóstico precoce, temos que fazer mamografia, temos que ampliar o acesso ao SUS das mulheres abaixo de 50 anos. Temos que melhorar o programa de agentes de saúde em um país em que as mulheres têm educação em saúde baixa, temos que fazer equidade com relação ao tratamento”, defendeu. Outra medida defendida por especialistas é a derrubada de um veto do presidente Jair Bolsonaro a um projeto que propõe o acesso rápido a medicamentos orais contra a doença. O ponto vetado amplia a cobertura de atendimento dos planos de saúde a esses medicamentos. De acordo com a senadora Leila Barros (Cidadania-DF), a derrubada do veto vai significar um avanço no tratamento do câncer, entre eles o de mama. – Cabe a nós, congressistas, derrubar o veto e assegurar às brasileiras e aos brasileiros esse direito fundamental, quando se depara com o desafio de enfrentar um câncer. Seria, portanto, mais uma conquista do Outubro Rosa – afirmou a senadora.
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