Na tentativa de fugir do apoio ao golpe, Bolsonaro mente e é desmentido

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Publicado Sexta, 28 de Fevereiro de 2020 às 11:09, por: CdB

O presidente, nas duas ocasiões em que ofendeu a ex-apoiadora, disse que o vídeo divulgado por Magalhães é de 2015. Mas foi desmentido, nesta manhã, uma vez que naquele ano Bolsonaro era deputado, e não presidente.

Por Redação - de Brasília
Flagrado ao convocar seus confrades à manifestação contra a Câmara, o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou, nesta sexta-feira, sair pela tangente. Como de hábito, preferiu o ataque como forma de se eximir do ato que lhe renderá mais um processo na Corte Suprema, por atos contra o regime democrático.
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Bolsonaro ao lado de Nascimento, locutor do vídeo que chama para protesto contra a democracia
Na véspera, por duas vezes, Bolsonaro agrediu a colunista do diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo Vera Magalhães, esquecendo-se de que ela foi um dos sustentáculos de sua campanha, há apenas um ano e quatro meses. Bolsonaro acusou a jornalista de mentir ao divulgar que ele compartilhou dois vídeos para seus contatos no WhatsApp, convocando para as manifestações golpistas do próximo dia 15. O presidente, nas duas ocasiões em que ofendeu a ex-apoiadora, disse que o vídeo divulgado por Magalhães é de 2015. Mas foi desmentido, nesta manhã, uma vez que naquele ano Bolsonaro era deputado, e não presidente, e a facada sofrida por ele – que aparece na gravação – “ocorreu na campanha de 2018”, defendeu-se a colunista, nas páginas do diário.

Desmentido

Além disso, o vídeo faz clara menção a Bolsonaro já no cargo de presidente. “(...) Temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível”, diz o texto da gravação. Ainda assim, Bolsonaro insistiu que o vídeo é antigo e insultou a jornalista. — Vera Magalhães, eu não sou da tua laia. (...) Ela queria dar um furo de reportagem com aquele meu vídeo convocando o pessoal para 15 de março, mas no seu afã de dar o furo rapidamente, ela esqueceu de ver a data que era 2015. Se bem que dá para ver, perceber um pouquinho no meu semblante, que estou um pouco mais jovem. Mais um trabalho porco que a mídia toda repercutiu — disse o presidente na transmissão ao vivo, mais uma vez em tom jocoso e sexista. Pela manhã, na entrevista diante do Alvorada, Bolsonaro havia sido questionado se o seu aval às manifestações contra o Congresso poderia atrapalhar o governo. — Estou aguardando a Vera mostrar o vídeo dela. E não vai mostrar, né? O caráter dela… — retrucou, sem concluir a frase. Vera Magalhães, contudo, revelou que Bolsonaro apóia o golpe contra as instituições republicanas, ao compartilhar dois vídeos convocando para os protestos. Na publicação, divulgou também a foto da tela do celular, que mostra o presidente como autor dos disparos, além dos vídeos.

Suspeito

Em um dos vídeos compartilhados por Bolsonaro, que o coloca na direção de um processo no STF, a locução é de um funcionário público, muito próximo ao presidente. Trata-se do diretor de uma autarquia federal, a Embratur. Silvio Santos Nascimento, coordenador-geral de Publicidade e Propaganda da empresa pública, abre o vídeo dizendo: — Por que esperar pelo futuro se não tomarmos de volta o nosso Brasil (...) Basta! O Brasil só pode contar com você. Temos um presidente cristão, patriota, justo e incorruptível. Dia 15 de março, mostre que você é patriota e ama o Brasil. Publicitário pernambucano, Silvio dos Santos Nascimento foi empossado em junho do ano passado por Jair Bolsonaro, em ato público na sede da empresa. Mesmo naquela época, Nascimento já estava no foco de uma investigação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por fraude no Fundo Partidário. Ex-vice-presidente do diretório do Partido Social Liberal (PSL) pernambucano, Nascimento foi denunciado por gastar R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na pequena gráfica Vidal, em Amaraji, na Zona da Mata, para imprimir material de campanha. Às autoridades, o suspeito declarou ter gasto R$ 25 mil com a gráfica, que pertence a um integrante do diretório estadual do PSL, naquele Estado.

Facada Fest

A gráfica, no entanto, recebeu R$ 1,23 milhão em verbas públicas, autorizados por Nascimento e outros seis candidatos do partido. O então candidato conquistou, no entanto, apenas 14 mil votos e não se elegeu. O diretor da Embratur também dirige a agência Movie Comunicação, cujo site está fora do ar. A proximidade entre ele e o presidente é constatada no apoio do atual mandatário para a candidatura de Nascimento ao governo do Estado, que não teve força dentro do partido para seguir adiante. Enquanto tenta se desvencilhar do apoio a um protesto criminoso, o ministro da Justiça, Sergio Moro, persegue quem critica o presidente. Em mensagem publicada nesta sexta-feira, em uma rede social, Moro nega que tenha sido dele dele a decisão de abrir inquérito contra artistas de um coletivo de rock de Belém. "Mas poderia ter sido”, emendou. Os organizadores de um evento de punk-rock chamado Facada Fest são investigados por supostos crimes contra a honra do presidente; além de apologia ao homicídio.
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