Pauta político-institucional esvaziada, “zum zum zum” crônico e “bateção de cabeça” marcam os 1ºs 3 meses de governo. Não há 1 semana em que o presidente não esteja envolvido numa crise ou cometa alguma gafe que atrapalhe as articulações do Planalto, seja no Congresso, seja na sociedade.
Por Marcos Verlaine - de São Paulo O ano político começou entre os dias 1º e 2 de fevereiro, com a posse dos deputados federais e senadores e a abertura dos trabalhos no Poder Legislativo, portanto, há 2 meses. Bolsonaro tomou posse no dia 1º de janeiro. Vai completar 3 meses de mandato. Desde a redemocratização não se via tanta confusão na república, em início de novo mandato presidencial.Formação do governo
Tendo optado pela montagem do governo por fora dos partidos políticos, o governo patina no Congresso, com a reforma da Previdência, sua pauta prioritária. Por isso não consegue construir maioria robusta para tocar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. Os partidos, em particular na Câmara, onde a proposta espera iniciar formalmente o debate na CCJ, não se sentem comprometidos em assumir a agenda do governo. Estruturado sob coalisão partidária, o presidencialismo brasileiro e o processo político-institucional não podem prescindir dos partidos políticos, pois toda institucionalidade passa por essas organizações. Tendo inovado, agora o presidente parece não saber o que fazer para superar as dificuldades para a montagem da maioria parlamentar, a fim de sustentar sua agenda no Legislativo.Confusão entre aliados
No Congresso, tem sido comum ver, ler e ouvir, na mídia ou nas redes sociais, aliados trocarem farpas e baterem boca contra ou a favor do governo. A confusão mais recente é protagonizada pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP). Kataguiri defende o presidente da Câmara no entrechoque com o governo. Enquanto Hasselmann defende o presidente da República e acusa Maia de atrapalhar a vida do governo.Sem maioria
Sem condições de engajar os partidos que em tese dão sustentação ao governo no Legislativo, o governo não consegue articular maioria e se perde em confusões laterais, que tem servido para impactar a agenda única do governo no Congresso. A reforma da Previdência não é do Congresso. Esta pauta é do governo, que a enviou para análise do Legislativo no dia 20 de fevereiro. Mas antes de tudo, é do mercado, que há muito tempo intenta privatizar a Previdência Pública. Por meio dos líderes do governo na Câmara, no Senado e no Congresso, o governo tem mecanismos para “tocar” sua agenda no Congresso. Não o faz porque falta-lhe as condições objetivas para tal. Faltam ideias e sobram confusões. Falta liderança e sobram vaidades. Falta conteúdo concreto e sobram bate-bocas inócuos. Em meio ao vazio político-institucional, o presidente perde protagonismo e apoio político na sociedade, pois esta vai percebendo que o “mito” vai dando lugar à realidade, que lhe cobra ações concretas para os problemas concretos, que vão além das demandas do mercado. Marcos Verlaine, é jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap.As opiniões aqui expostas não representam necessariamente a opinião do Correio do Brasil