Vai esquentar – delator deporá na Quarta-feira

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Publicado segunda-feira, 15 de setembro de 2014 as 17:27, por: CdB
Colunista Celso Lungaretti - O vaivém das pesquisas hipnotiza os leigos, mas o jogo parece já estar decidido. Poderia ter virado caso o Lula houvesse entrado na liça, substituindo a perdedora anunciada.
Colunista Celso Lungaretti – O vaivém das pesquisas hipnotiza os leigos, mas o jogo parece já estar decidido. Poderia ter virado caso o Lula houvesse entrado na liça, substituindo a perdedora anunciada.

O ministro Teori Zavascki, do STF, reconheceu o direito da CPI da Petrobras de chamar para depor o delator premiado Paulo Roberto Costa, o que deverá ocorrer na sessão da próxima 4ª feira, 17. Segundo ele, a convocação é “prerrogativa constitucional” das comissões parlamentares de inquérito e “independe de prévia autorização judicial”, não cabendo ao STF “nenhuma providência especial”.

Com isto, deverá esvair-se parte do fôlego que a campanha de Dilma Rousseff ganhou nos últimos dias impingindo ao público desinformado lorotas sobre bancos, herdeiras e atribuições do BC. Ficará a mancha na sua ficha, por haver assumido ela própria a tarefa de disseminar simplismos, falsidades e tendenciosidades, ao invés de deixar a inglória missão para os blogueiros amestrados.

E, claro, o PIG dará o troco atirando nas costas de Dilma, tanto quanto possível, as responsabilidades pelo propinoduto da Petrobrás. No período abarcado pela denúncia, faria mais sentido inculpar o Lula, mas hoje não é ele o alvo preferencial. E la nave va…

Deploro que a campanha continue transcorrendo como uma batalha de tortas de lama, com as intenções de votos sendo movidas pelo que se vai trombeteando de (real ou supostamente) negativo sobre os principais candidatos. Parece até uma conspiração para estimular o voto nulo.

No essencial, só por milagre, a esta altura do campeonato, Dilma evitará o 2º turno. E, havendo 2º turno, só por milagre ela vai conseguir prevalecer sobre uma Marina Silva que disporá então de tempo idêntico no horário eleitoral, além de contar com o apoio de quase todos que são contrários ao PT (uma legião!).

De quebra, há que se considerar o desgaste inerente ao exercício prolongado do poder e o mau momento da economia.

O vaivém das pesquisas hipnotiza os leigos, mas o jogo parece já estar decidido. Poderia ter virado caso o Lula houvesse entrado na liça, substituindo a perdedora anunciada. O momento passou, os dados estão lançados e a esperança é que o PT faça depois uma profunda autocrítica.

A volta às origens é a caminho que vejo para ele não repetir a melancólica trajetória dos antecessores que começaram na esquerda e foram, cada vez mais, endireitando e/ou se tornando fisiológicos, como o PTB, o PDT, o PMDB e o PSDB.

SERÁ QUE O PT VAI ARGUIR A PRÓPRIA TORPEZA COM OBJETIVOS ELEITOREIROS?

A notinha é do responsável interino pelo Painel Político da Folha de S. Paulo -aquele sujeito que fez grande alarde a respeito da intenção de Marina Silva de respeitar a anistia de 1979, enquanto omitia que Dilma Rousseff e Aécio Neves já tinham assumido publicamente a mesmíssima posição pusilânime-, não estando, portanto, imune a erros de informação ou por falta de isenção:

“Depois do pré-sal e da relação com os bancos, a próxima arma de Dilma Rousseff para minar Marina Silva será a política externa. O PT vai acusar a candidata do PSB de pôr o comércio brasileiro em risco ao defender que questões ambientais e de direitos humanos sejam levadas em conta nas negociações sobre comércio internacional. Segundo petistas, isso poderia afetar as vendas de empresas brasileiras para países como China e Rússia, grandes compradores de soja, carne e minério.
O programa de Marina diz que o Brasil não pode ‘desconsiderar as diferenças nas agendas econômica, política, cultural e ambiental dos Brics, assim como nos direitos humanos'”.

Se o PT vier mesmo a defender o pragmatismo cínico, nocivo e desumano nas relações internacionais, estará se evidenciando um partido imoral, que argui a própria torpeza (o abandono oportunístico de suas bandeiras históricas) para dela extrair benefícios eleitoreiros. Uma caricatura da sigla idealista que os sindicalistas do ABC, os sobreviventes da luta contra a ditadura e a esquerda católica engendraram. Um monstruoso mr. Hyde tomando o lugar do abnegado dr. Jekyll de outrora.

Só para lembrar, eis como o partido se posicionou em seu manifesto de fundação:
“As riquezas nacionais, que até hoje só têm servido aos interesses do grande capital nacional e internacional, deverão ser postas a serviço do bem estar da coletividade…
O PT lutará por todas as liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela democratização da sociedade em todos os níveis…

…O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo”.

A dar-se crédito ao interino, para ganhar outra eleiçãozinha de uma série que até agora não fez avançar um milímetro “a construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores e dos demais setores explorados pelo capitalismo” (um objetivo expresso no manifesto de 1980), o PT estaria disposto a impudicamente trombetear que é certo:

– colocarmos os negócios à frente dos princípios;
– mandarmos às favas a preservação do patrimônio natural indispensável à sobrevivência da espécie humana;
– privilegiarmos os interesses dos grandes exportadores de soja, carne e minério, traindo o compromisso de “solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo”.

Se isto realmente acontecer, será o caso de considerarmos morto o partido que alguns dos melhores brasileiros criamos nos idos de fevereiro de 1980 e afirmamos graças aos esforços desmedidos de uma militância corajosa e digna.

Celso Lungarettijornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Naufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título.

Direto da Redação é um fórum de debates, do qual participam jornalistas de opiniões diferentes, dentro do espírito de democracia plural, editado, sem censura, pelo jornalista Rui Martins.