Mais uma transação em dinheiro do publicitário Marcos Valério está na mira da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios. O jornal Folha de S. Paulo, desta quinta-feira, mostra que Valério teria feito uma tranferência eletrônica, no final de 2003, de R$ 902 mil do Bank Boston para pagar ao fazendeiro Glênio Guedes.
Guedes era do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro, quando começou em 1998, e um dos procuradores responsáveis pela emissão de pareceres nos julgamentos do conselho, que analisa recursos de instituições financeiras multadas ou punidas pelo Banco Central, pela Comissão de Valores Mobiliários ou pela Secretaria de Comércio Exterior. Guedes foi afastado quando se tornou pública sua ligação com o publicitário.
Os dados foram enviados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) à Procuradoria Geral da República e à CPI dos Correios, na Câmara, onde o publicitário depôs na quarta-feira. Valério, negou na CPI que suas empresas tivessem feito qualquer pagamento a Guedes, mas confirmou que elas compravam passagens de avião para o procurador, que depois fazia o reembolso.
– Conversávamos muito sobre cavalos e desenvolvemos uma relação muito íntima. Não estava me relacionando com o procurador da Fazenda, mas com uma pessoa que tem o mesmo gosto que o meu. Viajamos muito pelo mesmo esporte – afirmou.
Na agenda de 2003 que sua ex-secretária, Fernanda Karina Somaggio, entregou aos integrantes da CPI, constam freqüentes contatos do publicitário com o fazendeiro, citado mais de dez vezes em telefonemas para celular. Segundo ela, contas de celular do procurador eram pagas pela agência de publicidade SMP&B, de Marcos Valério. Guedes terá que responder a uma sindicância interna e depor em inquérito da Polícia Federal.
Marcos Valério ainda vai depor na CPI desta quinta-feira, para explicar a “movimentação de recursos incompatíveis com o patrimônio, atividade econômica ou ocupação profissional e capacidade financeira presumida do cliente”, segundo relatório entregue pela Coaf. O documento mostra que, nas contas da DNA Propaganda no Banco Brasil, passaram R$ 836 milhões, entre 1999 e maio deste ano. Sendo R$ 458,9 milhões sem origem identificada. O Coaf encontrou ainda “transferências unilaterais freqüentes ou de valores elevados especialmente a título de doação”.
O publicitário é acusado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser operador do mensalão – propina paga a deputados do PP e do PL para que votassem projetos de interesse do governo federal.