Vamos relançar O Petróleo é Nosso!

Arquivado em:
Publicado Segunda, 03 de Dezembro de 2018 às 20:29, por: CdB
Vi, num antigo vídeo do programa do Jô Soares, o presidente eleito Bolsonaro criticar os que entregam as riquezas do Brasil para os Estados Unidos. Mas deve ter levado uma pancada na cabeça, pois mudou de opinião e virou entreguista. quer entregar a Petrobras aos americanos. Vamos precisar relançar a campanha nacionalista O Petróleo é Nosso. Por Rui Martins, de Genebra:
DIRETO-RUI-MARTINS-300x169.jpg
A Petrobras passará a ser PetroUSA
Ah, pode ser que me engane, mas ainda vou ver muito bolsonarista ir buscar no armário sua camiseta verde-amarela, não para mais um desses desfiles nacionalistas anacrônicos insuflados pela extrema-direita, porém para reviver as manifestações de 1948, nas quais as multidões clamavam “O Petróleo é Nosso”. Contra um projeto do presidente da época, general Eurico Gaspar Dutra, de Estatuto que privatizava a exploração, refino e distribuição do petróleo. Sem dúvida, nesse remake da nova campanha nas ruas em defesa do nosso ouro negro, que o governo Bolsonaro pretende entregar de mão-beijada às empresas norte americanas, haverá cartazes com o sorriso do velhinho, como cantava Chico Alves, na campanha pela eleição de Getúlio Vargas que, como presidente, criou a Petrobras. Ressurgirá o rosto de Leonel Brizola que, se em 1964 resistiu ao Golpe militar, não deixará de resistir à tentativa de nos roubarem nossa maior fortuna, a Petrobras. E reforçando o cortejo não faltarão os caminhoneiros, utilizados ainda este ano pela extrema direita, mas convencidos do erro de terem votado no chamado “mito” ao saberem que a privatização do petróleo levará ao preço internacional do produto refinado com um aumento substancial nas bombas de diesel e gasolina. Remexendo nos papéis deixados por meu pai, encontrei num baú, um pacote de ações de uma das empresas de prospeção e exploração de petróleo, criadas, nos anos 30, na região paulista da sorocabana. Perfurações chegaram a ser feitas no vale da região próxima da atual cidade de Torre de Pedra. Não saiu petróleo, só o cheiro, era água sulfurosa que, desde 1934 até hoje, continua jorrando. As ações não valem mais nada, as empresas da época faliram, porque o então ditador Getúlio Vargas não acreditava, naquela época, na existência de petróleo no Brasil. Quem acreditava era um sonhador escritor Monteiro Lobato, que, naquela época, defendia a exploração do petróleo pelos próprios brasileiros e chegou mesmo a alertar Vargas, sem convencê-lo do interesse das empresas norte americanas, como a Standard Oil, em manter em segredo a riqueza petrolífera do Brasil, embora estivesse mapeando as regiões petrolíferas para uma exploração futura.

(Foto: Reprodução)

(Foto: Reprodução)

Lobato, diante do desinteresse governamental, defendia uma exploração privada, mas por empresas brasileiras. A situação se complicou quando na Bahia sua empresa achou gás e petróleo e Vargas passou a acreditar no petróleo e decretou que todas as áreas petrolíferas encontradas ou a descobrir seriam de propriedade do Estado Poucos dias antes de morrer, Lobato, que escrevera dois livros na época censurados e postos fora de circulação — O Escândalo do Petróleo e mesmo uma versão infantil da questão petrolífera, O Poço do Visconde, deu seu apoio à campanha pelo monopólio estatal do petróleo, que agitava o Brasil. O futuro superministro da Economia Paulo Guedes, assim como o presidente eleito Bolsonaro, mais outros ministros da extrema direita liberal querem se desfazer da Petrobras e da Eletrobras, pouco se importando com as consequências em termos de aumento do preço dos combustíveis e da eletricidade para o povo. Mesmo porque até hoje não se preocuparam em se encontrar com representantes dos trabalhadores das diversas categorias e Bolsonaro chegou a pensar em acabar com o Ministério do Trabalho. Não é preciso ser profeta para prever começar pelos combustíveis e eletricidade o descontentamento popular. Não se trata de uma campanha de mau agouro, mas de uma consequência natural da privatização desses dois setores essenciais à vida dos brasileiros e que se refletem no custo de todos os produtos de consumo. E é difícil de se imaginar uma modificação da lei da previdência com a privatização da Petrobras e Eletrobras sem manifestações de rua, provavelmente brutalmente reprimidas. Que governo vem aí, em janeiro, também com a criação de vigilantes nas escolas para dedurar professores, pressão contra os jornais a começar pela Folha, com um ministro da Educação interessado em comemorar o Golpe de 1964? Os evangélicos, com seu dom de profecia, que o digam! ** Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI. Editor do Direto da Redação.
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo