A demora em anunciar a reforma ministerial tem trazido tensão na relação do Palácio do Planalto com o Congresso. Setores da base aliada que vinham mantendo um perfil moderado, passaram a criticar o governo e reivindicar melhor tratamento.
A avaliação é que a segunda metade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será ainda mais pragmática e menos ideológica. O jogo para acomodar novos aliados na Esplanada dos Ministérios vem sendo caracterizado por setores mais à esquerda da base aliada como um movimento em direção à centro-direita.
“Esperamos que o governo não caminhe mais para a direita. Ele precisa criar uma coalizão, mas esperamos que isso não aconteça (o redirecionamento ideológico)”, disse o líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES).
O partido ocupa a pasta de Ciência e Tecnologia, com o deputado Eduardo Campos, e não está previsto um novo cargo para a legenda.
A reforma ministerial desenhada por Lula tem duas metas: reacomodar as forças de apoio e construir uma base sólida de alianças para a eleição presidencial de 2006.
Apesar da expectativa de que a reforma sairia nesta semana, Lula afirmou nesta quinta-feira que ainda está “pensando” na reorganização do primeiro escalão.
O presidente dá indicações que aumentará o espaço do PMDB no Executivo (hoje o partido ocupa as pastas de Comunicações e Previdência). A legenda agrega diversas tendências ideológicas e abriga duas alas distintas, uma que prega o apoio ao governo e outra que defende o rompimento.
O presidente também deve dar um ministério de peso ao PP, partido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PE), e do ex-prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. O PP é originário de legenda que apoiava a ditadura militar (1964-1985).
Severino afirmou nesta tarde que seu partido se sentirá desprestigiado se não receber uma pasta de grande influência. “Tenho confiança no bom senso das pessoas do Palácio do Planalto”, disse.
Também a senadora Roseana Sarney (PFL-MA) será contemplada com uma pasta, como prêmio ao apoio que seu pai, José Sarney (PMDB-AP), vem dando ao governo. Para isso, Roseana deve se desligar do oposicionista PFL, legenda na qual se elegeu deputada federal, governadora por duas vezes e senadora.
Assim que seu nome foi ventilado, o PT maranhense divulgou documento com críticas à indicação. Para o partido, tratava-se de um “retrocesso”, de um “desvio ideológico” ter a senadora na equipe de governo.
PMDB, PP e PFL apoiaram o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Enquanto isso, o líder do governo na Câmara, deputado Professor Luizinho (PT-SP), garantiu que o PT perderá pelo menos duas pastas para acomodar novos aliados. O partido de Lula ocupa 19 das 35 pastas na Esplanada. “O PT entende que o presidente precisa fazer as mudanças necessárias”, disse. Uma perda petista dada como certa é o ministro da Saúde, Humberto Costa.
Na prática, o que o governo Lula leva em conta para fazer as alterações é o número de parlamentares das legendas e a quantidade de votos que cada partido da base garante em votações –a identidade ideológica não parece estar nas preocupações.
Na Câmara, o PMDB é uma das maiores bancadas, o PP é a quinta, enquanto o PSB tem apenas 16 parlamentares, sendo a oitava maior representação.
“Nós damos fidelidade ao governo e, em troca, recebemos as costas”, reclamou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS), um dos defensores mais árduos do Palácio do Planalto no Congresso. Ao lado de Luizinho, Beto tem um perfil de bombeiro.
O líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), usa exatamente os números da bancada para defender a reforma e rejeita qualquer mudança ideológica para a direita.
“O governo está apenas dando espaço para acomodar os aliados e não haverá alteração de perfil. Fomos eleitos para rejeitar o modelo neoliberal e iniciar a transformação social do país. Estamos incluindo pessoas que se identificam com essa causa”, disse Rocha, um dos principais int