Venezuela: a luta entre o velho e o novo

Arquivado em: Arquivo CDB
Publicado segunda-feira, 5 de dezembro de 2005 as 15:09, por: CdB

Os venezuelanos foram chamados a votar pela terceira vez em pouco mais de um ano: primeiro, no referendo constitucional sobre a continuidade ou não do mandato do presidente da República – procedimento democrático unicamente presente na Constituição desse país. Em seguida, votaram para a renovação das autoridades municipais em todo o país. Agora, neste domingo, os venezuelanos votaram para a renovação do Parlamento.

Essas votações se dão no marco de um extraordinário e profundo processo de transformações no país, do qual não podem ser desvinculadas. Diante do esgotamento definitivo da capacidade de governo dos partidos tradicionais – Ação Democrática, social democrata, e Copei, democrata cristão -, abriu-se ao longo da década de 90 uma profunda crise hegemônica na Venezuela. No seu sentido gramsciano, é uma situação em que se dá um desencontro radical entre as forças sociais e suas formas de representação política.

Nesse vazio se projetavam duas soluções por fora das alternativas tradicionais. A candidatura favorita, no início da campanha presidencial de 1998 era uma ex-miss universo, Irene Saez, candidata dos banqueiros venezuelanos, refugiados em Miami, diante do escândalo da quebra do sistema bancário privado. Hugo Chavez havia aparecido à vida política do país por um movimento de oficiais das FFAA em protesto pelo pacote neoliberal que Carlos Andrés Perez havia baixado, nem bem havia sido eleito de novo à presidência, abandonando o programa social-democrata do seu partido – de maneira similar a FHC no Brasil. Este foi derrubado por denuncias de corrupção – como aconteceu com Collor no Brasil – e preso.

A candidatura de Hugo Chavez apareceu como alternativa de esquerda à crise de hegemonia, acabou triunfando há exatos 7 anos e desde então passou a colocar em prática um cada vez mais extenso e profundo processo de transformações sociais, econômicas e políticas. Este se chocou frontalmente com os interesses da oligarquia venezuelana, que havia protagonizado um dos casos mais impressionantes de corrupção no nosso continente, ao se valer dos ganhos do petróleo, não para desenvolver econômica e socialmente o país, mas para enriquecer-se pessoalmente.

Estes setores reagiram de forma violenta, como se sentissem que o que consideravam “seu país” lhes estava sendo tomado, por forças populares. Estas violentas reações, articuladas com o governo estadunidense, incluíram um golpe de Estado, em abril de 2002, conduzido pelo monopólio privado da mídia, as entidades empresariais e os partidos tradicionais. Este movimento foi derrotado por uma impressionante mobilização popular, quando o povo se deu conta do que estava acontecendo. Incluíram também um lock-out prolongado, através do qual tentavam gerar uma situação econômica insustentável para o governo. A reação deste incluiu, por sua vez, a retomada de controle por parte do governo da PDVSA, a empresa estatal do petróleo, até ali dominada por uma tecnocracia com mentalidade privada, junto a uma aristocracia sindical, ligada aos partidos tradicionais.

O governo sobretudo colocou em prática um programa de resgate social – em que Cuba tem um papel essencial de apoio -, que permite atualmente ao governo de Hugo Chavez dispor de um apoio de mais de 70%, conforme as pesquisas de empresas privadas. Por outro lado, derrotada nesses embates, a oposição jogou todas suas cartas no referendo constitucional de agosto deste ano, acreditando que poderia revogar o mandato do presidente. Sua derrota – com um resultado de 59% a 41% -, cuja legitimidade de procedimento foi atestada pela Fundação Carter e pela OEA.

A partir dali, a oposição ficou dividida entre voltar a tentativas golpistas, alentada pelo governo Bush, ou seguir tentando obter espaços no sistema institucional, que havia ampliado sua legitimidade. Diante das eleições parlamentares desta semana, voltou a se dividir entre esses dois pólos. Uma parte dela participou, com pouca adesão popular, enq