A cartada das forças neofascistas que atuam na tentativa de abalar a democracia, no país vizinho, partiu desta vez do reitor titular do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Juan Carlos Delpino Boscán.
Por Redação – de Brasília
Um movimento articulado há mais de um mês pela ultradireita venezuelana tomou de assalto o noticiário do meios conservadores de comunicação latino-americanos, de forma concentrada, nesta segunda-feira. Mas o ruído foi tão alto que setores da diplomacia brasileira detectaram o movimento brusco da oposição ao regime do presidente Nicolás Maduro, conforme apurou a reportagem do Correio do Brasil, junto a oficiais que conhecem, de perto, a realidade venezuelana.
A cartada das forças neofascistas que atuam na tentativa de abalar a democracia, no país vizinho, partiu desta vez do reitor titular do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Juan Carlos Delpino Boscán. Ele emitiu, nesta manhã, um longo comunicado no qual aponta “a falta de transparência e a veracidade dos resultados anunciados” do processo eleitoral de 28 de julho.
“Tudo o que aconteceu antes, durante e depois das eleições presidenciais aponta a gravidade da falta de transparência e veracidade dos resultados anunciados”, afirmou na denúncia, publicada quase um mês depois das eleições, em todos os meios de comunicação aliados à direita, na Venezuela, no Brasil, na Argentina e no Chile, segundo levantamento da Rádio Havana, de Cuba.
Protocolos
Delpino destacou que o processo eleitoral se desenvolveu inicialmente com poucos incidentes. Teria sofrido, contudo, sérios problemas após o fechamento dos locais de votação.
“Após o encerramento dos locais de votação, ficou evidente um incumprimento de regras e regulamentos essenciais. Quando foram relatados incidentes de despejo de testemunhas da oposição durante o encerramento das assembleias de voto, o que constituiu uma violação direta dos princípios da equidade e da não observância dos direitos dos eleitores de terem acesso aos registos de votação, comprometendo a legitimidade do processo em esses centros de votação”, escreveu.
Segundo os protocolos, de acordo com Delpino, a transmissão dos resultados deveria ser feita imediatamente após o encerramento das mesas. No entanto, foi nesse período que a transmissão foi interrompida e esta interrupção foi justificada por um alegado hacker, “havendo silêncio e um atraso inexplicável”.
Trama
O roteiro divulgado por Juan Carlos Delpino, no entanto, estava longe de ser uma surpresa para o governo do presidente Maduro. A trama fazia parte da operação realizada pela oposição venezuelana para alegar fraude após tomar conhecimento dos resultados das eleições presidenciais de 28 de julho, conforme já havia denunciado o primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, há mais de 30 dias.
Durante a transmissão do programa semanal ‘Con El Mazo Dando’, Cabello garantiu que Delpino, totalmente identificado com a ultradireita, sairia “para declarar o que seus patrões lhe ordenam” depois de conhecidos os resultados.
— O Delpino está envolvido na operação de fraude, de alarde de fraude, e ele vai sair falando o que quiser ou o que seus patrões mandarem. Sempre foi assim, antes de termos Vicente Díaz, (Roberto) Picón, eles eram seus agentes (da direita) — previu.
Hacker
Ainda nesta segunda-feira, uma outra alegação dos opositores, de que não teria havido um pesado ataque hacker aos computadores do CNE, caiu por terra. Espontaneamente, o criminoso digital conhecido como ASTRA confessou a sua participação no ataque à autoridade eleitoral venezuelana e outros múltiplos ataques cibernéticos contra instituições do país, com o objetivo de desestabilizar o governo Maduro. Os dados foram transmitidos, nesta segunda-feira, pela Rádio Havana, de Cuba.
ASTRA, líder do grupo autodenominado ‘Cyber Hunters’, admitiu que realizou sofisticadas operações cibernéticas para sabotar o sistema eleitoral do país, expondo assim a sua clara intenção de interferir na vontade do povo venezuelano.
“Da mesma forma, reconheceu que a sua equipe manipulou uma ‘máquina fantasma’ da CNE, de onde conseguiu saturar as portas de ligação e afetou gravemente o sistema, o que atrasou a publicação dos resultados das eleições de 28 de julho, mas sem conseguir alterá-los. Estes atos constituem uma clara tentativa de boicotar o processo democrático e legitimar acusações infundadas de fraude, demonstrando a natureza criminosa das suas ações”, noticiou a Rádio Havana.
Venezuela ainda tem democracia? Esta morta a mais de 20 anos.