Agricultores e militantes ligados à Via Campesina, organização presente em 56 países, promoveram nesta terça-feira duas mobilizações no Rio Grande do Sul em defesa da reforma agrária. Pela manhã, cerca de mil pessoas devem marchar do Parque Harmonia até a Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), sede da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural.
Em frente à universidade, os trabalhadores rurais já montam barracos de lonas pretas. Ainda nesta terça-feira, um outro grupo de agricultores faz visita em solidariedade aos cerca de 2 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que ocupam, desde 28 de fevereiro, a Fazenda Guerra, no município de Coqueiros do Sul (RS).
Segundo informações da Via Campesina, a Fazenda Guerra tem 7 mil hectares e já foi ocupada três vezes pelo MST. Os movimentos alegam que a fazenda não cumpre função social, tendo histórico de dívidas bancárias e descumprimento da legislação trabalhista e ambiental. No sábado, as famílias sem-terra receberam ordem judicial para deixar o local. A Brigada Militar do Rio Grande do Sul pode realizar operação de reintegração de posse até esta quarta-feira.
Integrante da Via Campesina, o MST cobra do governo federal o cumprimento de metas de assentamento no estado. Segundo a organização, estava previsto o assentamento de 15 mil famílias no Rio Grande do Sul até 2006, mas só 220 famílias foram assentadas em novas áreas no estado desde 2003. Para discutir assuntos como esse, a Via Campesina realiza esta semana em Porto Alegre o Fórum Terra, Trabalho e Dignidade, atividade paralela à 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), em parceria com o governo brasileiro.
Os agricultores discordam dos números do governo sobre a reforma agrária porque só consideram realmente assentadas as famílias levadas a terras desapropriadas ou compradas. Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, na Amazônia, por exemplo, devem ser contabilizados os casos de titulação de terra de posseiros. O ministério também afirma que os programas de crédito fundiário atendem a demanda de parte dos movimentos sociais do campo, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e as Federações de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetrafs).