Os critérios para incluir quem poderá se beneficiar pela nova lei serão regulamentados com auxílio do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim)
Por Redação, com ACS – do Rio de Janeiro:
Mulheres vítimas de violência doméstica, de tráfico de pessoas ou de exploração sexual passarão a ter prioridade nos programas habitacionais implementados pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro. É o que determina a Lei 7.757, sancionada pelo governador Luiz Fernando Pezão e publicada no Diário Oficial de terça-feira.
De acordo com o texto, que teve como base projeto da deputada Zeidan, 4% das unidades dos programas habitacionais do Estado deverão ser reservadas para atender mulheres vítimas desses crimes.
Os critérios para incluir quem poderá se beneficiar pela nova lei serão regulamentados com auxílio do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim).
O secretário de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, Átila Alexandre Nunes, destacou a importância da lei.
– Ter acesso facilitado aos programas habitacionais do governo é um grande ganho para as mulheres vítimas de violência no nosso Estado; principalmente para aquelas que estão abrigadas. Muitas vezes, ao deixarem os abrigos onde se recuperaram de agressões sofridas; elas não têm um local para morar, não podem voltar para os lares onde viviam com o agressor; ou não possuem parentes que possam abrigá-las. Reconstruir sua vida em um novo lar é uma questão de dignidade – afirmou o secretário.
Abrigo Cristo Redentor
Antônio Lúcio da Glória é o tipo do sujeito que não pode engrossar o coro dos que odeiam segunda-feira. A mais recente delas foi especial. Na verdade, uma das mais marcantes dos seus 66 anos. Morador do Abrigo Cristo Redentor, em Bonsucesso, Seu Antônio recebeu a visita da irmã mais velha, Vera Lúcia. Os dois se agarraram. Se beijaram, se apertaram e não queriam mais se soltar. Mãos unidas o tempo todo. Tinham motivos de sobra para ficarem tipo carne-unha: não se viam há 40 anos.
Em pouco mais de duas horas de papo, eles queriam lembrar de tudo o que viveram juntos. Queriam contar tudo o que passaram longe um do outro. Ali, era como se o tempo tivesse parado pra eles.
– Meu irmão foi muito levado quando criança – lembrou Vera, nostálgica; passando as mãos sobre a cabeça dele, como se dissesse “esse aprontou muito”.
Entre palavras, gestos e carinhos, Vera buscava entender como seu irmão tinha vivido esses 40 anos. Casou? Teve filhos? Como veio parar no abrigo?
Com a calma de um pacato senhor de 66 anos, Seu Antônio foi contando tudo. Sem pressa, sem afobamento. Casou, sim. Teve dois filhos e trabalhou numa padaria depois que saiu da casa do pai; em São Paulo, para vir para o Rio de Janeiro. Não perdeu a serenidade nem ao contar o capítulo mais dramático de sua vida; um atropelamento na Central do Brasil, que lhe custou a visão e sérios problemas de memória. Com a vida fragilizada pelo acidente, Seu Antônio passou a pular de abrigo em abrigo. Há dois anos, chegou ao Cristo Redentor. Encontrou o carinho que buscava. Diz ter sido tão bem acolhido que abre parênteses na sua história para agradecer.
– Tive a sorte de vir parar aqui. Fui bem tratado, recebi amor. E eles é que me ajudaram a encontrar você, Vera – emocionou-se.
Busca
De narrador, Seu Antônio passou a ouvinte. Vera também quis contar tudo o que viveu. Com a memória mais intacta aos 67 anos, explicou que a separação entre eles e os outros dois irmãos aconteceu depois que seu pai decidiu se mudar para São Paulo. Ela bateu pé e ficou no Rio. Por aqui, montou uma enorme família, com nove filhos, 20 netos e três bisnetos.
– Quero que você conheça todos eles, meu irmão. Seu aniversário é no próximo mês, vamos fazer uma festa especial para você! – comemorou.
– Então quero uma festa do Botafogo e do Corinthians, meus times – rebateu ele, arrancando sorrisos de quem acompanhava o encontro.
A missão do Abrigo
Coube a Cintia de Lima Oliveira, assistente social do Abrigo, contar como conseguiu reunir os irmãos novamente.
– Eu precisava saber que tipo de relação ele tinha com a família, saber os vínculos; saber os dois lados da história. E perguntei para o Seu Antônio se eu poderia procurar algum parente. Ele me disse que tinha uma irmã e que sentia muita saudade dela.
Feliz ao receber o aval para buscar a irmã, Cintia se empenhou a fundo. Para ela, missão dada é missão cumprida. Rodou delegacias. Mas os dados estavam sempre desatualizados. Garimpando nas redes sociais, enfim; encontrou o perfil do filho da Vera Lúcia. Entrou em contato e conseguiu juntar os dois novamente.
– Esse é o ganho: trazer de volta o sorriso para essas pessoas – destacou Cintia, sem conseguir esconder a emoção.
Mais idosos sem referência familiar
Assim como Seu Antônio, o Cristo Redentor tem outros 45 idosos sem referência familiar. E um dos trabalhos da equipe é reunir parentes.
– O trabalho é árduo. Unimos toda a nossa equipe em busca dos paradeiros de algum parente para podermos realizar cada dia mais esses encontros. É emocionante promover isso – afirmou Tania Lima, responsável pelo Abrigo.
O secretário Gustavo Tutuca comemorou o reencontro; e ressaltou a importância do trabalho dos assistentes sociais.
– Quero agradecer e parabenizar toda a equipe do Abrigo Cristo Redentor. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas; podemos trazer a felicidade para os nossos idosos com essa união familiar – destacou.
O Abrigo Cristo Redentor é uma entidade vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social