Rio de Janeiro, 27 de Dezembro de 2025

Anistia Internacional denuncia 13 mil enforcamentos na Síria

Desde o início da guerra civil, as autoridades sírias executaram até 13 mil pessoas em enforcamentos coletivos numa prisão ao norte de Damasco

Terça, 07 de Fevereiro de 2017 às 08:05, por: CdB

Em relatório, ONG revela detalhes de execuções em massa realizadas secretamente desde 2011 em prisão militar. Objetivo das mortes, autorizadas pelo regime, seria impedir qualquer forma de dissidência

Por Redação, com DW - de Beirute:

Desde o início da guerra civil, as autoridades sírias executaram até 13 mil pessoas em enforcamentos coletivos numa prisão ao norte de Damasco, denunciou a Anistia Internacional nesta terça-feira. O presídio foi apelidado pelos detentos de "matadouro".

Em relatório, a ONG revela que, entre 2011 e 2015, grupos de até 50 detentos eram enforcados regularmente na prisão de Saidnaya. Os presos incluíam ex-militares suspeitos de deslealdade e pessoas envolvidas em revoltas contra o governo.

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Desde o início da guerra civil, as autoridades sírias executaram até 13 mil pessoas em enforcamentos coletivos numa prisão ao norte de Damasco

As execuções ocorriam uma ou duas vezes por semana, à noite e em segredo. Os detentos eram chamados pelo nome e levados com os olhos vendados a outra cela. Onde eram espancados e depois mandados a outro edifício para serem enforcados, segundo a ONG.

– As vítimas eram em sua maioria civis, acusadas de se oporem ao governo – diz o relatório. "Muitos outros detentos da prisão militar de Saidnaya foram mortos após serem repetidamente torturados e privados de comida, água, medicamentos e tratamento médico."

"Campanha secreta e monstruosa"

A Anistia destacou que, antes de serem enforcados, os detentos de Saidnaya eram apresentados perante o que se denomina corte militar de campanha, onde ficavam, no máximo, dois minutos. As sentenças se baseavam em confissões extraídas sob tortura.

É provável que a prática, autorizada por autoridades do governo e realizada pela polícia militar – ainda esteja em vigor, diz a Anistia. As mortes são descritas como uma "campanha de execução extrajudicial".

– Os horrores descritos neste relatório revelam uma campanha secreta e monstruosa. Autorizada pelo mais alto nível do governo sírio. Com o objetivo de esmagar qualquer forma de dissidência na população síria – diz Lynn Maalouf, vice-diretora de pesquisa da Anistia em Beirute.

As constatações do relatório divulgado nesta terça-feira são resultado de entrevistas com 31 ex-detentos e mais de 50 autoridades e especialistas. Incluindo antigos juízes e guardas da prisão de Saidnaya.

Governo fala em propaganda

Num relatório do ano passado. A ONG apontou que mais de 17 mil pessoas morreram após serem torturadas e maltratadas em prisões sírias desde 2011. O número é comparável aos da província de Aleppo, uma das piores zonas de guerra do país. Onde 21 mil pessoas foram mortas.

O governo do presidente Bashar al-Assad raramente comenta alegações de tortura e execuções em massa. No passado, autoridades negaram massacres denunciados por grupos de direitos humanos internacionais, descrevendo-os como propaganda.

Negociações de paz sobre a Síria previstas para o fim deste mês em Genebra "não podem fechar os olhos para essas descobertas", diz Maalouf. "Pôr fim a essas atrocidades deve fazer parte da agenda, e a ONU deve realizar uma investigação independente."

Estado Islâmico

A cidade de Al Bab, principal bastião do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) na província de Aleppo, no norte da Síria. Está completamente cercada devido a avanços do Exército sírio e de seus aliados. Afirmou na segunda-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos.

O avanço das forças de segurança da Síria interrompeu a principal rota de abastecimento dos extremistas. Que ligava Al Bab a outras regiões controladas por jihadistas. Os militantes do "Estado Islâmico" estão agora cercados ao sul por militares do regime do presidente Bashar al-Assad. Ao norte, leste e oeste por rebeldes apoiados pela Turquia.

Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos, os combates na região continuaram ao longo desta segunda-feira, numa tentativa de ampliar o cerco a Al Bab por parte dos efetivos governamentais, que contam com o apoio de milícias xiitas.

Tropas leais ao governo sírio interditaram no domingo a estrada que liga Al Bab ao leste de Aleppo e às províncias de Al Raqqa e Deir ez Zor. O que deixou a cidade completamente isolada. Os militares sírios também tomaram a área de Uishia, que fica a algumas centenas de metros dessa estrada.

Progressos

Com esses progressos, os efetivos governamentais também conseguiram impor um cerco às populações de Tadaf, Bazaa e Qabasin, dominadas pelo EI e nas imediações de Al Bab.

As operações do Exército transcorrem em paralelo às de rebeldes sírios, que têm o apoio de combatentes e aviões turcos. Mas que negam a existência de qualquer tipo de coordenação com as autoridades sírias.

Em três semanas, forças de segurança de Assad avançaram seis quilômetros em direção à Al Bab. Damasco pretende interromper a expansão das tropas turcas no norte do país. Em agosto, a Turquia lançou uma ação militar na Síria que visava proteger suas fronteiras dos jihadistas e conter os avanços de milícias curdas na região.

Al Bab, localizada a 25 quilômetros da fronteira com a Turquia, fica a cerca de 40 quilômetros ao nordeste da cidade de Aleppo. Onde o governo conquistou sua mais importante vitória nos quase seis anos de conflito, ao expulsar os rebeldes.

Com o cerco a Al Bab, aumentam as chances de confronto entre militares sírios, de um lado, e rebeldes sírios e soldados turcos, do outro, pelo controle da cidade.

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