Rio de Janeiro, 11 de Dezembro de 2025

Assassinatos de sem-terra serão investigados, garante ministro

Segundo o movimento dos sem-terra, as duas pessoas que morreram são os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, de 44 anos, e Leomar Bhorbak, de 25 anos. Ambos eram do Acampamento Dom Tomás Balduíno

Sábado, 09 de Abril de 2016 às 12:20, por: CdB

Segundo o movimento dos sem-terra, as duas pessoas que morreram são os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, de 44 anos, e Leomar Bhorbak, de 25 anos. Ambos eram do Acampamento Dom Tomás Balduíno

Por Redação, com Sputnik Brasil - de Brasília
O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, determinou à Polícia Federal a instauração de um inquérito para apurar a morte de dois camponeses na última quinta-feira, na cidade de Quedas do Iguaçu, região oeste do Paraná. Os dois eram integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e foram baleados durante um confronto com policiais militares. O ministro da Justiça determinou, ainda, o envio da Força Nacional para a região.
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Companheiros dos sem-terra mortos na última quinta-feira se emocionam no último adeus
Segundo o movimento, as duas pessoas que morreram são os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, de 44 anos, e Leomar Bhorbak, de 25 anos. Ambos eram do Acampamento Dom Tomás Balduíno, localizado na fazenda da empresa de celulose Araupel. Além das mortes, sete pessoas ficaram feridas, cinco já receberam alta do hospital. A fazenda da Araupel é motivo de conflito desde a primeira ocupação do MST no local, em 1996, quando dois integrantes do movimento também morreram em um confronto com funcionários da empresa. A área onde o MST está acampado atualmente foi ocupada há cerca de dois anos e é razão de briga judicial entre a Araupel e o movimento. O MST pediu a punição imediata dos policiais militares responsáveis pela morte dos trabalhadores rurais. A Polícia Civil do Paraná investiga o caso e o Comando-Geral da Polícia Militar determinou a abertura de um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do confronto.

Versões diferentes

A Secretaria de Segurança Pública do Paraná e o MST relatam versões diferentes do ocorrido e as duas entidades dizem que foram vítimas de emboscada do grupo contrário. A versão do órgão estadual é de que, devido ao conflito agrário, quatro policiais da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) acompanharam policiais do Batalhão Ambiental e funcionários da Araupel no combate a um incêndio florestal dentro da fazenda. “O grupo teria sido vítima de uma emboscada organizada por mais de 20 integrantes do MST e reagiu ao ataque”, informou a secretaria. A polícia afirmou ter encontrado armas de fogo com os camponeses mortos. Segundo a secretaria, um dos membros do MST disse, em depoimentos à Polícia Civil de Cascavel, que o primeiro tiro partiu de um dos integrantes movimento e que a polícia apenas revidou. Na versão do MST, cerca de 20 integrantes do movimento realizavam uma ronda de rotina ao redor do acampamento onde vivem quando foram surpreendidos pelos policiais militares e seguranças da Araupel. Eles teriam disparado contra os veículos onde estavam os integrantes do MST, que tentaram fugir pela mata. O movimento ressaltou que os dois mortos foram baleados pelas costas e também negou que tenha havido um incêndio na região.

Disputa pela terra

A disputa pela posse da terra provocou a morte de duas pessoas e deixou outras seis feridas na quinta-feira, em uma área rural de Quedas de Iguaçu, no Paraná. Polícia Militar e integrantes do MST divergem sobre as causas do episódio. Segundo o MST, um grupo dos sem-terra que integram o acampamento localizado na área da madeireira Araupel foi alvejado por seguranças da empresa e policiais militares quando transitava pelo local. Já a Secretaria Estadual de Segurança Pública alega que uma equipe ambiental foi chamada a uma área de nome Fazendinha para verificar um foco de incêndio quando foi atingida por disparos realizados pelos sem-terra. O incidente deixou dois sem-terra mortos e cerca de 20 feridos, três em estado grave, conforme relato à agência russa de notícias Sputnik de um integrante da direção nacional do MST, Antônio Miranda. A PM informa que enviou equipes para socorrer as vítimas. e um helicóptero foi utilizado para remoção dos feridos. Testemunhas do MST que não querem se identificar, no entanto, dizem que os integrantes foram baleados pelas costas. O Instituto Médico Legal não se pronunciou sobre essa versão, e anunciou que divulgará um laudo em 15 dias. A Araupel é uma empresa de reflorestamento e beneficiamento de madeira instalada na região há quatro décadas. Em julho de 2004, a área da fazenda foi invadida por centenas de famílias de sem-terra, e desde então o clima é de tensão na região. A titularidade da área está sendo analisada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região. Hoje, segundo o próprio MST, o acampamento dos sem-terra tem 2.500 famílias, com cerca de 7 mil pessoas. Antônio Miranda, do MST, nega que tenha havido confronto. — Quem está dizendo isso é a Polícia Militar. Houve uma emboscada da Polícia Militar junto com os jagunços da Araupel, coordenados pelo Senhor Tarso e também pelo Rossoni, que é o chefe da Casa Civil. Nós do MST desde o início viemos denunciando no Ministério Público e nos direitos humanos a truculência da Polícia Militar aqui na região — afirmou. O MST alega ainda que as lideranças locais estão sendo ameaçadas pessoalmente. Em relação à Justiça, o Movimento lembra que a discussão sobre a posse da terra em questão já está na primeira instância, que a reconheceu como terra pública da União, o que provocou um questionamento da empresa. Hoje, o assunto está sendo analisado na 4.ª Vara, e não existe mandado de reintegração de posse – a Araupel alega ter um. — A questão fundiária no Brasil tem que ser tratada com justiça social. O que as empresas fazem, os latifundiários fazem e o Estado faz? Estão tentando criminalizar a luta pela terra. Trata-se de questionar e fazer ocupação em terras que são públicas e que são as melhores do mundo e têm pinus e não produzem alimento saudável para a população brasileira — afirmou Miranda.
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