BC: Rombos na conta corrente brasileira vão ficar em níveis recordes em 2014 e 2015

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Publicado Sexta, 19 de Dezembro de 2014 às 14:54, por: CdB

A esperada melhora gradual da economia global e a recente alta do dólar, que tende a beneficiar a balança comercial, não serão suficientes para desafogar a conta corrente brasileira em 2015, que ainda vai amargar rombos históricos como neste ano. O Banco Central piorou, nesta sexta-feira, sua projeção de déficit na conta corrente do Brasil neste ano a US$86,2 bilhões, sobre saldo negativo de US$80 bilhões calculados até então. Se confirmado, será o maior rombo na série histórica do BC, tomando o lugar do déficit de pouco mais de US$81 bilhões do ano passado.

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O Banco Central piorou, nesta sexta-feira, sua projeção de déficit na conta corrente do Brasil neste ano a US$86,2 bilhões
Um dos fatores que levaram a essa piora foi a balança comercial, que o BC calcula agora que fechará 2014 com déficit de US$2,5 bilhões, bem pior do que o superávit de US$3 bilhões esperado antes, no que seria o primeiro saldo negativo desde 2000. A estimativa de uma balança deficitária levou em conta a desvalorização de commodities com peso importante nas exportações brasileiras, como minério de ferro, e saldo negativo na conta petróleo. A visão do BC sobre o comércio internacional do país é pior do que a de economistas consultados em pesquisa Focus da própria autoridade monetária, de saldo negativo de US$1,6 bilhão neste ano. O primeiro da nova equipe econômica do governo não deve ser muito melhor. O BC prevê para 2015 déficit em transações correntes de US$83,5 bilhões, um pouco menor do que deve ser registrado neste ano, beneficiado por um pequeno superávit na balança comercial, de US$6 bilhões. - O impacto da desvalorização cambial (do real sobre o dólar) observada nos últimos meses tende a contribuir para que o câmbio médio de 2015 seja maior do que o de 2014 - afirmou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, acrescentando que a perspectiva de maior crescimento global de 2015 também tende a contribuir no comércio exterior. Só entre setembro e novembro, o dólar subiu quase 15% ante o real, que continua pressionado agora, na casa de R$2,65. O movimento vem em meio ao cenário de aversão a risco no exterior e com investidores à espera de medidas concretas que a nova equipe econômica --encabeçada pelos ministros indicados Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento), além do presidente do BC, Alexandre Tombini-- deve tomar em breve para enfrentar o cenário de inflação elevada e baixo crescimento econômico. - Esta (conta corrente) é uma evidência poderosa, em última análise, de que a taxa de câmbio real ainda não depreciou até o ponto onde vai ajudar as contas externas - afirmou em nota o diretor de pesquisas para mercados emergentes do Goldman Sachs, Alberto Ramos, para quem o valor justo do dólar seria de R$3,1 a R$3,2. O cenário do balanço de pagamento brasileiro fica ainda mais nebuloso diante das previsões do BC sobre o Investimento Estrangeiro Direto (IED), que não compensará o rombo na conta corrente. O BC vê que o IED somará US$63 bilhões em 2014, mantendo a projeção anterior, e US$65 bilhões em 2015. - O déficit em transações correntes não é nem um pouco confortável - disse à agência inglesa notícias Reuters o economista-chefe da Canepa Asset, Alexandre Póvoa, que trabalha para 2015 com um cenário em que esse saldo negativo fique em torno de 3% do PIB. Póvoa avalia que a conta externa dos país está vulnerável porque há vários riscos espalhados no mundo abrangendo a alta dos juros nos EUA, incertezas sobre a China e a crise na Rússia. Se em meio a esses riscos houver maior aversão ao risco isso poderá afetar fluxos financeiros e, em situação extrema, o IED. Novembro No mês passado, houve déficit em transações correntes de US$9,333 bilhões, recorde para novembro, influenciado pela balança comercial e remessas de lucros e dividendos ao exterior. No acumulado em 12 meses encerrados no mês passado, o déficit em conta corrente do país ficou em 4,05% do Produto Interno Bruto (PIB), o mais alto desde dezembro de 2001 (4,19%), informou o Banco Central nesta sexta-feira. O rombo na conta corrente no mês passado não foi compensado integralmente pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED) que, no período, somou US$4,644 bilhões. O déficit nas transações correntes --que abrangem a importação e a exportação de bens e serviços e as transações unilaterais do Brasil com o exterior-- foi impactado pelas remessas líquidas de lucros e dividendos, que somaram US$2,704 bilhões em novembro, ante US$2,842 bilhões em igual mês do ano passado. Também continuou pesando a balança comercial, com déficit de US$2,351 bilhões, depois de ter mostrado superávit de quase US$1,8 bilhão um ano antes. Para dezembro, a previsão do BC é de um déficit de US$6,2 bilhões na conta corrente do país com o exterior.  

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