Rio de Janeiro, 18 de Dezembro de 2025

BRICS estudam moeda comum para o bloco econômico

Três países dos BRICS do continente eurasiático são também os três maiores acionistas do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), iniciativa com que a China blinda ainda mais o seu poderio econômico internacional.

Segunda, 29 de Junho de 2015 às 11:55, por: CdB
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Nesta segunda-feira, representantes de 50 países-cofundadores do AIIB assinaram, em Pequim, o acordo sobre a criação do banco O embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro

 

Três países dos BRICS do continente eurasiático são também os três maiores acionistas do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, na sigla em inglês), iniciativa com que a China blinda ainda mais o seu poderio econômico internacional.

Nesta segunda-feira, representantes de 50 países-cofundadores do AIIB assinaram, em Pequim, o acordo sobre a criação do banco, dando início formal à sua atividade.
 
A Rússia é a terceiro maior país cofundador, com 65.362 ações e 5,92% dos votos. Os primeiros são a própria China (20,06% dos votos) e a Índia (7,5% dos votos).

O quarto lugar nesta lista é ocupado pela Alemanha e o quinto, pela Coreia do Sul.

O alto envolvimento russo no novo banco significa mais possibilidades para a Rússia, que poderá enviar especialistas para trabalharem no banco e atrair créditos e investimentos. Por exemplo, a estrada de alta velocidade Moscou-Kazan e o corredor de transportes Europa-China Ocidental receberão subsídios do AIIB, com capital total de 100 bilhões de dólares.

Os especialistas contatados pela Sputnik destacam que os três maiores acionistas do novo banco são todos membros dos BRICS e também da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês; a Índia ainda não é parte desse bloco, mas será a partir da semana que vem), o que implica mais poder para a China.

Para o economista Sergei Khestanov, o AIIB é uma "pequena alternativa ao Banco Mundial para a região asiática". Porém, a participação de países como a Austrália, Alemanha, França, Reino Unido etc., 57 países em total, demonstra uma abrangência maior. Até há entre os acionistas países que fazem parte de grupos como o G7 e outros tradicionais parceiros dos EUA.

Os próprios EUA e o Japão estão entre os ausentes. Para Fang Mingtai, da Academia das Ciências da China, esta ausência é devida à "assimetria informativa" desses países, que os impediu de ver a envergadura real do projeto.

Segundo o cientista, as acusações de falta de transparência no AIIB são "ridículas", já que o banco só começa a funcionar e madurará com o tempo.

Moeda única dos BRICS

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O Brasil considera positiva a ideia de uma moeda única dos BRICS e espera que a cúpula em Ufá (Rússia) no princípio de julho seja o início do trabalho prático do Arranjo Contingente de Reservas, disse à RIA Novosti o embaixador brasileiro na Rússia, Antônio José Vallim Guerreiro.

A Rússia passou a presidir os BRICS depois do Brasil. Como avalia o trabalho da organização durante o ano da presidência brasileira?

Nós achamos que o ano da nossa presidência foi bastante bem-sucedido, não obstante este período ter coincidido com uma fase de grande atividade política no próprio Brasil, devido ao fato de que em Outubro do ano passado se realizaram as eleições presidenciais. Na cúpula de Fortaleza foram assinados dois documentos fundamentais sobre a criação de novos mecanismos de desenvolvimento: o novo Banco de Desenvolvimento e o Arranjo Contingente de Reservas. Atualmente todos os países participantes estão ratificando e introduzindo os acordos assinados em sua legislação nacional. No que toca ao Brasil, a Câmara de Deputados e o Senado já fizeram todo o trabalho necessário e esperamos que, graças a esforços conjuntos com os nossos parceiros, a cúpula em Ufá dê início do trabalho prático das novas instituições.

 Na sua opinião, quando irão estas instituições financeiras funcionar plenamente? De que forma estes projetos irão se refletir nas economias dos países integrantes dos BRICS?

O funcionamento do Arranjo Contingente de Reservas, espero, não será assim tão necessário a curto prazo, visto que é fundamentalmente um instrumento de resolução de situações de crise e nós esperamos que não seja necessário recorrer a ele. No mundo atual a situação é muito volátil e, por isso, é muito importante para o BRICS possuir um tal instrumento como mecanismo de segurança.

No que se refere ao novo Banco de Desenvolvimento, a sua concepção é significativamente diferente do Arranjo Contingente de Reservas, se trata em primeiro lugar de um banco de investimento que irá alocar meios para o desenvolvimento primeiramente de projetos de infraestruturas. De acordo com os estatutos do banco, não são só os países membros que podem obter financiamento mas também países terceiros que exprimam o desejo de colaborar com o banco, não sendo obrigatória a filiação no próprio banco. Esperamos que a colaboração de todos os países com o banco dê um impulso positivo a todos os projetos, que são a nossa principal prioridade de investimento. Relativamente ao Brasil, já elegemos o nosso representante, que irá integrar o Conselho de Diretores. Os aspetos concretos da atividade do banco serão discutidos na cúpula de Ufá, para isso incluímos especialmente o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central do Brasil na composição da delegação oficial.

Os BRICS precisam de uma moeda comum?

De fato, esta questão já foi levantada diversas vezes e discutida nas mais diversas circunstâncias. Nós consideramos que a ideia em si é bastante positiva, uma vez que permitiria  utilizar uma moeda única nas trocas comerciais e não depender das perturbações no mercado cambial, mas a questão é muito complexa, deve ser estudada em profundidade, primeiro a nível técnico, a nível de peritos conhecedores de todos os aspetos positivos e negativos da eventual introdução de uma moeda única.

Até que ponto são verdadeiras as expectativas de que os países do BRICS alcançarão uma posição conjunta na próxima cimeira em Ufá sobre a situação na Ucrânia?

Naturalmente, a questão ucraniana não é tabu nas discussões nos BRICS, estou certo de que os líderes dos nossos países, tendo plena liberdade de expressar suas posições políticas, levantarão este tema. Para saber de que forma o farão vamos esperar pelas próprias palavras dos presidentes. Mas essa questão pode e muito provavelmente irá ser discutida, inclusive serão feitas declarações públicas. Se você se lembra, na última cúpula em Fortaleza, na declaração final dos chefes de Estado havia um parágrafo dedicado ao conflito no leste da Ucrânia, onde se dizia que este deve ser resolvido por meios pacíficos. Além disso, recorde-se que, no ano passado, a delegação ucraniana propôs um projeto de resolução na Assembleia Geral das Nações Unidas, e todos os membros dos países BRICS se abstiveram.

Que influência tem tido a crise nas relações entre a Rússia e o Ocidente sobre a cooperação econômica entre os nossos países, o comércio bilateral?

O potencial para uma maior expansão da nossa cooperação econômica sempre existiu, mesmo antes da decisão dos países ocidentais de imporem sanções. Apesar do fato de que as economias e os mercados dos nossos países têm um grande potencial, da ordem de dois trilhões de dólares, a cooperação econômica entre Brasil e Rússia precisa ser vista como bastante “jovem”, recente. As relações econômicas, comerciais ativas começaram apenas 15-20 anos atrás. Portanto, agora o nosso principal objetivo é incentivar os empresários de ambos os países a entrarem ativamente no mercado. O volume de negócios do comércio bilateral no ano passado ascendeu a 6,3 bilhões de dólares. Este é, claro, um valor pequeno considerando o potencial que nossos mercados possuem.

Planeia o Brasil expandir a lista de produtos alimentares fornecidos à Federação da Rússia? Caso sim, quais os produtos? Quando teremos no mercado russo os queijos brasileiros produzidos pelas empresas que não há muito foram autorizadas a exportar para a Rússia?

Um dos principais produtos brasileiros de exportação em todo o mundo é a carne, a Rússia  exporta fertilizantes para o Brasil. Certamente, é nosso interesse comum expandir e diversificar a lista de produtos de importação e exportação. O que nós gostaríamos de exportar para a Rússia? Produtos de alto valor agregado, agora saber quais são os que têm mais demanda aqui – isso já é uma questão para os nossos empresários, para os exportadores e importadores. O queijo, espero, irá aparecer em breve nas prateleiras russas, não poderei é dizer com precisão quando isso vai acontecer.

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