Doze anos de políticas de inclusão social, sem politização, terminaram nisso: a direita criou um clima de ódio no Brasil. O PT fugiu do confronto, mas o confronto chegou.
O guarda municipal de Macaé, a 180 quilômetros da capital carioca, Paulo Mendonça, compartilhou em sua conta pessoal no Facebook um anúncio onde pede “Stédile vivo ou morto” com recompensa de R$ 10 mil. A imagem é acompanhada de um discurso de ódio contra os movimentos sociais, imigrantes e governos progressistas. O guarda pede ajuda dos “militares de carreiras e oficiais do nosso querido Exército” para combater o dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile.Com devaneios incoerentes o guarda coloca no mesmo grupo o povo cubano, os imigrantes haitianos, o crime organizado paulistano, os partidos políticos de esquerda e os movimentos sociais. Segundo ele, há uma “ordem do PCC (organização criminosa intitulada Primeiro Comando da Capital)” para que “cubanos e a haitianos” queimem ônibus na capital paulista no domingo para desviar a atenção da manifestação contra a presidenta Dilma, e vai ainda mais longe: garante que tudo é orquestrado por João Pedro Stédile.
A perseguição a Stédile foi impulsionada, segundo o guarda, pelas amplas manifestações que o MST vem fazendo nas últimas semanas. Milhares de mulheres camponesas têm ocupado empresas multinacionais ligadas ao agronegócio em diversos estados para reivindicar direito à produção saudável e soberania alimentar.
Paulo Mendonça é enfático ao exigir um golpe militar “para defender o povo brasileiro”, o mesmo argumento usado pelos setores reacionários da sociedade durante o golpe militar de 1964 contra o presidente João Goulart. “O povo que irá às ruas (no dia 15 deste mês) está disposto ao enfrentamento, está na hora de o Exército sair dos quartéis e proteger o povo pois esta é uma das obrigações do Exército, pois estamos com grupos de paramilitares cubanos e haitianos, envolvidos nos grupos do PT e MST”.
O discurso de ódio disseminado na internet contra os movimentos sociais e os partidos de esquerda vem crescendo, sempre baseado na intolerância e ignorância. É comum ver ataques desrespeitosos na página oficial do MST. No entanto, os ataques não estão só na internet, há casos de violência física e moral por cunho ideológico. Recentemente uma família teve a casa invadida em Chapecó, no interior de Santa Catarina, por ter colocado bandeiras do MST na varanda; o humorista Gregório Duvivier foi hostilizado em um restaurante por “ser petista”. Esses são apenas casos que ganharam repercussão nacional, mas há outros.
“Contra partidos e contra tudo que está aí”, esse setor reacionário não propõe e não agrega ao cenário político, apenas ataca e desqualifica. Não há argumentos sólidos contra o MST, ou outros movimentos sociais, sequer contra os partidos políticos, apenas palavras chave que são mudadas conforme a ocasião para incitar a violência. É comum que “Venezuela”, “ditadura” e “baderneiros” sejam usados na mesma frase, normalmente seguida de um pedido de golpe militar. A ignorância e a violência desenfreada deste setor é o que alavanca as manifestações de ódio. Fruto de uma manipulação constante da mídia e de páginas de origem duvidosa na internet, eles estão prontos para ir à guerra contra tudo que se pareça com organização política ou social.
Extrema direita paga R$ 10 mil por Stédile vivo ou morto
Doze anos de políticas de inclusão social, sem politização, terminaram nisso: a direita criou um clima de ódio no Brasil. O PT fugiu do confronto, mas o confronto chegou.
Quinta, 12 de Março de 2015 às 10:37, por: CdB