Geddel é alvo de investigação interna após denúncia de Calero

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Publicado Segunda, 21 de Novembro de 2016 às 12:46, por: CdB

Temer, por sua vez, evitou o tema na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão”. Simplesmente, não disse uma palavra sobre a nova crise com Geddel, na sua equipe

 

Por Redação - de Brasília

 

Se pedisse demissão agora, o chefe do Governo ainda teria uma chance de salvar a dignidade. Se for demitido pelo presidente de facto, Michel Temer; além do emprego, arrisca-se à prisão e ao pagamento de multas. O apartamento, avaliado em cerca de R$ 2,5 milhões, esta já estaria perdido, segundo prevê a mídia conservadora: “Quem acompanha a novela da construção do La Vue Ladeira da Barra, em Salvador, e a polêmica envolvendo o caso vaticina: o empreendimento de 30 andares foi para o espaço”. O comentário é da jornalista Natuza Nery, editora do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta segunda-feira.

geddel.jpgGeddel responderá a um inquérito administrativo, caso não peça demissão nas próximas horas

Temer, por sua vez, evitou o tema na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o "Conselhão”. Simplesmente, não disse uma palavra sobre a nova crise na sua equipe. O silêncio, diante do escândalo, ofuscou a agenda que deveria ser positiva.

Um dos homens fortes de sua gestão, responsável pela articulação com o Congresso, Vieira Lima agora é alvo de uma investigação interna. Ele terá os próximos dias para comprovar se tem condições de parmanecer no cargo. Calero o acusa, abertamente, de abuso de poder, tráfico de influência e advocacia administrativa. São crimes que, uma vez comprovados pela comissão de inquérito, tornam-se puníveis com a demissão sumária, prisão e multas.

Artigo contundente

Nesta segunda-feira, em artigo intitulado A cultura resiste, viva o Iphan, o ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira aborda o assunto. “Na solidão dos honestos, o IPHAN mostra o que é integridade, coragem, grandeza e respeito à coisa pública. E, simplesmente por contraste, revela a podridão e a baixeza das motivações dessa gente que afastou uma presidenta honesta”, afirma Ferreira.

Leia, adiante, os principais trechos do artigo:

“Este episódio da demissão de Marcelo Calero do Ministério da Cultura e as graves acusações que ele mesmo fez contra o ainda ministro Geddel Vieira Lima é revelador e instrutivo. Mostra, mais uma vez, a farsa que foi o golpe dado em nome do combate à corrupção e expõe cruamente as entranhas apodrecidas do governo Temer. Também ensina que, se todas as instituições do Estado brasileiro tivessem o compromisso, a capacidade técnica e a seriedade que o IPHAN, seus dirigentes e seu corpo técnico vêm demonstrando, não teríamos chegado neste estado de barbárie institucional em que estamos.

“Há muito tempo o patrimônio histórico é motivo de cobiça e vem, sempre que há oportunidade, sendo achacado pela especulação imobiliária e por uma bandidagem que atua por dentro da política e das instituições.

“Depois de décadas de desvalorização constante, os centros históricos e suas terras vivem um momento de valorização o que tem aumentado em muito a pressão de empresários e políticos desonestos para controlarem esse órgão encarregado da proteção do nosso patrimônio ou para retirar seus poderes constitucionais. Muita gente tem olho grande no IPHAN devido à importância institucional do órgão. Na Bahia, esse assédio é ainda mais violento e dramático pela grandeza do patrimônio. Isso pode ser entendido a partir da história do edifício La Vue Barra, empreendimento que Geddel pretendia aprovar a qualquer custo e motivo da discórdia entre os dois ministros de Temer e alegada razão da demissão de Calero.

Denúncias graves

“Enquanto fui ministro da Cultura em meu segundo mandato, junto com a arquiteta Jurema Machado, então presidente do IPHAN Nacional, tomei todas as providências para impedir o avanço dessa obra irregular e para combater os desmandos na superintendência regional do IPHAN em Salvador.

“Meses depois que assumi o MinC, tomei conhecimento da eventuais irregularidades em torno desse empreendimento imobiliário na Barra. E recebi denuncias graves de desmandos por parte do superintendente local do IPHAN, Carlos Amorim.

“Determinei a criação de um grupo de trabalho dentro do próprio gabinete do ministro para apurar o caso e realizei uma série de audiências públicas, reuniões e encontros em Salvador para ouvir com atenção as queixas que vinham de todos os lados: moradores da Barra e do Pelourinho, Instituto dos Arquitetos, organizações sociais, universidade, historiadores, jornalistas, ambientalistas e diversos outros setores alarmados com o ataque organizado ao patrimônio histórico de cultural da cidade.

“As denúncias revelaram situações absurdas. Um exemplo: O Escritório Técnico de Licenciamento e Fiscalização – ETELF, encarregado de analisar os projetos imobiliários em áreas de preservação foi extinto, em outubro de 2014, pelo então superintendente do IPHAN-BA, Carlos Amorim, depois de ter dado parecer contrário à construção do La Vue Barra. Foi ele que na mesma época autorizou a demolição de casarões tombados na área de maior concentração do patrimônio histórico da cidade.

Ministério Público

“As evidências de desmandos eram tantas que, em outubro, determinei a demissão de Carlos Amorim. E o prosseguimento das apurações e dos estudos técnicos, que mais tarde revelariam até falsificações e montagens grotescas. Carlos Amorim costumava mostrar uma fotomontagem para sustentar a falsa premissa de que as poligonais de tombamento dos bens localizados na vizinhança do prédio não alcançavam a área onde se localizaria o edifício. A segunda foto que acompanha este post mostra a posição verdadeira do edifício que, em vez de se chamar La Vue, deveria ser batizado de Ma Vue, pois pretendia usurpar o direito à paisagem – que é um bem de todos – e captura-la para o deleite de uns poucos, entre eles, Geddel Vieira Lima.

“Como não poderia deixar de ser, em fevereiro de 2016 o IPHAN Nacional revogou o parecer técnico nº 0627/2014. Este, que autorizava a obra, foi assinado pelo Engenheiro Bruno Tavares, homem de confiança de Carlos Amorim. E enviou o caso para o Ministério Público. Pasmem, o Sr. Bruno Tavares viria assumir o IPHAN da Bahia nomeado por Temer, logo depois do golpe que destituiu a presidenta Dilma.

“Os ataques não se restringem ao IPHAN da Bahia. Em junho deste ano, ao recriar o MinC, depois da tentativa frustrada de extingui-lo, inspirado por Geddel e outros golpistas, Temer inventou dentro da estrutura do Ministério uma Secretaria do Patrimônio Histórico numa clara manobra para neutralizar a base técnica e esvaziar um órgão de Estado íntegro, com 80 anos de serviços prestados à memória nacional.

“Agora, pela boca de Calero, um fiel auxiliar de Temer e golpista de primeira hora, o ataque ao patrimônio histórico nacional é mais uma vez comprovado.

Especulação imobiliária

“Temer não poderá alegar que não sabia do crime cometido por Geddel, que usou suas prerrogativas de ministro para obter benefício pessoal. O ministro palaciano tem que ser imediatamente afastado e as denuncias contra ele apuradas com rigor. É preciso investigar a compra dessa cobertura que Geddel tem no prédio. Houve compra ou seria um pagamento por serviços prestados? O presidente Temer também precisa esclarecer à sociedade porque, ao ser informado por Calero, não tomou providências.

“Da mesma forma, o governo deve anular a criação da Secretaria do Patrimônio Histórico, confirmar a decisão do IPHAN e exonerar, a bem do serviço público, o atual superintendente do IPHAN da Bahia que nada mais é do que um estafeta de Carlos Amorim a serviços da especulação imobiliária.

“E, finalmente, a cidadania deve se manter alerta. O golpe tem muitas faces e tentará contornar mais esta crise na base da mentira e da manipulação. Precisamos estar atentos e fortes para enfrentar seus ardis. Estão trocando um golpista de pouca idade por uma raposa velha e felpuda. Ele virá cheio de truques e espertezas. Os dirigentes e servidores do IPHAN estão merecendo nosso reconhecimento e precisando do nosso apoio”, conclui.

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