Golpe de Estado completa 1 ano, às vésperas de uma greve geral

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Publicado Segunda, 17 de Abril de 2017 às 10:34, por: CdB

Em 12 meses, os brasileiros não viram cumprida uma só promessa daqueles que apoiaram o golpe, seja no Legislativo, no Judiciário

 

Por Redação - de Brasília

 

O golpe de Estado, em curso no país há um ano, foi lembrado nesta segunda-feira pela votação ocorrida, no Plenário da Câmara, presidida por Eduardo Cunha, hoje deputado cassado e presidiário em Curitiba. Formalmente, o processo de cassação da presidenta Dilma Rousseff foi concluído apenas em 31 de agosto, com sua saída, em definitivo, do Palácio da Alvorada. Depois da votação na Câmara dos Deputados, porém, não restava dúvida que a democracia brasileira fora interrompida.

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Waldir Maranhão, que assumiu a Câmara após o golpe de Estado, foi vaiado ao tentar conduzir votações no plenário

Em 12 meses, os brasileiros não viram cumprida uma só promessa dos golpistas empedernidos, seja no Legislativo, no Judiciário ou nos grupos mobilizados com recursos empresariais. A instabilidade política aumentou, o ambiente de ódio ganhou as ruas e a desconfiança dos agentes econômicos atirou o país ao abismo da depressão econômica. Um ano depois e ninguém mais fala das ‘pedaladas fiscais’, artifício usado para criminalizar e, em seguida, depor a economista Dilma Rousseff, eleita com mais de 54 milhões de votos.

Lava Jato

O tempo mostrou que o Tribunal de Contas da União (TCU), cujo parecer embasou o processo contra Dilma com a assinatura do ministro do TCU Augusto Nardes, está às voltas com as investigações da Operação Lava Jato. Nardes foi citado em processo no STF sob acusação de receber dinheiro para vender decisões para reduzir impostos de empresas.

Na Lava-Jato, Nardes foi citado como um dos deputados do PP que recebiam recursos desviados da Petrobrás até ser nomeado ministro do TCU, em 2005. Em seu relatório, o Tribunal confirma julgamento de atos semelhantes às tais ‘pedaladas’, em 2015, de modo diferente. Por motivo não especificado, porém, mudou sua interpretação.

Diante flagrante ilegalidade, vários juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) lavaram as mãos. Afirmaram o processo era “político”. Desgastada, publicamente, a Corte Suprema foi contestada, logo depois, pela decisão de o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) recusar a atender uma ordem judicial do próprio STF.

Confissão do golpe

Em entrevista a uma rede de TV, neste fim de semana, o presidente de facto, Michel Temer, revelou o verdadeiro motivo por trás da queda de Dilma Rousseff. Foi a negativa a Eduardo Cunha para livrá-lo do processo de cassação. De fato, Cunha acolheu o pedido de impeachment, em 2 de dezembro de 2015. Decidiu-se depois que os deputados do PT votaram pela abertura de processo contra ele no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Temer e a Odebrecht, em delação premiada de seus executivos, reconhecem ter sido este o único pecado de Dilma.

Atual líder do governo Temer, no Senado, Romero Jucá precisou ser “licenciado” do cargo de Ministro do Planejamento. O afastamento ocorreu na segunda semana após consolidado o golpe. Em uma gravação reveladora, Jucá revelou um esquema: “botar o Michel, num grande acordo nacional... Com o Supremo, com tudo”, para deter as investigações da Lava Jato.

Ruptura democrática

Ao longo do período, a prometida recuperação da economia também não apareceu. A recessão se transformou em depressão. E voltou a se agravar, sem que haja sinais sinais de ter chegado ao fim. Ao contrário do que prometera, Temer afastou a confiança dos investidores. No cenário internacional, o isolamento do governo brasileiro se intensifica. Pode ser medido no número de países que, até hoje, convidaram o mandatário pós-golpe a uma visita: Paraguai e Argentina.

Revelador, como sempre, o tempo mostra que a ruptura democrática tende a se aprofundar. E cada vez mais, caso a população não se mobilize para resgatar os direitos perdidos.

Uma greve geral está marcada para o próximo dia 28.

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